Terça-feira, 08 de Julho de 2025

Home em foco Dezenas de milhares de russos fugiram para Istambul desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no mês passado

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Dezenas de milhares de russos fugiram para Istambul desde que a Rússia invadiu a Ucrânia no mês passado, indignados com o que consideram uma guerra criminosa, preocupados com o recrutamento, a possibilidade de uma fronteira fechada ou com o fato de seus meios de subsistência não serem mais suficientes.

E eles são apenas a ponta do iceberg. Outras dezenas de milhares viajaram para países como Armênia, Geórgia, Usbequistão, Quirguistão e Casaquistão, que normalmente mandam imigrantes para a Rússia.

Embora nem se compare ao êxodo de 2,8 milhões de ucranianos, muitos equiparam a fuga de russos à ocorrida em 1920, quando mais de 100 mil opositores dos bolcheviques, durante a guerra civil, partiram para a então Constantinopla. “Nunca houve algo assim antes em tempos de paz”, disse Konstantin Sonin, economista russo da Universidade de Chicago. “Não há guerra em território russo.”

Sonho roubado

“Eles não apenas tiraram nosso futuro”, disse Polina Borodina, dramaturga de Moscou que fugiu para a capital turca. “Eles tiraram nosso passado.” A velocidade e a escala da guerra refletem a mudança tectônica que a invasão desencadeou na Rússia.

Apesar da repressão do presidente, Vladimir Putin, a Rússia, até o mês passado, permaneceu um lugar com extensas conexões com o restante do mundo, uma internet praticamente sem censura dando uma plataforma para a mídia independente, uma próspera indústria de tecnologia e uma cena artística vibrante. Fatias da vida da classe média ocidental – Ikea, Starbucks, carros estrangeiros – estavam disponíveis.

Mas, quando acordaram em 24 de fevereiro, muitos sabiam que tudo aquilo havia acabado. Dmitri Aleshkovski, jornalista que passou anos promovendo a cultura emergente de doações de caridade na Rússia, entrou em seu carro e dirigiu para a Letônia. “Ficou claro que, se essa linha vermelha foi ultrapassada, nada mais o impedirá”, disse Aleshkovski sobre Putin. “As coisas só vão piorar.”

Nos dias que se seguiram à invasão, Putin forçou os remanescentes da mídia independente da Rússia a fecharem as portas. Ele planejou uma repressão brutal contra manifestantes antiguerra, com mais de 14 mil pessoas presas em todo o país.

Istambul, como em 1920, voltou a ser um refúgio para exilados. Enquanto a maior parte da Europa se fechou para a Rússia, a Turkish Airlines voa de Moscou até cinco vezes por dia; combinado com outras companhias aéreas, mais de 30 voos chegam da Rússia.

“A história se move em espiral, especialmente a da Rússia”, disse Kirill Nabutov, comentarista esportivo de São Petersburgo, que fugiu para Istambul com sua mulher. “Ela sempre volta para este mesmo lugar.”

Culpa

A dor de deixar tudo para trás tem sido excruciante, muitos disseram – juntamente com a culpa de não ter feito o suficiente para lutar contra Putin. Alevtina Borodulina, antropóloga de 30 anos, juntou-se a mais de 4,7 mil cientistas russos na assinatura de uma carta aberta contra a guerra. Então, enquanto caminhava com amigos no centro de Moscou, um deles puxou uma sacola que dizia “não à guerra” e foi preso.

Ela voou para Istambul em 3 de março, conheceu russos com ideias semelhantes em um protesto em apoio à Ucrânia e agora é voluntária para ajudar outros exilados. “Era como se eu estivesse vendo a União Soviética”, disse Borodulina sobre seus últimos dias em Moscou. “As pessoas que deixaram a União Soviética na década de 20, provavelmente, tomaram uma decisão melhor do que as que ficaram e acabaram nos campos.”

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