Terça-feira, 11 de Novembro de 2025

Home Colunistas COP30: Entre negociações globais e o legado amazônico, um segundo dia de aprendizados e esperança

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11 de novembro, segundo dia da COP30 em Belém. Agora mais habituado ao espaço do Parque das Cidades — onde acontece o evento oficial da ONU — consigo me orientar melhor entre os pavilhões e planejar minha rota de saída com mais tranquilidade.

Ontem, confesso, foi um desafio. Após um dia intenso de atividades, acompanhamento de debates e deslocamentos, o cansaço me venceu. A falta de informações claras sobre transporte e acessos dificultou minha volta à casa de amigos, onde estou hospedado.

Para completar, uma pancada de chuva típica da tarde amazônica veio com força incomum, provocando alagamentos em algumas áreas externas do parque, como vi pela televisão. Dentro dos pavilhões, no entanto, tudo funcionou perfeitamente: climatização impecável, acústica quase perfeita e organização exemplar.

Infelizmente, nem tudo que circula nas redes sociais reflete essa realidade. Desde ontem, uma enxurrada de desinformações tem sido espalhada por mídias e perfis mal-intencionados, com conteúdos que chegam a ser ofensivos ao povo paraense.

Belém nos recebe com hospitalidade, cultura vibrante e uma logística desafiadora, sim — como qualquer cidade que abriga um evento dessa magnitude. Mas o respeito à população local é inegociável. A COP30 é também uma oportunidade de valorizarmos a Amazônia e seus povos, não de atacá-los com preconceitos e distorções.

Voltando ao que importa: o segundo dia da conferência foi marcado pelo início das negociações formais entre líderes globais. A Blue Zone, área restrita onde ocorrem os debates diplomáticos, ferveu com propostas, posicionamentos e cobranças sobre metas climáticas mais ambiciosas.

O foco principal foi o financiamento climático e a justiça ambiental. Países em desenvolvimento exigem que os países ricos cumpram a promessa de US$ 100 bilhões anuais para ações climáticas — um compromisso que vem sendo adiado há anos. Além disso, há pressão para criar um mecanismo de perdas e danos mais ágil, que compense nações vulneráveis por desastres climáticos cada vez mais frequentes.

Outro ponto relevante foi a discussão sobre metas comuns de descarbonização até 2035, com propostas para incluir setores historicamente negligenciados, como transporte marítimo e aviação. O Brasil, como anfitrião, reforçou o papel estratégico da Amazônia na transição ecológica global e propôs a criação de um fundo multilateral para preservação florestal. A proposta foi bem recebida por diversas delegações, especialmente as latino-americanas.

A delegação americana chamou atenção: cerca de 100 representantes vieram a Belém, mesmo sem o apoio formal do governo nacional. Isso revela um aspecto importante da sociedade americana — a força dos estados, universidades, ONGs e empresas que, apesar da política federal, mantêm o compromisso com a agenda climática. É um sinal de que o povo americano, em sua diversidade, continua engajado na luta contra as mudanças climáticas.

Vários chefes de Estado e ministros do Meio Ambiente discursaram hoje, incluindo representantes da União Europeia, África do Sul e Indonésia. Mas a fala mais impactante veio dos representantes dos países insulares, que alertaram para o risco de desaparecimento físico de suas nações se o aquecimento global ultrapassar 1,5°C. Foi um momento de silêncio e reflexão no plenário — um lembrete de que estamos lidando com vidas, territórios e culturas inteiras em risco.

Sobre a China, ainda não há confirmação oficial de que o país tenha entregue suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). As NDCs são os compromissos climáticos que cada país apresenta à ONU, com metas de redução de emissões e adaptação.

A expectativa é que a China atualize suas metas até o final da semana, especialmente sobre o pico de emissões e a transição energética. O presidente Xi Jinping tem demonstrado apoio total à COP30 e às questões climáticas, o que é fundamental, considerando que China e Estados Unidos juntos são responsáveis por mais de 40% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Encerrando este segundo dia, estarei me desdobrando entre o Parque das Cidades e o Espaço Cultura Aruna, na Ilha do Combu, para o lançamento do BotoH2 — o primeiro barco 100% movido a energia limpa da América Latina. A embarcação, desenvolvida dentro da Itaipu Parquetec, é um marco da engenharia sustentável.

Movido a hidrogênio verde e energia solar fotovoltaica, o BotoH2 partirá do Porto Marine Park em direção à Ilha do Combu, onde será celebrada sua estreia. Como ativista da transição energética, este é o evento mais importante do dia.

Ao final da COP30, o BotoH2 permanecerá no Pará e será utilizado na coleta de resíduos sólidos em comunidades ribeirinhas, beneficiando diretamente quatro cooperativas de catadores. É um legado concreto para os povos da Amazônia e o início de uma nova era de tecnologias sustentáveis que unem inovação, inclusão social e preservação ambiental.

A COP30 está apenas começando, mas já deixa claro que o futuro do planeta passa pela Amazônia — e que Belém está pronta para ser protagonista dessa transformação.

Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética.

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