Terça-feira, 01 de Julho de 2025

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Dança com viúva. Talvez seja o título mais sugestivo que achei. Não quero julgar nem ser preciso em datas, o poder público, os empreendedores, a direita, a esquerda, o centro, todos querem o bem comum. Escrevo pra esses, não pros donos da verdade única que não admitem rever o rumo.

Havia um órgão do Estado que cuidava dos portos, rios e canais do RS. Com seu quadro funcional que conhecia a hidrovia, construía e mantinha as boias e as defensas dos canais e manejava dragas próprias que atendiam a navegação interior e até mesmo serviços de desassoreamento de clubes náuticos, pequenos rios, embarcadeiros, um pequeno serviço aqui, outro ali.

Se faltava dinheiro pra atender a imensa e permanente necessidade de modernização do setor, minimizava com uma manutenção que resolvia. Os funcionários se superavam e os serviços andavam, com vagar, mas andavam. A questão era de recursos e mais gestão pra atender a demanda. Então, decidiram extinguir aquele Órgão e criaram duas novas, modernas e enxutas Autarquias, uma só pro Porto de Rio Grande e a outra os demais portos e hidrovias.

Ledo engano. A necessidade era outra. A manutenção da hidrovia perdeu seu bem maior, a expertise daquele abnegado quadro funcional que tinha com o sistema uma relação de coexistência. Eles entendiam a força do rio e sabiam que mantê-lo vivo, importava só num passo por dia, nem demais nem de menos. Muito tempo passou, inclusive uma discussão conceitual inócua, rio ou lago? Pelas tantas, o sistema começou a colapsar, mas tal qual a torre de Babel, cada um puxou pra um lado, uns não queriam dragar, outros dragar toda a areia, outros tantos elencavam a proteção ao meio ambiente, enfim. Defensores ferrenhos são ausentes de harmonia.

O assunto parou nos magistrados. A tentativa de achar um caminho resultou na proibição de caminhar. Erramos todos. Nesse ínterim extinguiram os dois Entes. Criaram então outro que teria dinheiro e faria tudo que as outros não fizeram. Não deu tempo pra saber. Então, a enchente veio, veio de novo, depois veio forte, então veio hoje e virá de novo. Rotina? O fato é que o conhecimento se perdeu, o sistema hidroviário está assoreado, o rio respira pouco, mas as opiniões continuam se multiplicando, não há poder decisório, muito menos um rumo.

Gestão? Não me excluo. Quem sabe um passo à frente? Só um. O fundamental às relações humanas é caminhar juntos, nem sempre concordando, mas juntos, e, tal qual no passado, limpando aos poucos, empreendedores, ambientalistas, esquerda, direita, centro, todos verificando os bons resultados e corrigindo os maus. Acertos preservados, erros corrigidos. Nossa hidrovia precisa de parcimônia, precisa respirar, das velas dos barcos, de uma economia que gere emprego e renda, da pesca não predatória, do turismo, precisa, precisamos. Quem sabe nos desarmamos e seguimos o título deste artigo: “devagarinho como quem dança com viúva”.

* Eduardo Battaglia Krause, advogado e escritor

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