Terça-feira, 11 de Fevereiro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 30 de dezembro de 2021
Depois de dois anos em ritmo forte, o crédito vai desacelerar em 2022. A atividade econômica fraca, a inflação – que corrói a renda –, a forte alta dos juros e o fim dos programas emergenciais tendem atenuar a demanda, tanto para empresas quanto para famílias.
O Banco Central (BC) prevê crescimento de 9,4% no estoque de crédito no ano que vem, depois de uma expansão de 15,5% em 2020 e uma alta prevista de 14,6% neste ano. A projeção da autoridade é bem mais otimista que a mediana dos analistas do setor privado, que indica expansão de 6,6% em 2022, segundo o último questionário pré-Copom. É também maior que a expectativa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que na sua pesquisa de economia bancária colhe do setor uma previsão de aumento de 7,3% no saldo.
“As projeções atuais levam em consideração um cenário mais desafiador para a atividade econômica, com condições financeiras mais restritivas, porém incorpora as surpresas positivas recentes na evolução nominal do crédito e uma inflação maior esperada para 2022”, afirmou o Banco Central no Relatório de Inflação divulgado neste mês.
Na ocasião, o regulador até mesmo aumentou sua projeção para 2022, que era de alta de 8,5%, apontando esses fatores como justificativa. Para o ano que vem, a autoridade monetária estima crescimento de 1% no PIB e de 4,7% na inflação medida pelo IPCA.
Apesar da desaceleração da atividade, alguns fatores têm levado os banqueiros a acreditar que 2022 não será tão aquecido, mas também não será ruim.
Um deles é que ainda há um efeito da reabertura da economia que favorece o crédito a pessoa física, mesmo que ele seja limitado pelo endividamento elevado das famílias e pela inflação. Linhas mais arriscadas, como cheque especial e rotativo do cartão de crédito, por exemplo, ainda estão longe de retomar os patamares pré-covid. As modalidades rotativas chegaram a representar 8,7% da carteira de pessoa física com recursos livres, e atualmente estão em 6,9%, segundo dados da Febraban.
“A gente espera sim uma desaceleração do crédito, mas um pouco menos pessimista do que média. Os números correntes estão vindo melhores que o esperado. As linhas mais arriscadas estão muito abaixo do patamar pré-pandemia. O crescimento delas mostra que os bancos estão retomando concessões, tendo mais apetite”, diz Rubens Sardenberg, diretor de economia, regulação prudencial e riscos da Febraban.
Outro fator é o esfriamento do mercado de capitais, que tende a ocorrer num
ambiente de juros mais altos e de corrida eleitoral. Com isso, é esperada uma migração temporária das grandes empresas ao crédito bancário para se financiar. “O ano vai ser desafiador para mercado de capitais, de desaceleração da economia, mas o banco está otimista e confiante no crescimento do crédito”, afirmou o vice-presidente de atacado do Bradesco, Marcelo Noronha.
Por outro lado, o efeito positivo dessa migração não deve ser suficiente para
compensar o baixo crescimento econômico e a volatilidade eleitoral, fatores que desestimulam investimentos.
Ao mesmo tempo, linhas de crédito e outros programas emergenciais voltados a pessoas jurídicas saíram de cena. “O que puxa demanda de PJ é crescimento da atividade, e isso nós não vamos ter”, disse Everton Gonçalves, superintendente da assessoria econômica da Associação Brasileira de Bancos (ABBC).
A entidade prevê crescimento de 7% a 9% no estoque de crédito do país no ano que vem, mas Gonçalves ressalva que o cenário é complexo e é difícil fazer uma previsão.
“Temos atividade fraca, um juro que ninguém sabe até onde vai, inflação elevada e um quadro cada vez mais claro de aperto monetário no exterior. Qualquer previsão está sujeita a muitas trovoadas pelo caminho.”
Por enquanto, no balanço de riscos a leitura feita pelos bancos é positiva.
Durante a divulgação do resultado do terceiro trimestre, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Jr, disse ver um cenário macroeconômico menos favorável, mas ainda assim será possível expandir a carteira de crédito em mais de 10%. “Talvez não cresça os 16% deste ano, mas certamente será acima de dois dígitos”.
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