Quinta-feira, 02 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 2 de outubro de 2025
Entrevista exclusiva para o jornal O Sul.
A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) realizou nesta quinta-feira (2) sua 44ª eleição, com chapa única e votação presencial na sede da entidade, em Porto Alegre. Dos 134 sindicatos rurais aptos a votar, 123 participaram do pleito. A chapa liderada por Domingos Antonio Velho Lopes recebeu 120 votos, com dois nulos e um em branco. A posse da nova diretoria está marcada para 1º de janeiro de 2026, quando se inicia o mandato que coincidirá com o centenário da entidade.
Em entrevista exclusiva ao jornal O Sul, Domingos expôs os planos para o triênio 2026–2029 e destacou o peso da responsabilidade que assume. “Muita responsabilidade, um compromisso muito grande. Suceder homens da qualidade de Carlos Sperotto e Gedeão Pereira não será fácil. É uma régua muito alta. Mas teremos uma equipe muito bem articulada, e a articulação é uma das nossas características: valorização da comunicação, da ciência, da harmonia entre os poderes, com participação efetiva da Federação nas decisões, na colocação dos nossos valores, dos nossos anseios, das nossas inquietudes. Estamos envaidecidos com a escolha do nosso nome, sabendo do compromisso que teremos.”
Transição e representatividade
Domingos sucede Gedeão Pereira, que assumirá a primeira vice-presidência da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), o mais alto cargo já ocupado por um produtor rural gaúcho na entidade nacional. Até janeiro, Lopes conduzirá uma articulação intensa de transição. “O presidente Gedeão também estará em transição para Brasília. Estaremos fortemente alicerçados nos nossos sindicatos, os 134 que hoje estão em atividade no estado, para levar boas informações, o legado do nosso passado, mas principalmente compromissados com o que temos: um grande futuro na produção de alimentos e energia, que será o nosso foco. Valorizando a imagem do produtor rural e trazendo seus valores como centro das nossas decisões para construir uma sociedade melhor, especialmente com boa relação com a população urbana.”
Produção e sustentabilidade como forças complementares
Entre as prioridades da nova gestão está o fortalecimento da pauta ambiental, com foco na complementaridade entre produção e sustentabilidade. “Essas não são forças opostas, mas aliadas. O agro gaúcho é reconhecido internacionalmente como modelo de agricultura sustentável, inclusive pela FAO e pela ONU nas últimas COPs.”
A adaptação às mudanças climáticas também será central, com ações voltadas à irrigação, manejo de solos e enfrentamento do endividamento rural. “O produtor não é responsável pelos efeitos climáticos que ceifaram 50% do nosso PIB estadual nos últimos seis anos. Cinco safras frustradas é um caos. Por isso, a Farsul seguirá atuando fortemente na articulação com o BNDES, Ministério da Fazenda, Agricultura e Tribunal de Contas para garantir o alongamento dos débitos e medidas efetivas.”
Educação e comunicação como pilares estratégicos
Domingos reconhece que o setor produtivo falhou historicamente na comunicação com a sociedade urbana. “Fomos reativos, negligenciamos a pauta ambiental quando ela passou a ser usada ideologicamente. Agora, precisamos trazer ciência, tecnologia e verdade para esse debate, mostrando que só a atividade primária pode sequestrar carbono em escala significativa.”
Ele reforça que as soluções da segurança alimentar mundial passam pela produção brasileira — especialmente a gaúcha — de alimentos, fibras e energia. “Esse tipo de comunicação precisa ser trabalhado com atenção às escolas e universidades, com pautas baseadas em ciência e dados oficiais, e não em teses políticas que só prejudicam o país.”
Sucessão familiar e infraestrutura rural
Outro foco será a sucessão familiar nas propriedades. Lopes defende que o campo precisa de sucessores, não apenas herdeiros. “É importantíssimo que as gerações que estão vindo tenham harmonia com a experiência de quem já está no campo. Isso passa por infraestrutura — internet, boas estradas, acesso à informação. O conforto tem que estar dentro da porteira para que jovens e experientes possam construir juntos uma gestão coletiva.”
Energia e biocombustíveis como futuro do agro
Domingos aposta na geração de energia dentro das propriedades como um divisor de águas para o agro gaúcho. “O Brasil tem vocação produtiva e a oportunidade internacional está na geração de alimentos, proteínas e energia. Isso precisa ser trabalhado com força e visão estratégica.”
Participação social e formação técnica
A nova gestão também pretende ampliar a atuação do braço tecnológico da Farsul, o SENAR-RS, com cursos de formação profissional, promoção social e gestão interna das propriedades. “A participação da Farsul na sociedade é permanente. Queremos mostrar à juventude urbana o valor da produção rural, inclusive com ações como hortas comunitárias e valorização do sistema hortifrutigranjeiro.”
Com essa visão integrada, Domingos Velho Lopes inicia sua jornada como presidente eleito da Farsul, com a missão de reposicionar o agro como força construtiva, sustentável e essencial para o Brasil e para o mundo. (Gisele Flores)