Quinta-feira, 28 de Março de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 23 de novembro de 2021
Diretora-geral-adjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS) no setor de acesso a medicamentos e produtos farmacêuticos, a médica paranaense Mariângela Simão, 65 anos, reforça o coro de cientistas que alertam para uma realidade que muitos consideram já bastante próxima: o mundo está entrando em uma quarta onda da pandemia de coronavírus.
“Estamos vendo a ressurgência de casos de covid na Europa, com 440 mil novos casos confirmados em 24 horas [na segunda-feira]”, frisou. “E isso que há subnotificação em vários continentes. O mundo está entrando em uma quarta onda, mas as regiões têm tido um comportamento diferente em relação à pandemia”.
Ela menciona o fato de que o vírus continua evoluindo com variantes mais transmissíveis. Mas com o avanço da vacinação houve uma dissociação entre casos e mortes, pelo fato de a imunização ter reduzido os óbitos decorrentes da doença. Mariângela chamou a atenção para o fato de que a vacinação reduz as hospitalizações mas não interrompe a transmissão.
A diretora-geral-adjunta da entidade avalia que os novos picos na Europa se devem à abertura e flexibilização das medidas de distanciamento no verão, além do uso inconsistente de medidas de prevenção em países e regiões:
“O aumento da cobertura vacinal não influencia na higiene pessoal, mas tem associação com diminuição do uso de máscaras e distanciamento social. Além disso, há desinformação, mensagens contraditórias que são responsáveis por matar pessoas”.
Também cita a desigualdade no acesso às vacinas: “Foram aplicadas mais de 7,5 bilhões de doses. Em países de baixa renda, há menos de 5% das pessoas com pelo menos uma dose. Um dos fatores foi o fato de os produtores terem feito acordos bilaterais com países de alta renda e não estarem privilegiando vacinas para países de baixa renda”.
Outro obstáculo é a concentração em poucos países que dominam tecnologias utilizadas para a produção de vacinas, como o emprego do RNA mensageiro, como no caso do imunizante da Pfizer.
Futuro próximo
Mariângela Simão considera que o futuro da pandemia depende de uma série de fatores: O primeiro é a imunidade populacional, resultante da vacinação e da imunização natural. Já o segundo é o acesso a medicamentos. O terceiro é como irão se comportar as variantes de preocupação e do quão transmissíveis elas serão. E o quarto é a adoção de medidas sociais de saúde pública e a aderência da população a essas políticas.
“Onde medidas de saúde pública são usadas de forma inconsistente os surtos continuarão a ocorrer em populações suscetíveis”, projeta. “Além das medidas de prevenção é preciso assegurar a equidade no acesso a vacinas, terapias e testagens.”
Carnaval brasileiro
A diretora também não esconde a sua postura de extrema cautela em relação a eventos coletivos de grande porte, como o Carnaval brasileiro. Ela considera que o momento ainda não é adequado, diante da iminência de novo recrudescimento da pandemia.
“É um fato que me preocupa bastante quando vejo no Brasil a discussão sobre o Carnaval. É uma condição extremamente propícia para o aumento da transmissão comunitária. Precisamos planejar as ações para 2022”.
No Ar: Pampa Na Tarde