Sexta-feira, 03 de Maio de 2024

Home em foco Coronavírus mostrou que várias nações avançadas estão bem mais frágeis do que se acreditava

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O assunto do momento é, além do teto de gastos, a CPI da Covid. Ocorre que a pandemia também se presta à descoberta de fatos relevantes, ainda que não intuitivos. A covid-19 atingiu o planeta no qual vivem 7,8 bilhões de pessoas. Cerca de 15% delas estão em países desenvolvidos, adotando a classificação do Fundo Monetário Internacional.

Ali, as condições de vida são bem superiores às dos emergentes (onde vivem os demais 85%), o que inclui sistemas de saúde muito mais eficientes. Quando a crise atingiu proporções mundiais, era de se esperar que o impacto humanitário e econômico nas nações mais ricas fosse significativamente menor.

Acontece que, ao final de setembro de 2021, quase metade dos casos e dos óbitos registrados no mundo tinham acontecido em economias avançadas. Pesquisas com amostragem de população feitas para tentar corrigir o problema da subnotificação em nações mais pobres encontraram alguns desvios consideráveis na Europa Oriental e na Ásia Central, porém, não suficientes para alterar o quadro geral.

O choque adverso foi proporcionalmente mais intenso em Nova York, não em Nova Deli; em Londres, ao invés de Luanda. Em meados de outubro a média móvel de sete dias de mortes associadas ao coronavírus era de 1.630 nos Estados Unidos e de 320 no Brasil, embora a população lá seja pouco mais de 50% superior à nossa.

Mas há também a dimensão econômica. Antes da pandemia, os países emergentes já cresciam a taxas bem superiores às das nações mais ricas. Quando sobreveio o choque da covid-19 em 2020, o produto interno bruto real do conjunto dos países menos desenvolvidos caiu muito menos (-2,1% versus -4,5%, respectivamente) e deverá recuperar-se de forma mais vigorosa em 2021 (+6,4% versus +5,2%), segundo as estimativas mais recentes do FMI no relatório World Economic Outlook.

Grande parte da perturbação nos mercados financeiros globais resulta da constatação de que várias nações avançadas estão bem mais frágeis do que se acreditava. Daí não se segue que todos os países emergentes estão em situação ainda pior. Na verdade, os recentes acontecimentos devem acelerar a tendência secular de perda de importância relativa das economias mais ricas frente às menos desenvolvidas. Em 1980, estas últimas somavam 37% do PIB mundial, ajustando pela paridade do poder de compra das moedas. Neste ano, deverão somar 58%.

Para além da CPI da Covid e do teto de gastos, esta transformação terá profundas, e interessantes, implicações para o Brasil.

2050

Os impactos sociais e emocionais da pandemia de covid-19 são amplamente conhecidos, divulgados e podem ser sentidos mais corriqueiramente no Brasil. Mas qual a repercussão na economia brasileira das milhares de vidas perdidas? Pesquisadores da Rede Clima integraram dados epidemiológicos a um modelo econômico e identificaram que os impactos econômicos das mortes na pandemia no País poderão ser observados até 2050.

“Uma pessoa que faleceu aos 50 anos teria pelo menos mais 25 anos, provavelmente, de idade econômica ativa, mais um período de aposentadoria. Toda essa renda futura foi perdida”, aponta o coordenador do grupo, Edson Domingues, da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Nesse sentido, ele acrescenta que também há perdas em domicílios com morte de aposentados. “No Brasil, há vários grupos familiares que dependem dessa renda”.

Na modelagem econômica utilizada, o total de mortes causadas pela covid-19 foram determinantes para entender os efeitos sobre a economia. Quando o modelo foi rodado, o Brasil tinha cerca de 400 mil mortes. Hoje, o total ultrapassa 607 mil. Foram utilizados ainda dados sobre rendimento médio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). A análise envolveu ainda parâmetros médios de expectativa de vida, por região e grupos etários.

Em 2050, segundo as projeções da pesquisa, os impactos mais expressivos sobre o Produto Interno Bruto (PIB) no longo prazo poderão ser percebidos no Amazonas (-1,38%) e no Acre (-1,35%). Em seguida estão Rondônia (-1,2%) e Roraima (-1,1%). Por outro lado, alguns estados conseguirão se recuperar mais rapidamente no longo prazo: Pará (0,34%), Tocantins (0,28%), Piauí (0,14%), Maranhão (0,12%), Minas Gerais (0,09%) e Espírito Santo (0,03%).

“A pandemia teve impacto, obviamente, de curto prazo, com o fechamento do comércio, da indústria, de serviços, a perda dos deslocamentos, perdeu-se produção e emprego nos anos de 2020 e 2021. Isso é notório. Mas esse impacto de longo prazo, das fatalidades, é uma coisa pouco falada e muito pouco estudada”, explica o professor da UFMG.

Ele destaca que a análise permite entender que, se mortes tivessem sido evitadas, os impactos econômicos de longo prazo seriam reduzidos.

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