Terça-feira, 30 de Abril de 2024

Home Rio Grande do Sul Dialetos introduzidos há 200 anos por imigrantes germânicos ajudam a preservar a cultura alemã dentro e fora do Rio Grande do Sul

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Pesquisadores e descendentes de alemães têm defendido a inclusão, nos currículos escolares brasileiros, de conteúdos relativos aos dialetos germânicos introduzidos no País com a chegada dos primeiros imigrantes oriundos daquela região da Europa, em 1824.

Destes, o hunsriqueano é considerado o mais falado. Apesar de contar com cerca de 2 milhões de falantes nativos na Região Sul do Brasil, não é o único que se mantém vivo desde o desembarque dos estrangeiros dispostos a uma nova vida do outro lado do mundo. Também é comum encontrar em algumas regiões o pomerano e o westfaliano.

São formas originais de se comunicar nas diferentes regiões de origem dos imigrantes, corrobora o professor de Literatura e Língua Alemã Gerson Neumann, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Integrante da Comissão Oficial do Bicentenário, ele explica os três dialetos.

Originário da região baixa do antigo reino germânico, o pomerano é mais presente nas Missões e Noroeste gaúchos. O westfaliano é encontrado especialmente em municípios do Vale do Taquari. O hunsriqueano, comum nos vales do Sinos, Caí, Taquari e Rio Pardo, é o que reúne maior quantidade de características comuns a outros idiomas da colonização germânica e também o mais praticado no Brasil.

Com expressiva influência na formação cultural gaúcha, os idiomas passaram a ser reconhecidos por municípios – como Westfália, que tem o westfaliano como língua co-oficial. A legislação do Rio Grande do Sul também declarou o hunsriqueano como patrimônio histórico e cultural do Estado, além de reconhecer as línguas e culturas locais como de relevante interesse cultural.

Ainda, em reconhecimento aos idiomas de imigração, a Assembleia Legislativa gaúcha declarou 21 de fevereiro como o Dia Estadual da Língua Materna e das Línguas e Culturas Locais. Coordenadora do Projeto Hunsrik Plat Taytx, de Santa Maria do Herval, e membro da Subcomissão Cidadania e Direitos Humanos da Comissão Oficial do Bicentenário, Solange Hamester Johann, ressalta que o hunsriqueano tem cerca de 1.500 anos de existência, sendo “a mãe de muitas línguas germânicas”.

O Projeto Hunsrik foi criado em 2004 pela pesquisadora alemã Ursula Wiesemann, por meio da Sociedade Internacional de Linguística (SIL). A iniciativa organizou o código de escrita utilizado nas publicações a partir do modo como ele é praticado na região de Santa Maria do Herval. O projeto registrou a língua no Ethnologue, órgão da Unesco que cataloga as línguas existentes no mundo.

Desde 1850 há registros de jornais, almanaques e livros em alemão-padrão, além de alguns em pomerano ou hunsriqueano, produzidos no Estado. O Museu da Comunicação Hipólito José da Costa (Musecom), instituição vinculada à Secretaria da Cultura (Sedac), mantém acervo de publicações, jornais impressos e fotografias que guardam essa memória. A instituição prepara, inclusive, uma exposição temática para agosto.

Outra pesquisadora que debate o tema, a coordenadora dos cursos de Alemão do Núcleo de Ensino de Línguas em Extensão (Nele) da UFRGS, Karen Pupp Spinassé, salienta que esses dialetos são línguas brasileiras, desenvolvidas na interação entre formas de falar dos imigrantes e o português.

País tem 210 idiomas

De acordo com o Inventário Nacional de Diversidade Linguística, ao menos 210 idiomas são praticados no Brasil. A grande maioria (180) é de origem indígena, enquanto 30 são falados por comunidades de imigrantes. Essa catalogação é coordenada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Comunidades germânicas no Brasil foram submetidas a políticas governamentais de segregação linguística durante os governos do presidente Getúlio Vargas (1930-1945 e 1951-1954), quando se proibiu a prática do alemão e de seus dialetos até mesmo no cotidiano das comunidades. Além da entrada do Brasil entre os países aliados contra a Alemanha nazista a partir de determinado momento da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), havia outro motivo.

“Tratava-se de um projeto educacional que tinha por objetivo fortalecer a identidade nacional”, menciona o pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo, Erineu Foerste, em artigo publicado pelo Iphan.

(Marcello Campos)

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