Quinta-feira, 30 de Outubro de 2025

Home em foco Discurso de combate ao comunismo continua dando resultados junto a parte da população brasileira

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O ano de 2023 terminou praticamente como começou, com o Brasil marcado por uma polarização cristalizada, dividido em dois polos opostos praticamente de igual tamanho.

Com 12 meses de governo, a percepção sobre a gestão Lula segue amplamente moldada pela ideologia de cada observador. Esse fenômeno maniqueísta é emblemático nos tempos acalorados de conflitos políticos que atravessamos.

Para entender melhor o funcionamento da comunicação bolsonarista enquanto oposição, analisamos as postagens do canal de Jair Bolsonaro, no Telegram, feitas entre os dias 1.º e 28 de dezembro.

Foram, ao todo, 84 publicações, o que indica uma média de três posts por dia. O canal conta com 1,8 milhão de inscritos e, além de propagar conteúdo próprio, muitas vezes compartilha informações de políticos aliados, sobretudo dos próprios Bolsonaros, nomeadamente Eduardo, Flávio e Carlos, além de aliados de primeira hora do bolsonarismo, como os deputados federais Mário Frias e Delegado Alexandre Ramagem e os deputados estaduais Carmelo Neto, do Ceará, e Bruno Engler, de Minas Gerais.

A crítica à mídia tradicional é uma constante. Alegações de disseminação de desinformação, fake news e de silenciamento de vozes dissonantes às do governo são pontos centrais dessa abordagem. O alvo principal é a Rede Globo, que foi mencionada frequentemente, de forma pejorativa, no período observado.

A defesa da liberdade de expressão é outra característica marcante. No ambiente bolsonarista, está consolidada a ideia de que o governo Lula age para calar quem o critica, o que cria, entre os opositores, um sentimento de resistência que os une. Essa mesma narrativa ajuda a difundir uma ideia de que o PT quer regular a internet, para poder controlá-la, por meio de censura.

Temas recorrentes

O enfrentamento da esquerda e do “comunismo” é também algo bastante presente. O governo Lula é associado a uma suposta normalização do crime e à debilidade social, e visto como ameaça ao País. Todos esses aspectos negativos são classificados como características de governos comunistas.

A segurança pública emerge como uma bandeira importante dos conservadores. Bolsonaro foca em alegações que atribuem ao governo dele uma redução histórica nos índices de assassinatos e um aumento nas apreensões de drogas.

Em termos de propostas, a narrativa é pouco profunda, deixando de fora um debate mais qualificado. Não encontramos proposições com embasamento feito a partir de estudos específicos, mas apenas indicativos ideológicos.

Um desses indicativos se baseia na ideia de redução de impostos. Esse é um dos pilares apresentados e percebido como um conquista notável do governo Jair Bolsonaro.

A proposta de menor intervenção estatal na economia e a promoção de um ambiente favorável aos negócios também são elementos frequentes nas mensagens, buscando transmitir a imagem de que a direita segue comprometida com o estímulo ao setor privado e que a esquerda está ligada a um movimento sindical visto como nocivo ao desenvolvimento.

Essas diretrizes, disseminadas por Bolsonaro, são plenamente replicadas por demais políticos conservadores. Muitos, inclusive, vão tentar nacionalizar as eleições municipais de 2024, seguindo a cartilha contra o “comunismo”, a “esquerda” e os veículos que disseminam fake news, e a favor da liberdade plena de expressão nas redes, da redução de impostos e das privatizações.

Pelo que temos visto até agora, esse discurso vai funcionar bem nas cidades simpáticas ao bolsonarismo, em áreas mais identificadas com a direita. Mas não vai provocar mudanças nos locais onde a esquerda domina, pois nessas regiões é a lógica lulista que se propaga mais intensamente, também através de canais exclusivos e também sem discutir propostas de forma detalhada. Algo que, hoje, infelizmente, está muito distante do debate político brasileiro.

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