Segunda-feira, 23 de Junho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 22 de junho de 2025
Enxergar o futuro tornou-se uma tarefa ainda mais difícil após Donald Trump voltar à Presidência dos Estados Unidos e deslanchar uma guerra de tarifas, e piorou ainda mais com os ataques de Israel ao Irã. O Federal Reserve, sob pressão de Trump para reduzir a taxa de juros, não mudou sua política, de acordo com o comunicado emitido após a reunião de quarta. Manteve, como era esperado, os juros entre 4,25% e 4,5%, e seus membros, nas estimativas sobre o comportamento futuro da economia, sinalizaram no máximo dois cortes de 0,25 ponto até o fim do ano.O BC brasileiro, por seu lado, levou mais em conta a desancoragem das expectativas e o aquecimento da economia como um fator adicional inflacionário e decidiu elevar a Selic em 0,25 ponto percentual. Assinalou que interromperá o ciclo de alta dos juros, comprometendo-se, porém, a agir de acordo com o que os dados indicarem.
As estatísticas recentes são dúbias para os dois bancos centrais, embora coloquem mais enigmas para o Fed. Ainda que Trump tenha estabelecido uma trégua nas tarifas, elas poderão subir em 9 de julho. A taxação pode dobrar para a Europa e tornar-se proibitiva para os países asiáticos quando o presidente americano decidir o que vai fazer com sua “reciprocidade”. Por enquanto, os efeitos do aumento do custo das importações sobre os preços domésticos americanos são quase insignificantes, mas certamente subirão nos próximos meses. A inflação ao consumidor em doze meses encerrados em maio foi de 2,4%, ligeiramente maior que os 2,3% de março. O núcleo dos gastos pessoais de consumo, medida preferida do Fed, declinou de 2,8% em abril para 2,6% em maio. Ainda está um pouco distante da meta de 2%.
O fôlego da economia americana é uma dúvida. Foram as importações antecipadas, para fugir do aumento das tarifas ameaçado por Trump, que fizeram o PIB americano cair 0,2% no primeiro trimestre. A reversão deste movimento agora poderá fazer com que o PIB cresça muito mais no segundo trimestre – os dois indicadores são excepcionais e não indicam a real temperatura da economia. O resultado final será uma desaceleração. Os membros do Fed projetam crescimento de 1,4% em 2025, praticamente a metade do ano anterior. O ritmo de longo prazo, estimado em 1,8%, será atingido em 2027. As projeções para o núcleo de inflação dos gastos pessoais de consumo subiram de 2,8% para 3,1% no ano corrente, mas terão bom declínio no ano que vem (2,4%) e chegarão à meta em 2027. O desemprego, que continua muito baixo, quase não se alterará, atingindo 4,5% este ano e 4,4% em 2027, um pouco acima do que o Fed agora considera a tendência de longo prazo, de 4,2%.
Por maior que seja a algazarra criada por Trump em relação às tarifas, os membros do Fed mudaram muito pouco suas perspectivas. Continuam estimando que possa haver dois cortes de 0,25 ponto percentual na taxa de juros, que continuarão em terreno restritivo por mais tempo. Estima-se um corte (3,6%) em 2026 e apenas mais
um em 2027, aproximando-se da taxa de longo prazo, de 3%.
Jerome Powell, presidente do Fed, modulou o impacto das tarifas. Apontou que elas podem provocar um pico de inflação, com os preços retornando a seu nível normal, sem que para isso seja necessário elevar os juros, algo que não está na cogitação do banco agora. Indicou também que a desaceleração dos EUA, vista pelos dados de
hoje, não deve ser preocupante. Mais uma vez reiterou que o BC americano considerará a distância que o emprego e a inflação – os dois mandatos do Fed – estão de suas metas para agir, seja para elevar os juros, no caso de inflação acima do esperado, seja para baixá-lo, no caso de um agravamento abrupto do desemprego.
Para o BC brasileiro, o cenário interno parece muito mais definido que o externo. Embora em desaceleração suave, a economia mostra mais fôlego do que seria de se esperar dado o alto nível contracionista da política monetária. O mercado de trabalho continua apertado e o consumo, em boa forma. A política fiscal fora de prumo compõe um quadro negativo que favorece a desancoragem da inflação, que persiste. O cenário externo, extremamente instável, tem roubado ímpeto da inflação, seja pela redução dos preços das commodities, diante da perspectiva de menor
crescimento global, seja pela perda de força do dólar.
O balanço de riscos, então, aponta ainda ligeiro pendor para a alta da inflação, quando se considera a inflação de serviços e a persistência de expectativas que continuam afastadas da consecução da meta de 3%. Como a taxa de juros real é muito elevada (9%) e seus efeitos ainda se farão sentir plenamente, o Copom decidiu elevar em 0,25 ponto a Selic e interromper o ciclo de alta, assinalando que não hesitará em voltar a aumentar os juros caso seja necessário. A perspectiva, já apontada antes da reunião, será de juros altos por um período prolongado de tempo. As informações são do Valor Econômico.
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