Quinta-feira, 21 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 21 de agosto de 2025
A desarticulação do governo Lula (PT) no Congresso chegou a tal ponto que conseguiu quebrar uma máxima de Brasília: a de que se sabe como começa uma CPI, mas não como ela termina.
Nessa quarta-feira (20), a oposição pôs à prova esse jargão e impôs uma reviravolta já de início. Venceu por 17 votos a 14 o consórcio entre governo e centrão e controlará a cúpula da comissão que investigará desvios indevidos nas aposentadorias e pensões do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).
O governo dava a crise como debelada, após provisionar R$ 3,3 bilhões para ressarcir quem teve descontos indevidos e ver o assunto sumir do noticiário. Contava com o apoio do centrão para continuar assim e fazer uma “investigação técnica” na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), que não perseguisse o presidente Lula e os sindicatos ligados à esquerda e ao próprio centrão.
A perda do comando da CPMI ressuscita um foco de desgaste na imagem do presidente, com consequências imprevisíveis. A oposição pretende que a comissão seja, para Lula, o que a CPI da Covid no Senado foi para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL): palco para constantes notícias negativas durante meses, que impeçam uma recuperação na popularidade e agitem o cenário político com denúncias.
A presidência será exercida não mais pelo aliado Omar Aziz (PSD-AM), mas pelo oposicionista Carlos Viana (Pode-MG). O senador mineiro enfrenta dificuldades em seu estado na disputa pela reeleição, espremido entre as várias candidaturas de direita, e terá na CPMI o palco perfeito para se recuperar junto a esse eleitorado.
Caberá a ele decidir quais requerimentos serão pautados e a ordem das oitivas. Se Aziz poderia segurar a convocação do irmão do presidente Lula e de sindicatos poupados pela CGU (Controladoria-Geral da União), Viana não só os colocará em discussão, mas dará prioridade para que sejam ouvidos.
O relator também passou do moderado deputado Ricardo Ayres (Republicanos-TO), que foi indicado prometendo uma “investigação técnica e focada”, para o direitista Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), ex-chefe do Ministério Público de Alagoas e acostumado a liderar investigações. Ele elaborará o plano de trabalho e será o primeiro a inquirir os depoentes.
O governo, logo após a derrota, traçou duas estratégias: sedimentar o apoio do centrão para travar a CPMI e adotar a narrativa de que a comissão, sob os domínios da direita, não busca uma investigação isenta, mas perseguir Lula —portanto, qualquer conclusão que sair dali cairá em descrédito.
Isso, no entanto, dependerá de não surgirem novos documentos ou testemunhas-bomba que impliquem integrantes e aliados do governo.
Essa blindagem exigirá ainda mais da aliança com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). Eles, argumenta o governo, viram seus indicados para comandar a CPMI serem derrotados pela oposição bolsonarista e também saíram desmoralizados.
Outro a quem os governistas pretendem recorrer é o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Neste caso, há um interesse regional: Gaspar quer concorrer ao Senado e aproveitar a visibilidade da relatoria para isso, mas a vaga é almejada por Lira.
O problema dessa estratégia é que os representantes do PP na CPMI são mais ligados ao presidente do partido, o senador Ciro Nogueira (PI), que faz oposição a Lula. (Análise/Raphael Di Cunto, da Folha de S.Paulo)
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