Terça-feira, 01 de Julho de 2025

Home em foco Demora para invasão de Gaza cria atrito entre cúpula militar e governo de Israel

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Quando Israel convocou mais de 300 mil reservistas, impôs um “cerco total” a Gaza e começou uma campanha intensa de bombardeio — que ainda não cessou, 18 dias após o ataque terrorista lançado pelo Hamas — todas as movimentações em solo e declarações de autoridades políticas apontavam que uma invasão por terra do enclave palestino estava na iminência acontecer. Sem nenhum avanço comparável à promessa inicial, a demora para a operação terrestre em larga escala se tornou um foco de tensão entre a cúpula militar e do governo israelense, enquanto pressões internas e externas não param de chegar à medida que o conflito se aprofunda.

O mal-estar entre as Forças Armadas e o gabinete do premier israelense, Benjamin Netanyahu, excedeu o círculo interno e chegou a público por meio de declarações públicas à imprensa do país. No domingo (22), o porta-voz militar Daniel Hagari afirmou, durante uma entrevista televisionada, que o Exército esperava apenas pela ordem da liderança política para invadir Gaza, dando a entender que do ponto de vista operacional, tudo estaria pronto. Fontes militares citadas em matérias de jornais locais também demonstraram insatisfação com a espera, em uma frente de preocupação para o governo.

A pressão não passou despercebida e ecoou entre a classe política, alinhada em uma posição que beira a unanimidade com relação à eliminação do Hamas. O líder do Shas, Arie Deri, aliado antigo de Netanyahu (com quem divide uma série de pendências com a justiça israelense) e que participa como observador do gabinete de guerra formado após o ataque terrorista, saiu em defesa da liderança política e empurrou parte da responsabilidade pela falta de uma resposta mais rápida por terra a um despreparo das Forças Armadas.

“Todos concordam com o objetivo, que é que o Hamas não continue a existir, não em um contexto governamental ou operacional”, disse Deri em uma reunião do Shas no Knesset, de acordo com o registrado pelo Times of Israel. “Mas é preciso notar que não havia um plano [para uma invasão terrestre] anteriormente. Estamos preparando isso em meio aos combates. Não é como se o Exército estivesse pronto e o escalão político só precisasse decidir.”

A fala de Deri coincidiu com relatos da mídia americana de que o Pentágono teria enviado para Israel o general James Glynn, especialista em guerra urbana e que atuou no combate ao Estado Islâmico e serviu em Fallujah, no Iraque, para ajudar as forças israelenses a planejar a próxima fase da guerra, que seria a ocupação terrestre de Gaza. Representantes do presidente americano, Joe Biden, teriam demonstrado preocupação com o fato dos de Israel não ter objetivos militares alcançáveis em Gaza e com as Forças de Defesa de Israel ainda não estarem preparadas para lançar uma invasão terrestre com um plano que possa funcionar.

O jornal americano The New York Times mencionou conversas telefônicas entre o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd J. Austin III, e o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, no qual o americano teria alertado sobre a necessidade de uma análise cuidadosa de como os militares poderiam conduzir uma invasão terrestre de Gaza, onde o Hamas mantém intrincadas redes de túneis sob áreas densamente povoadas.

Internamente, o mal-estar entre governo e Forças Armadas em torno da invasão ficou ainda mais evidente quando Netanyahu, Gallant, e o chefe do Estado-maior, o tenente-general Herzi Halevi, emitiram um comunicado conjunto incomum, para afirmar a harmonia entre os setores político e militar. No texto, os três disseram estar “trabalhando em estreita e plena cooperação, 24 horas por dia, para levar o Estado de Israel a uma vitória decisiva” e professando “confiança total e mútua” entre eles. Depois, apareceram juntos antes de uma reunião de segurança e fizeram mais declarações – sem dar qualquer indício do momento da invasão terrestre.

Cautela e pressão 

Apesar do aceno de união, apoiadores de Netanyahu iniciaram uma campanha por cautela. Um vídeo publicado anonimamente nas redes sociais, atribuído aos partidários do premier, pede que a vida dos soldados esteja em primeiro lugar, pedindo mais tempo de preparação e que a Força Aérea destrua o traiçoeiro sistema de túneis do Hamas antes que as tropas entrem em Gaza — embora os bombardeios frequentes venham sendo amplamente criticados por autoridades internacionais pelo “dano colateral” a civis.

Para analistas, se o pedido atribuído aos apoiadores do premier fosse atendido, poderia significar que a invasão por terra jamais aconteceria, já que seria quase impossível destruir todos os túneis com bombardeios.

“É um equilíbrio delicado entre a vantagem de deixar a Força Aérea fazer o que faz melhor e quanto tempo se pode atrasar a ofensiva terrestre”, disse Ehud Yaari, do Instituto de Política para o Oriente Próximo, baseado em Israel. “Quanto mais túneis a Força Aérea destruir, mais fácil será para as forças no terreno.”

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