Sábado, 24 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 23 de maio de 2025
O dólar fechou em queda de 0,27% nessa sexta-feira (23), cotado a R$ 5,64 e o O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, teve alta, aos 137.824 pontos. O destaque do dia foi o vaivém do governo com as medidas de aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Na véspera, os ministérios da Fazenda e do Planejamento e Orçamento anunciaram um bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano, e um aumento do IOF com o objetivo de aumentar a arrecadação em mais R$ 20,5 bilhões neste ano e outros R$ 41 bilhões em 2026.
O mercado considerou o bloqueio positivo, mas notou que as despesas foram revisadas para cima, e a alta do IOF foi considerada apenas mais uma medida paliativa.
Além disso, o aumento do IOF sobre aplicações de fundos nacionais no exterior foi interpretado como uma tentativa discreta de controle de capitais, com o objetivo de conter a saída de dólares do país e, indiretamente, controlar o câmbio.
Ainda na noite de quinta (22), o governo voltou atrás na tributação dos fundos de investimento, mantendo a alíquota zero nesses casos.
Na manhã dessa sexta, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a medida foi revista após alertas de agentes do mercado financeiro, que indicaram que ela poderia “transmitir uma mensagem diferente da desejada pelo Ministério da Fazenda”.
O recuo foi interpretado como sinal de improviso e fragilidade política, o que aumentou a incerteza sobre os rumos da economia. Ainda assim, o mercado avaliou que é preferível corrigir o rumo do que insistir no erro, o que ajudou a amenizar a reação.
No cenário internacional, o destaque foi para as novas ameaças tarifárias do presidente Donald Trump. O republicano anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia (UE), com início previsto para 1º de junho, em resposta a barreiras comerciais e práticas consideradas desleais por parte do bloco europeu.
Trump também alertou a Apple sobre a imposição de uma tarifa de 25% sobre todos os iPhones vendidos, mas não fabricados nos EUA.
As medidas reacenderam temores sobre o agravamento das tensões comerciais globais e provocaram uma nova onda de incerteza nos mercados financeiros.
Mercados
Além do bloqueio de R$ 31,3 bilhões no orçamento deste ano, a expectativa do governo é que os ajustes no IOF gerem uma arrecadação adicional de R$ 20,5 bilhões em 2025, contribuindo para o cumprimento da meta fiscal de zerar o déficit das contas públicas.
O que gerou a reação negativa do mercado, no entanto, foi a forma como o governo apresentou o pacote fiscal:
* de um lado, o bloqueio de R$ 31,3 bilhões em despesas, visto como um sinal positivo de responsabilidade fiscal;
* de outro, o aumento do IOF, que causou desconforto por ter sido mal comunicado, por afetar investimentos e por ser interpretado como uma tentativa de aumentar a arrecadação em vez de cortar gastos, segundo analistas.
Além disso, a elevação da alíquota para aplicações de fundos nacionais no exterior gerou ruídos sobre um possível controle de capitais — o que levou o governo a recuar da medida poucas horas depois.
“Foi um puxadinho”, resumiu o economista André Perfeito ao blog da Camila Bomfim, no g1. Segundo ele, a correção feita poucas horas depois transmite uma imagem de falta de credibilidade.
A economista Carla Beni disse que o recuo transmite “coisas muito ruins”. “A leitura é que o governo aumentou imposto e depois não segurou a pressão. Sob a ótica da comunicação é péssimo, demonstra fraqueza e suscetibilidade a pressões.”
Ambos os economistas avaliam que essa instabilidade pode fortalecer ações da oposição com o objetivo de desgastar o governo. “É um prato cheio para a oposição, economia e política num caso desse são indissociáveis”, disse André Perfeito.
Todo esse cenário ocorre em meio a um aumento expressivo das despesas públicas. Um exemplo é o reembolso feitos por aposentados e pensionistas vítimas da fraude dos descontos associativos do INSS.
O mercado também acompanha os impactos da nova medida provisória do governo que altera regras do setor elétrico e amplia os descontos na tarifa de energia. Segundo dados oficiais, cerca de 55 milhões de brasileiros serão beneficiados com descontos e 60 milhões com isenção na conta de luz.
Para Vladimir Fernandes Maciel, coordenador do Centro Mackenzie de Liberdade Econômica, “ao optar por um bloqueio significativo de despesas e pela elevação de receitas, ainda que por meio de aumento tributário, o Ministério da Fazenda demonstra disposição de conter o avanço dos gastos públicos”.
Mesmo assim, o valor anunciado “ainda é insuficiente para assegurar o cumprimento integral da meta fiscal, dada a aceleração dos dispêndios no primeiro semestre do ano”.
Com a revogação parcial do aumento do IOF, “a estimativa de arrecadação já caiu, sem qualquer contrapartida na despesa. O déficit permanece aberto”, alerta João Arthur Almeida, CIO da Suno Wealth.
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