Segunda-feira, 13 de Maio de 2024

Home Economia Crescimento surpreendente do PIB do Brasil em 2023 tem seu lado negativo, lembra o ex-dirigente do Banco Central

Compartilhe esta notícia:

O ex-diretor do Banco Central, Alexandre Schwartsman avalia que a economia brasileira pode passar a enfrentar problemas com a inflação se mantiver um ritmo de crescimento superior ao seu Produto Interno Bruto (PIB) potencial. “Se a gente continuar crescendo 3% ao ano (o PIB cresceu 2,9%), vamos ter alguma dificuldade com pressão inflacionária”, afirma.

Nas contas de Schwartsman, a capacidade de o País crescer sem gerar inflação está entre 1% e 1,5%. Para 2024, ele espera um crescimento de 1,5% a 2%.

“Quando tem uma economia que está crescendo sistematicamente além do seu potencial, você vai, em algum momento, entrar no conflito de como é que eu entrego a minha taxa de inflação na meta”, diz Schwartsman. “Essa discussão ainda está muito incipiente no País, mas, em algum momento, a gente vai ter de olhar para isso.”

A seguir, os principais trechos da entrevista com o ex-diretor do Banco Central.

1. Qual é a avaliação que o sr. faz da economia em 2023? O resultado acabou sendo muito melhor do que a gente imaginava, mas com um perfil temporal claro. Foi muito forte na primeira metade do ano, em particular no primeiro trimestre, e foi um segundo semestre fraco. O peso do setor agro no PIB, sozinho, responde praticamente por um ponto porcentual da surpresa (de crescimento). E entre outras coisas, tivemos o bom desempenho da balança comercial, com a safra gigantesca. A gente teve também, não tanto no primeiro trimestre, mas dali para frente, um desempenho bastante forte do consumo.

2. E o que explica o bom desempenho do consumo? Está muito ligado a uma política fiscal extraordinariamente expansiva que houve no ano passado. Foi uma expansão na casa de 2% do PIB e, particularmente, forte no lado das transferências. Houve o aumento do antigo Auxílio Brasil, que virou Bolsa Família, teve o aumento do salário mínimo, impactando a Previdência.

3. E daqui em diante? Dificilmente vai haver um desempenho similar no setor agropecuário. A perspectiva de quem entende do assunto é de um pequeno encolhimento do PIB agrícola este ano. Não vai ser um ano ruim, mas não vai ser um ano tão bom como 2023. E tem uma outra parte da história que é a mais complicada para entender, mas é a mais importante. Se você for olhar o que está acontecendo com o PIB do Brasil, a gente vem seguramente crescendo mais rápido que o nosso potencial.

4. E o que explica isso? A taxa de desemprego vem caindo sistematicamente. Quando a economia cresce mais rápido do que o seu potencial, a taxa de desemprego naturalmente cai. E não tem nada de profundamente errado nisso se você sai de uma taxa de desemprego elevada. E saímos de uma taxa de desemprego elevada por causa da pandemia. Havia um montante de recursos ociosos na economia que a gente foi colocando para trabalhar. Você joga mais demanda via política fiscal, o consumo cresce e coloca mais gente para trabalhar. Maravilha. Você vai se aproveitando disso. A questão principal nessa história diz respeito à sustentabilidade. Você não pode ter a taxa de desemprego caindo indefinidamente. Tem um nível a partir do qual, se a taxa de desemprego ficar muito abaixo, a gente começa a ver algumas tensões inflacionárias subindo, aparecendo. E acho que já tem algumas evidências a esse respeito.

6. E de quanto deve ser o crescimento este ano? Eu vejo desacelerando. Deve ser de 1,5%, 2%. Alguma coisa nesse intervalo parece razoável, e a gente precisa ver como é que o mercado de trabalho se comporta. Se a taxa de desemprego continuar caindo, a gente vai ter um problema. Se a taxa de desemprego estabilizar num patamar dessazonalizado, um pouco abaixo de 8%, a gente pode ter uma chance.

7. A capacidade de o Brasil crescer sem gerar inflação é muito baixa. O sr. tem alguma estimativa? A minha estimativa é de 1% a 1,5%. Tem toda uma discussão mais complicada. Muita gente boa diz que pode ter havido uma elevação da capacidade de crescimento do PIB potencial. Eu tentei explorar isso de uma forma estatística, quantitativa, mas não acho evidências a esse respeito. Pelo contrário. Parece ter caído um pouco. Mas tem uma discussão acontecendo de que teria havido algum crescimento do PIB potencial por força de reformas que foram adotadas no período Temer, no período Bolsonaro. Eu acho que ainda não tem uma evidência muita sólida apontando nesse sentido. Tem de esperar os dados acontecerem para ver se a tese faz sentido. Eu diria que, hoje, não me parece fazer muito sentido.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Economia

Seleção Brasileira: Dorival pede um voto de confiança
Uso de valor doado pela família de Neymar a Daniel Alves, condenado por estupro, vira alvo da Justiça da Espanha
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa News