Segunda-feira, 13 de Outubro de 2025

Home em foco Conheça Mauro Ribeiro, o presidente do Conselho de Medicina que receitou cloroquina e virou alvo da CPI

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Após ter entregue pessoalmente ao presidente Jair Bolsonaro um parecer favorável à prescrição de hidroxicloroquina, o médico Mauro Ribeiro, presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), encontrou por acaso o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta no aeroporto de Viracopos, em Campinas, São Paulo.

Naquele momento, Mandetta havia saído há cerca de duas semanas do governo por discordar de Bolsonaro na condução do combate à Covid-19, sobretudo na indicação do tratamento precoce contra o coronavírus, comprovadamente ineficaz.

No encontro inesperado, Ribeiro recebeu um alerta. O ex-ministro da Saúde afirmou que o presidente do CFM havia cometido um erro ao assinar um parecer favorável à prescrição de hidroxicloroquina e lhe sugeriu que consultasse estudiosos sérios para rever o posicionamento. Ribeiro tergiversou e disse que estava aguardando novas pesquisas e que, em breve, surgiriam novas evidências da suposta eficácia do medicamento.

Mais de um ano depois da conversa em Viracopos, o presidente do CFM figura na lista de sugestões de indiciados da CPI da Covid no Senado. O médico é acusado do crime de epidemia com resultado de morte por, entre outras razões, ter assinado um parecer que permitiu a prescrição médica da hidroxicloroquina, medicamento comprovadamente ineficaz.

“O conselho tem uma tradição muito longa de só decidir por aspectos científicos, é um dos pilares principais da medicina, onde ela ganha respeito. Errar ou acertar é possível, mas desde que seja feito baseado na ciência. Eu esperava que usasse as melhores práticas científicas”, afirmou o ex-ministro Mandetta.

Popularidade

Tido em alta conta pelo presidente Jair Bolsonaro e com o respaldo da diretoria do CFM, Ribeiro tem tomado decisões que abalam sua popularidade entre pares. Na mais recente, o conselho foi o único a acompanhar secretarias do Ministério da Saúde que votaram contra parecer que rejeitava o uso do Kit Covid no tratamento de pacientes acometidos pelo novo coronavírus. O voto gerou revolta entre médicos membros de sociedades científicas.

Em 2016, quando era o então vice-presidente do CFM, o conselho teve posicionamento diferente sobre a fosfoetanolamina, substância conhecida como “pílula do câncer” e cuja eficácia também não era comprovada. Na época, o CFM recomendou que médicos não prescrevessem a droga, “até o seu reconhecimento científico com base em evidências, de sua eficácia e segurança, a serem obtidas nas conclusões de pesquisas clínicas”.

“Autonomia do médico não é cheque em branco, não é para o médico fazer o que quer. É para fazer o que é melhor ao paciente, isso não se aplica ao tratamento precoce”, afirma o presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), César Fernandes.

Afinidades

As leituras sobre o que leva o presidente do CFM a seguir na rota que contraria a ciência variam. Para alguns, Ribeiro ficou refém do atraso em rever a postura do órgão, de modo que voltar atrás em relação à cloroquina, por exemplo, causaria mais problemas. Outros mencionam questões políticas e a vontade de agradar a Bolsonaro.

A proximidade de Ribeiro com o governo é expressa em nomes que passaram a compor o Ministério da Saúde, como o médico Raphael Câmara, atual secretário de Atenção Primária à Saúde e conselheiro do CFM; e Rosana Melo, que presidiu o Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul, cargo que Ribeiro também ocupou.

Formado na Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ), o médico foi diretor clínico da Santa Casa da capital sul-matogrossense. A atuação médica nas instituições de saúde de Campo Grande (MS) também lhe rendeu acusações. Em maio deste ano, o Ministério Público do estado deu início a uma ação para questionar a exoneração de Ribeiro de seu cargo de servidor da prefeitura de Campo Grande.

De acordo com a ação, inicialmente, Ribeiro havia sido demitido por abandono de cargo público após 873 faltas sem justificativa. Depois, a prefeitura alterou a demissão por “exoneração a pedido”. Segundo o MP, a medida possibilitou que Ribeiro ocupasse cargo no Conselho Federal de Medicina, o que não seria possível caso constasse de seu histórico a demissão por abandono.

A ação ainda tramita na Justiça. Mas o processo administrativo a que respondeu pelas faltas foi concluído em 2016, com um acordo para que Ribeiro devolva aos cofres públicos cerca de R$ 76.601,45 por ter ficado dois anos sem ir ao trabalho.

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