Segunda-feira, 20 de Janeiro de 2025

Home em foco Crianças ucranianas que vieram ao Brasil tentam recompor suas vidas

Compartilhe esta notícia:

Quando Galyna deixou Donetsk com seus três filhos não imaginou que hoje estaria no Brasil, vendo as crianças frequentarem um colégio no interior de São Paulo. Mas a família foi clara ao optar pelo destino: “O mais longe da guerra”.

Com outros 44 ucranianos – crianças, adolescentes e mulheres –, eles chegaram ao País por meio de uma parceria da Igreja da Cidade de São José dos Campos e receberão auxílio por um ano. “Continuo dando aulas para meus alunos em Donetsk. É o mínimo que posso fazer para tentar mantê-los com certa normalidade”, disse Galyna, falando em russo.

Seus filhos, Ivan, de 11 anos, Mykailo, de 12, e Ksenia, de 16, conversam com os amigos e tentam entender o básico da comunicação em português enquanto assistem a aulas em um salão da igreja. A cada cor que os alunos acertam no nosso idioma, eles comemoram.

“A gente gosta muito do Brasil, da escola, dos professores e dos amigos. Amamos a atenção que os colegas nos dão. Claro que é difícil, porque não sabemos o português, mas estamos estudando e logo ficará melhor”, conta Anastasia Shevchenko, de 15 anos, que chegou com o irmão Illia, de 11 anos, e a mãe, Iryna, de 46. A família saiu de Kharkiv e deixou muitos parentes para trás.

A cada segundo dos dois meses da guerra, ao menos uma criança precisou deixar sua casa. Até o dia 1º de maio, 2,7 milhões de crianças ucranianas haviam fugido e 2,8 milhões estavam deslocadas internamente. “Mais de 4,5 milhões de crianças tiveram de fugir desde que a guerra começou”, disse James Helder, porta-voz da Unicef na Ucrânia.

Iryna vivia com o marido e os filhos em um prédio com apenas uma entrada e saída. Quando os ataques se intensificaram, Illia chorava todo dia e eles se mudaram para a casa da sogra dela. De lá, o marido decidiu que eles precisavam partir.

A maior parte dos refugiados vai para países vizinhos, mas muitos continuam se movendo. Até 18 de março, o Brasil tinha recebido 894 ucranianos, segundo a Polícia Federal. O País concedeu 74 vistos e 27 autorizações de residência humanitária entre 3 e 31 de março.

As dez crianças que estão em São José dos Campos vieram sem os pais. Algumas mantiveram o contato com eles pela internet. “Uma família recebeu a notícia da morte do pai quando já estava aqui, foi muito triste”, contou a ministra da igreja, Carmen Rangel.

Uma lei na Ucrânia proíbe que homens em idade de combate saiam do país. Por isso, 90% dos refugiados são mulheres e crianças. “A maioria teve de deixar os pais na Ucrânia. Então, o trauma é forte. O mundo delas virou de cabeça para baixo”, afirma Helder.

Muitos aviões

As aulas de português foram o início da adaptação. As crianças e adolescentes caminham entrosados, conversando e rindo, enquanto a aula não começa. As lições são vistas como a porta de entrada de uma nova vida. “Lá (na Ucrânia) eu chegava para a aula, sentava e escrevia. Aqui, posso levantar, ir ao banheiro, comer no intervalo. Estou gostando”, afirma Anastasia.

Mas o medo da guerra acompanha a todos, mesmo a distância. “Aqui passam muitos aviões. Um dia, quando um passou e fez um barulho, um menino começou a chorar, com medo de que fosse uma bomba”, conta Carmen.

O caminho para chegar ao Brasil foi árduo e ainda é um assunto tabu. “A maior necessidade das crianças ainda é a segurança. Centenas foram mortas. Não pensamos em quanta dor esses pais e avós vão carregar para sempre”, diz Helder.

Até 12 de abril, 148 crianças foram mortas e 233 feridas na guerra. A Unicef diz que 3 milhões precisam de ajuda humanitária e 3,6 milhões de apoio educacional ou emocional.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de em foco

Saiba como se inscrever e pagar o INSS como autônomo
Juros altos: conheça três grandes efeitos dos aumentos das taxas no Brasil e no mundo
Deixe seu comentário
Baixe o app da RÁDIO Pampa App Store Google Play

No Ar: Pampa Na Tarde