Sábado, 13 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 13 de setembro de 2025
Uma coisa é certa hoje em dia : a direita tomou conta da rua nas manifestações. Domina inteiramente o que antes era espaço quase exclusivo da esquerda. Foi assim no 7 de setembro na semana passada.
Interessante que dos muitos estudiosos que se ocupam dos assuntos sociais e políticos, ninguém ainda se arriscou a dar uma explicação razoável, definitiva para o fenômeno.
As grandes manifestações pertenciam ao arsenal de luta das esquerdas. Quando muito, se aceitava que a direita tinha força na chamada maioria silenciosa, com suas ideias conservadoras, suas prioridades e interesses, guardando-as para si, e só dando o ar da graça em ocasiões muitos especiais.
A mudança parece ter se dado nas jornadas de junho de 2013, que levou multidões à rua, aparentemente pelo preço do bilhete de ônibus. Naquele evento insólito, ninguém ousava dissertar sobre a fúria das massas: todos diziam que se tratava de um conjunto de razões, da antipolítica, do cansaço de um modelo, de uma “malaise social”, um germe de descontentamento, quando não de indignação.
Esquerda e direita davam suas explicações, cada uma buscando justificativas que de algum modo se encaixassem no seu modelo de sociedade. A discussão perdura até hoje nos mesmos termos: o que fez aquela prodigiosa inquietação de milhares de manifestantes em 2013?
Parece estar claro que a direita, Bolsonaro à frente, fizeram a leitura certa, pois dali em diante não teve mais para ninguém : manifestações expressivas são promovidas pela direita, com todas as insanidades de que ela é capaz, e que culmina com a intentona golpista de 8 de janeiro de 2023.
É tão forte e poderosa a corrente direitista, que não há fato que pare de pé sem a outorga dos “patriotas”. Notem que me refiro a fatos, não a opiniões . Eles vão para a rua munidos de bandeiras do Brasil, de Israel, e mais recentemente dos Estados Unidos, não se pejam em pedir a intervenção militar, com um entusiasmo, com uma fidelidade e com uma disciplina de fazer inveja às demais forças políticas.
As esquerdas , nesse plano, estão completamente atordoadas. Não perderam apenas as ruas – na verdade não sabem mais como enfrentar as hordas furiosas e entusiasmadas da direita, não importa que bandeira desfraldem. Resvalam – as esquerdas, os progressistas – na queixa, nas velhas formas de luta, nas palavras de ordem um tanto obsoletas, e por uma arrogância, a qual, em grande parte é justamente a responsável pela repulsa que causa.
Confiam – as esquerdas – nas instituições de Estado, como o STF, e nos heróis do dia como Alexandre de Moraes, no carisma de Lula, mas não conseguem furar o bloqueio que protege as massas da sua palavra e da sua pregação.
Deve-se ter em conta, é claro, que eleição é outra coisa. Nas pesquisas, a rejeição de Bolsonaro é maior do que a de Lula, e na eleição presidencial de 2026, o mesmo Lula bate todos os adversários em segundo turno e com folga.
A direita insiste no valor mítico das massas na rua – antes cantado em prosa e verso pelas esquerdas. Serve ao propósito político de convencimento e serve também ao plano B, nunca deixado de lado : melar o jogo.
Tito Guarniere (titoguarniere@terra.com.br)