Sexta-feira, 03 de Outubro de 2025

Home Política Dirigente de entidade investigada por desvios no INSS teve R$ 796 milhões em transações atípicas entre 2022 e 2025

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Uma das principais entidades investigadas pelos descontos irregulares em benefícios do INSS, a Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais) fez transações atípicas que somam R$ 796,8 milhões entre 2022 e 2025, de acordo com relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) obtido pela Folha.

Dos R$ 397,3 milhões em créditos apontados como atípicos no período, R$ 376,5 milhões tiveram como origem o Fundo do Regime Geral de Previdência Social, que financia aposentadorias para segurados do INSS.

O advogado André Hespanhol, que defende a Conafer e seu presidente, Carlos Roberto Ferreira Lopes, disse que não há irregularidades. “Existia sim uma instituição que prestava serviços em mais de 3.000 municípios, possuía 1.200 funcionários, todos demitidos em razão dos bloqueios de 100% dos bens e valores, quando 90% de suas atividades e associados nada tinham a ver com INSS ou aposentados”, declarou.

O advogado também criticou vazamentos de documentos sigilosos. Além disso, afirmou que há uma “equipe qualificada diuturnamente trabalhando para prestar todos os esclarecimentos”.

O relatório do Coaf enviado à CPI indica as transações a partir de julho de 2022. A CGU (Controladoria-Geral da União) aponta, porém, que o valor recebido pela Conafer com os descontos associativos teve o primeiro salto de 2019 para 2020, quando passou de pouco mais de R$ 350 mil para R$ 57 milhões.

De acordo com o relatório do Coaf, “pôde-se verificar que os principais recursos da entidade são oriundos do Governo Federal, por meio de repasses do Fundo do Regime Geral de Previdência Social, que por sua vez deveriam ter como contrapartida o financiamento de tais programas protagonizados pela cliente”.

O Coaf lista uma série de ocorrências suspeitas, como o recebimento de créditos com o imediato débito; depósitos fragmentados e pagamento de boletos para dissimular o valor total da movimentação; valores incompatíveis com o faturamento mensal da entidade; além de movimentação de recursos de alto valor, de forma contumaz, para terceiros.

Há ainda o registro de “operações que, por sua habitualidade, valor e forma, configurem artifício para burla da identificação da origem, do destino, dos responsáveis ou dos destinatários finais” e “pagamentos habituais a fornecedores ou beneficiários que não apresentem ligação com a atividade”.

Um dos casos identificados ocorreu em 7 de junho de 2023. Após receber R$ 13,7 milhões do fundo da Previdência Social, o Coaf identificou cinco débitos de R$ 900 mil, um de R$ 895 mil e dois de R$ 890 mil no próprio dia 7 na conta da Conafer.

“Verificamos que as empresas compartilham, por vários momentos, de mesmo quadro societário, o que causa estranheza”, afirma o relatório sobre as empresas beneficiadas nas transações de 7 de junho de 2023.

O órgão diz ter constatado “o recebimento dos recursos públicos com imediato uso para o envio de transferências pulverizadas em benefício de terceiros diversos, sendo que alguns desempenham atividades as quais não sugerem ter compatibilidade com os programas sociais desempenhados pela cliente”.

As transações atípicas apontadas pelo Coaf são todas na mesma conta aberta em agência da Caixa Econômica Federal em Presidente Prudente (SP). A sede da entidade, porém, fica em Brasília, também de acordo com o relatório.

Durante seu depoimento à CPI, o presidente da Conafer negou haver algum tipo de corrupção na entidade. Também disse que a organização atende milhares de municípios e que ajuda pequenos agricultores com o melhoramento genético de rebanhos bovinos.

“A gente sabe muito bem o que é existir e o que é ser de fachada neste país. E a Conafer não faz parte disso, porque não é possível que quem abre de segunda a sexta, trabalha das 8h às 5h da tarde e atenda 2.950 municípios seja de fachada; quem pague mais de 80 milhões de impostos federais seja de fachada; quem reproduziu mais de 420 mil bezerros seja de fachada”, disse Lopes.

Lopes recebeu voz de prisão em flagrante ao final do depoimento por falso testemunho. “Ele mentiu deliberadamente à CPI desde o início da fala”, declarou o presidente da CPI, senador Carlos Viana (Podemos-MG). O dirigente da Conafer pagou fiança e foi liberado horas depois.

A Conafer é a segunda entidade com mais descontos associativos registrados no INSS, de acordo com a CGU. Foram R$ 484 milhões descontados entre 2019 e 2024, ficando atrás só da Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura), que recebeu R$ 2,1 bilhões no período. (Com informações da Folha de S.Paulo)

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