Domingo, 08 de Setembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 9 de agosto de 2024
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender uma solução pacífica para Venezuela após a reeleição de Nicolás Maduro, denunciada pela oposição e organismos internacionais como fraude. O chavismo, no entanto, não abre espaço para uma saída negociada e resiste à pressão internacional para comprovar a sua alegada vitória.
O governo foca em cobrar as atas das urnas, que até agora não foram tornadas públicas pelo Conselho Nacional Eleitoral, instituição cooptada pelo chavismo que declarou a vitória de Maduro. A resistência complica a posição de Lula, que tenta liderar o diálogo com apoio de Gustavo Petro e Andrés Manuel López Obrador, presidentes da Colômbia e do México, respectivamente. Todos são de esquerda e próximos ao venezuelano.
A posição oficial do governo de pedir por transparência e esperar as instituições venezuelanas antes de reconhecer qualquer um dos resultados divide analistas. Há quem defenda que a cautela está correta e quem diga que o País deveria ser mais firme com a ditadura chavista, que não deu sinais de colaboração ou abertura.
“A postura do Itamaraty até agora tem sido correta. Há muitos indícios de fraude, mas a postura de um País que respeita a soberania é de esperar que as provas apareçam para se posicionar”, avalia o doutor em Relações Internacionais Daniel Buarque, editor-executivo do Interesse Nacional. Ele pondera, no entanto, que o Brasil precisa impor limites.
Lula já disse que, apresentadas as atas, a oposição deve contestar os resultados na Justiça (que nunca emite opiniões contrárias ao chavismo) e que a decisão deverá ser acatada. “Essa atitude de Lula criou uma armadilha contra o próprio governo. E se as atas não forem apresentadas”, aponta o ex-embaixador Rubens Barbosa em artigo publicado no Estadão.
“Está claro que Maduro não vai apresentar atas contra si mesmo, se incriminando ou dizendo que ele perdeu”, afirma Hussein Kalout, cientista político, professor de Relações Internacionais e ex-secretário especial de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
“Ainda que apresente essas atas, elas já perderam credibilidade. Quem garante que não serão falsificadas ou fraudadas? E quem vai auditar essas atas é o próprio governo”, continua. Ele reconhece o quão delicada é a posição brasileira neste momento, mas afirma que o País deveria ter se preparado para o cenário de convulsão social e política da Venezuela.
Desde que voltou ao Palácio do Planalto, Lula demonstrou dificuldade em criticar o seu aliado de longa data. Na mesma entrevista em que defendeu a saída pela Justiça, ele disse que não via nada “grave” ou “anormal” no processo venezuelano. O Partido dos Trabalhadores (PT) foi além e reconheceu a vitória de Nicolás Maduro.
“Existe essa proximidade histórica e ideológica”, afirma Buarque ao traçar paralelos com o caso da Nicarágua. “Lula e o PT têm dificuldade (em romper com antigas alianças). Vimos no caso do reconhecimento do partido à eleição de Nicolás Maduro que tem claros problemas. É uma visão de mundo antiga, desconectada da realidade atual.”
Essa proximidade foi vista várias vezes desde o ano passado, quando Lula voltou à presidência. O petista tentou resgatar o aliado chavista do isolamento internacional que se intensificou sobre a Venezuela depois das eleições de 2018, também contestadas. O Brasil participou das discussões dos acordos de Barbados, que deveriam garantir a lisura do processo este ano, mas que têm sido desrespeitados por Nicolás Maduro desde o início.
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