Domingo, 28 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de dezembro de 2025
Quando, há três anos, o ex-governador e senador Camilo Santana (PT-CE) foi nomeado ministro da Educação, vindo de sua bem-sucedida experiência na gestão educacional cearense, abriu-se uma janela de esperança para que o Brasil, enfim, corrigisse um erro histórico: a negligência com o ensino básico. Afinal, o Ceará é referência nacional na alfabetização de crianças e na melhoria dos índices de aprendizagem. Agora, no último ano do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o MEC de Camilo e o governo petista podem ao menos se orgulhar de ter devolvido à pasta algum protagonismo técnico e institucional, como uma das poucas ilhas de qualidade em meio à mediocridade em geral da atual gestão. Sobretudo quando se compara aos anos de sombras vividos pelo ministério sob Jair Bolsonaro.
No entanto, boas intenções, diagnósticos corretos e retórica moderada não produzem milagres na educação. Menos ainda no último ano de governo, razão pela qual já se pode admitir que, apesar de iniciativas relevantes sob o comando de Camilo Santana, Lula encerrará seu terceiro mandato sem resolver uma equação fundamental para o desenvolvimento do País: a deficiência crônica nos níveis de aprendizagem de matemática.
O cenário era de terra arrasada em dezembro de 2022, fim do governo Bolsonaro, quando este jornal, com base nos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, alertava para a urgência de repensar o ensino de matemática no Brasil (ver o editorial O País reprovado em matemática, 19/12/2022). Levou quase três anos para que o atual governo lançasse o Compromisso Nacional Toda Matemática, iniciativa anunciada em outubro passado.
Os números continuam alarmantes: só 5% dos concluintes do ensino médio nas escolas públicas atingem níveis adequados de aprendizagem. Levantamento do próprio MEC junto de 60 mil profissionais de educação revelou que a insegurança docente para ensinar matemática é um dos principais gargalos, agravado pela falta de formação adequada, escassez de materiais didáticos, sobrecarga de trabalho e lacunas acumuladas desde a educação infantil.
A boa novidade do programa é que, pela primeira vez, a matemática terá metas específicas de aprendizagem, que podem ser incorporadas ao novo Plano Nacional de Educação (PNE). A má notícia é que o atraso é grande e os resultados, inevitavelmente, levarão tempo. Há limites evidentes para o que pode ser alcançado até o fim de 2026. Parte das medidas – como a aprovação e implementação do novo PNE – depende do Congresso e tende a se arrastar em meio ao calendário eleitoral. Na educação, bons resultados exigem políticas consistentes, execução rigorosa, financiamento estável e continuidade, algo que historicamente tem faltado ao País.
Enquanto políticas estruturais ganham forma, a lacuna de aprendizagem persiste, penalizando milhões de estudantes que chegam ao ensino médio sem bases sólidas em matemática e língua portuguesa – condições mínimas para qualquer projeto de desenvolvimento. Não há como falar em desenvolvimento sustentável enquanto jovens deixam a escola sem saber calcular uma porcentagem ou interpretar um problema simples.
O atraso brasileiro em matemática não é mero recurso retórico: traduz-se em impactos diretos na economia e na soberania nacional. Países com desempenho robusto em matemática formam mais profissionais aptos a atuar em ciência, tecnologia e engenharia, áreas centrais da inovação. Os resultados do Pisa, em que o Brasil figura entre os piores colocados, evidenciam o descompasso entre nossa educação básica e as competências exigidas no século 21. Sem fluência em raciocínio lógico desde cedo, tornase improvável avançar em leitura crítica e compreensão textual, gerando baixa produtividade, menor capacidade de inovação e perpetuação de desigualdades.
Antes tarde do que nunca, reza o clichê. Mas, entre atrasos e ambições modestas, o País segue ficando para trás. Que, ao menos, as diretrizes agora anunciadas se convertam em compromissos públicos estáveis, monitorados e com responsabilização clara por resultados. Só assim haverá chance de reduzir um atraso que hoje mais se assemelha a um “custo Brasil” educacional do que a um sistema capaz de preparar seus jovens para o futuro. (Opinião/O Estado de S. Paulo)