Sexta-feira, 12 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 12 de dezembro de 2025
A COP30, realizada em Belém, já entrou para a história como um dos momentos mais decisivos da agenda climática global.
No decorrer, esta semana aconteceu um evento de debates em São Paulo, que reuniu executivos da Vale, Electrolux, Santander e EY, ao lado da CEO da COP30, Ana Toni, deixou claro um ponto de consenso: a transição climática só escala se a conta fechar.
Essa frase, repetida com convicção, sintetiza o dilema central de nosso tempo — como conciliar urgência ambiental com viabilidade econômica.
Ana Toni brilhou como liderança incontornável. Sua capacidade de traduzir a complexidade da transição em linguagem acessível e pragmática reforça o papel do Brasil como protagonista na diplomacia climática.
Ela não apenas conduziu debates, mas mostrou que a COP30 é mais que um evento: é um chamado à ação.
Vale lembrar também da importância do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, cuja experiência diplomática e capacidade de articulação foram fundamentais para conduzir o processo e dar legitimidade às negociações.
Ainda que não tenha atingido todos os objetivos, sua liderança foi decisiva para que o Brasil pudesse exercer protagonismo global.
Financiamento climático e escopo 3: o peso das empresas
O financiamento climático foi um dos temas centrais. Bancos e investidores, como o Santander, reforçaram que risco climático é risco financeiro.
Sem crédito verde, garantias e instrumentos robustos, não haverá escala. É nesse ponto que entra o conceito de escopo 3: as emissões indiretas de toda a cadeia de valor, desde fornecedores até o uso final dos produtos.
Para empresas como a Vale ou a Electrolux, lidar com o escopo 3 significa repensar radicalmente seus modelos de produção e consumo.
A mensagem dos empresários foi clara: sem engajamento corporativo, não haverá transição. O setor privado é peça-chave, tanto no Brasil quanto no mundo.
A transição climática não é apenas uma pauta de governos ou ONGs; é uma transformação que exige que empresas assumam responsabilidades e liderem mudanças.
Ética, filosofia e o capital verde
Mas há uma dimensão que transcende balanços e métricas. O chamado “capital verde” busca conciliar crescimento com sustentabilidade, mas carrega as contradições do capitalismo. Se por um lado gera inovação e prosperidade, por outro perpetua desigualdades e pressiona os limites da natureza.
Ailton Krenak nos alerta para o risco de reduzir a Terra a uma variável contábil. Para ele, não basta pintar de verde um sistema que continua a explorar.
Sua crítica ecoa como um lembrete de que a transição climática não pode ser apenas técnica; precisa ser cultural e espiritual. Hans Jonas, com o “Princípio Responsabilidade”, reforça que temos o dever ético de preservar a vida futura.
Edgar Morin nos lembra da complexidade: homem e natureza são inseparáveis, e qualquer tentativa de dissociá-los é ilusória.
Nesse mosaico de reflexões, é impossível não destacar José Lutzenberger, pioneiro do ambientalismo brasileiro. Seu pensamento unia crítica contundente ao modelo predatório com pragmatismo de ação: fundou as entidades AGAPAN e Fundação Gaia, pressionou governos e empresas, mas também buscou soluções práticas para agricultura sustentável e manejo ecológico.
Lutzenberger entendia que não bastava denunciar; era preciso propor alternativas concretas. Sua visão antecipou debates que hoje dominam a COP: como alinhar economia e ecologia sem cair em discursos vazios.
Ele é exemplo de que ética e pragmatismo podem caminhar juntos, e que a transição climática exige tanto consciência quanto ação prática.
Essa tensão entre pragmatismo econômico e consciência ecológica é o coração do debate. O capitalismo pode ser ferramenta de transição, mas dificilmente será suficiente sem uma mudança profunda de valores.
Transição climática: mais que energia
A transição climática não se resume à troca de combustíveis fósseis por renováveis. É uma transformação estrutural que envolve padrões de consumo, modelos de negócios e até valores sociais.
É civilizatória. E, como lembraram os executivos, só será possível se houver equilíbrio entre custos e benefícios.
Fechamento
Essa reflexão é intencional. A COP30 mostrou que estamos diante de uma missão difícil, mas inadiável. Pessoas como Ana Toni e André Corrêa do Lago tiveram a responsabilidade de articular interesses diversos e apontar caminhos viáveis.
A solução não virá de um único ator, mas da soma de esforços entre empresas, governos, sociedade civil e comunidades tradicionais. Se a transição climática só escala quando a conta fecha, é igualmente verdade que ela só se sustenta quando a consciência desperta.
* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética