Sexta-feira, 09 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 9 de maio de 2025
No Brasil, empreender é um ato de resistência. Vivemos sob uma das maiores cargas tributárias do mundo – cerca de 33,71% do PIB, segundo o IBGE (2023) – sem o devido retorno em infraestrutura, saúde, educação ou segurança.
Mas não é só isso: a máquina pública tornou-se um parasita, nutrida por um sistema que favorece indicações políticas, não o mérito, e extermina qualquer tentativa de liderança independente.
Essa realidade não é nova. Já em 1789, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, se tornou mártir por questionar o peso dos impostos sobre os colonos brasileiros. Sua revolta contra a opressão fiscal e o controle de uma elite beneficiada por Portugal ainda ecoa – com a triste diferença de que hoje a elite é interna, e o sistema é mais sofisticado em sufocar qualquer reação. E, paradoxalmente, o peso tributário é ainda maior.
O chamado “Custo Brasil”, estimado pela CNI em R$ 1,5 trilhão ao ano, é composto por burocracia excessiva, insegurança jurídica, má qualidade da infraestrutura, corrupção e ineficiência logística.
No Rio Grande do Sul, o “Custo RS” adiciona um tempero próprio de coronelismo institucional, em que políticas públicas servem como instrumentos de barganha e favores – ao invés de serem instrumentos de desenvolvimento.
A isso soma-se a apatia de uma geração que aceita, sem questionar, o grotesco espetáculo político e econômico que nos é imposto. Um comodismo irritante, sustentado por discursos rasos, ideologizados e polarizados. Enquanto discutimos esquerda e direita, o país segue estagnado, com mais de 9 milhões de desempregados e 33 milhões em insegurança alimentar, segundo dados do IBGE e da Rede PENSSAN.
Como bem cantaram os Titãs: “Se há governo, sou contra”. Essa frase não é rebeldia vazia. É um valor pessoal, nascido da vivência prática. Minha breve passagem pela vida pública mostrou que a política institucional, especialmente nas prefeituras, é um território onde ética não é bem-vinda. Quem não se curva ao sistema, é descartado. Essa lógica se reproduz também nas entidades empresariais.
Em conselhos como a ACI e a Federasul, constatei que questionar o poder público é pedir para ser retaliado. As portas se fecham. Os convites desaparecem. E a tentativa de formar novas lideranças é sabotada desde o início. O sistema não quer ideias. Quer silêncio.
E como se não bastasse o sufocamento fiscal e político, ainda nos é imposta a responsabilidade social. Nós, empresários, somos obrigados a exercer funções do Estado: promovendo programas de inclusão, formação, saúde e até segurança para nossa comunidade – enquanto os bilhões arrecadados evaporam no ralo da ineficiência ou da corrupção.
A pergunta que fica é: por quanto tempo mais suportaremos isso? No livro “Por que as Nações Fracassam”, Daron Acemoglu e James A. Robinson explicam que países fracassam quando suas instituições são extrativistas: servem a uma elite e não criam incentivos para a inovação, o mérito ou o crescimento. O Brasil é um exemplo clássico. Temos uma estrutura política que concentra poder, protege interesses, criminaliza quem ousa inovar e trava qualquer mobilidade ou renovação social.
O Nobel de Economia Douglass North já apontava que o crescimento de um país depende do tipo de instituições que se formam ao longo do tempo. No Brasil, formamos instituições feudais disfarçadas de democracia – onde o “pão e circo” das redes sociais, dos programas populistas e da guerra ideológica
anestesiam a população enquanto a verdadeira elite segue intocada.
Vivemos em um país onde o sucesso não é recompensado, mas suspeito. Onde quem trabalha mais é punido com impostos maiores. Onde o servidor concursado é minoria, e os cargos de liderança são loteados como
espólios de guerra eleitoral. Onde o progresso é sabotado porque a ignorância serve ao poder.
É hora de romper esse ciclo. E se for para chocar, que choque. Mas que desperte. Porque mais do que revolta, temos o direito à indignação. E a responsabilidade de construir um novo cenário: de governança técnica, de instituições inclusivas, de valorização do mérito e da verdade. Mesmo que, para isso, tenhamos que ser os novos Tiradentes – enforcados pela língua, pelo CPF, mas não pela consciência.
* Jader Schmidt Gaklik, economista financeiro
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