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Por Redação Rádio Pampa | 8 de janeiro de 2022
Embora seja muito mais transmissível do que as anteriores, a Ômicron tem se revelado muito menos virulenta. Para alguns especialistas, a imunidade contra o vírus será cada vez mais disseminada, apontando para o fim da crise sanitária. Mas outros pesquisadores preferem a cautela e alertam para o perigo de afrouxar as medidas anticovid.
Cientistas como Margareth Dalcolmo, da Fiocruz; Amilcar Tanuri, da UFRJ; e Gonzalo Vecina, da USP, são cautelosamente otimistas ao defender essa hipótese, baseados no comportamento de epidemias do passado e na própria virologia.
Outros especialistas dizem que, embora o raciocínio dos colegas esteja correto, ainda é cedo para falar em fim da pandemia, sobretudo em se tratando de um vírus tão afeito a mutações. Em alguns pontos, no entanto, todos concordam. A vacinação continua sendo a principal arma contra a doença, ao lado do uso de máscaras e do distanciamento.
“Pandemias acabam, não há um ciclo infinito de novas variantes. Até a gripe espanhola acabou, sem vacina nem tratamento”, explica a pneumologista Margareth Dalcolmo, da Fiocruz. “Posso dizer com certeza que não vai aparecer uma nova variante de preocupação mais grave? Não. Mas a probabilidade é pequena. O comportamento das viroses agudas de transmissão respiratória é ter cepas menos letais, mais transmissíveis, que vão imunizando todo mundo.”
Coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, Amilcar Tanuri concorda com a colega. Do ponto de vista do vírus, a Ômicron representa o ideal evolutivo. A variante se propaga muito rapidamente e não mata o hospedeiro. Isso a ajuda a se disseminar ainda mais. Vírus muito agressivos, que matam praticamente toda pessoa infectada, não sobrevivem por muito tempo. Seguindo esse raciocínio, a nova variante pode ser a última do Sars-cov-2 e acabar se tornando endêmica.
“Tudo nos leva a crer que o vírus chegou a um ponto da sua escalada evolutiva em que atingiu a ‘perfeição’”, afirmou Gonzalo Vecina, professor da USP, ex-diretor da Anvisa. “E o que é a ‘perfeição’ para um vírus? É manter o hospedeiro vivo. Para se reproduzir, ele precisa de um hospedeiro. Isso é o máximo que um vírus pode sonhar em termos de evolução.”
A ideia é compartilhada também por especialistas estrangeiros. “Acho que essa variante é o primeiro passo em um processo por meio do qual o vírus se adapta à população, gerando sintomas mais benignos”, afirmou Julian Tang, professor de Ciências Respiratórias da Universidade de Leicester, no Reino Unido, em entrevista ao The Guardian. “É vantajoso para o vírus infectar pessoas que não ficam muito doentes porque, dessa forma, elas podem sair por ai espalhando o vírus ainda mais.”
Para esses cientistas, a covid-19 continuará aparecendo sazonalmente, como a gripe. Possivelmente será necessário vacinar anualmente a população ou, pelo menos, os mais vulneráveis.
A Ômicron foi descoberta há um mês na África do Sul e já é a variante dominante. Inicialmente, gerou grande preocupação pelo número excessivo de mutações apresentadas, a maioria na proteína Spike, que causa a invasão das células. Estudos mostraram que as mutações facilitavam a infecção não só das pessoas ainda não imunizadas, mas também daquelas já vacinadas.
Logo ficou claro que a variante causava episódios bem menos graves de covid-19. Um estudo da Universidade de Cape Town, na África do Sul, revelou que pacientes hospitalizados nesta quarta onda da pandemia eram 73% menos passíveis de desenvolver uma doença grave do que aqueles admitidos durante a terceira onda, da Delta.
Infecção
Vários fatores contribuem para que a Ômicron seja menos agressiva do que as variantes anteriores. Um deles é a capacidade do vírus de infectar os pulmões. A infecção pelo Sars-cov-2 tipicamente começa no nariz ou na boca e se espalha garganta abaixo. Uma infecção leve fica restrita ao trato respiratório superior, mas quando o vírus alcança os pulmões surgem os casos mais graves.
Diferentes estudos divulgados na semana passada mostram que a nova variante não chega aos pulmões tão facilmente quanto as anteriores em razão das mutações. Entretanto, também por causa delas, a Ômicron é mais transmissível. O vírus se espalha mais facilmente quando se replica no trato respiratório superior.
Outro estudo, de Hong Kong, publicado em pre-print na semana passada, revelou que as pessoas vacinadas que se contaminaram com a ômicron geraram também respostas imunológicas mais fortes contra outras variantes do vírus. É um novo indício de que a nova variante pode ser o prenúncio do fim da pandemia.
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