Quarta-feira, 24 de Abril de 2024

Home Variedades Documentário sobre Leila Diniz chega ao streaming

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Em 2015, a atriz e cineasta Ana Maria Magalhães levou um choque ao ouvir do restaurador Fabio Fraccarolli que seu filme estava morrendo. Ele não se referia aos clássicos do cinema brasileiro em que ela atuara nos anos 1970, como “Quando o carnaval chegar”, de Cacá Diegues, ou “Como era gostoso o meu francês”, de Nelson Pereira dos Santos, mas a “Já que ninguém me tira pra dançar”, documentário que ela dirigira, em 1982, sobre Leila Diniz, atriz que morreu em um desastre aéreo em 1972, aos 27 anos. O filme fora gravado em fitas U_Matic, que não resistem bem à passagem do tempo. Se não fosse restaurado rapidamente, o material poderia se perder.

Ao ouvir o diagnóstico de Fraccarolli, Ana Maria começou a se mexer. Enfiou-se em arquivos em busca das capas de revistas estampadas por Leila nos anos 1960 e 1970 e firmou uma parceria com o Itaú Cultural, que pagou pela remasterização do filme. “Já que ninguém me tira pra dançar” volta ao cartaz neste sábado (15) e domingo (16) na plataforma de streaming Itaú Cultural Play. Em 25 de março, aniversário de 77 anos de Leila, o documentário retorna à plataforma integrando uma mostra de filmes em que ela atuou.

“Gosto de que o filme vá direto para o streaming. Sou aquariana e gosto do novo. Combina com a Leila também”, diz Ana Maria, que também dirigiu os documentários “Mangueira do amanhã” e “Mangueira em dois tempos” sobre a escola de samba, e atuou em novelas como “Gabriela” (1975) e “Saramandaia” (1976), na TV Globo.

“Já que ninguém me tira pra dançar” foi encomendado pelo Centro Cultural Candido Mendes, que depois voltou atrás, por falta de recursos. Ana Maria decidiu terminar o filme por conta própria. Entrevistou parentes, amigos e colegas de Leila, como sua irmã mais velha, a socióloga Baby (Eli Diniz, oficialmente), seu ex-marido, o cineasta Domingos Oliveira, e os atores Paulo José, Marieta Severo e Betty Faria. A versão original de “Já que ninguém me tira pra dançar” foi montada pelos cineastas Fernando Meirelles e Marcelo Machado, à época à frente da produtora independente Olhar Eletrônico, e chegou a ser exibido em uma mostra em 1982. Já a nova versão, vista nos festivais do Rio e de Brasília e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo em 2021, foi completamente reeditada por Ana Maria, que incluiu uma nova trilha sonora e o depoimento do primeiro namorado de Leila, Luiz Eduardo Prado de Oliveira, psicanalista que vive em Paris.

O documentário passa em revista a vida de Leila, da infância ao relacionamento com Domingos, com quem filmou “Todas as mulheres do mundo”, do episódio na Ilha de Paquetá, onde, grávida de seis meses, foi fotografada de biquíni para a lendária capa do “Pasquim”. Em 1969, em entrevista ao jornal, Leila falou de sexo e soltou vários palavrões. Após a publicação, teve dificuldades para arrumar trabalho e foi obrigada pelos militares a assinar um termo de responsabilidade se comprometendo a não usar vocabulário chulo em público. No ano seguinte, a ditadura baixou o Decreto Leila Diniz, endurecendo a censura à imprensa. O documentário conta ainda com cenas ficcionais em que Leila é interpretada pelas atrizes Louise Cardoso, Lídia Brondi e Lígia Diniz (sua outra irmã).

Ana Maria conheceu Leila em meados dos anos 1960, na praia, recém-separada de Domingos. Brincaram na areia, mergulharam no mar juntas e ficaram amigas. Estreitaram os laços em 1969, durante as filmagens de “Azyllo muito louco”, de Nelson Pereira dos Santos, em Paraty. As duas dividiram um quarto, e Leila, cinco anos mais velha, dava bons conselhos sobre namoro. No documentário, Marieta Severo recorda Leila como uma pessoa afetuosa ao extremo, que falava em comprar um casarão para morar junto com todos os amigos. Betty Faria, que sentia ciúmes de Leila, confessa ter aprendido com ela que duas mulheres atrizes e bonitas podiam ser amigas. Leila arrumou um emprego para Betty quando ela se viu em dificuldades para sustentar a filha recém-nascida após sua companhia de teatro ter sido fechada por problemas com a censura.

“Nunca mais tive uma amiga como a Leila”, diz Ana Maria. “Ela me ensinou que mulher não precisa baixar a cabeça para homem para se divertir. Lembro de quando ela vinha de São Paulo: nós íamos à praia cedinho, depois à sauna e almoçávamos no Antonio’s. Uma vez o Tom Jobim viu nossa mesa com lagosta e vinho branco e disse: ‘Não tenho saúde pra isso, não’ (risos). Era uma felicidade.”

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