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Por Redação Rádio Pampa | 1 de setembro de 2022
Com a onda de contágios por causa da variante ômicron do novo coronavírus, em janeiro, ainda mais para trás, os brasileiros puderam voltar a frequentar cada vez mais bares e restaurantes, hotéis, cinemas e salões de beleza, impulsionando o crescimento econômico do segundo trimestre. Puxado pelo setor de serviços, o Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todo o valor gerado na economia) avançou 1,2% na comparação com o primeiro trimestre, informou nesta quinta-feira (1º), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O crescimento veio acima do 0,9% estimado por analistas e foi generalizado: o setor de serviços apresentou alta de 1,3%; a indústria, de 2,2%; e agropecuária, de 0,5%, voltando a crescer após a queda verificada no início do ano, por causa da quebra da safra de soja.
Em seguida à divulgação dos dados, começou um processo de revisão para cima das projeções para o crescimento econômico do ano. Economistas do Bank of America (BofA) elevaram a estimativa para 3,25%, ante 2,5% anteriormente. A XP Investimentos vê o desempenho mais próximo de 3%. O banco Goldman Sachs elevou a projeção para 2,9%, ante 2,2% anteriormente. Em relatório, a equipe da Rio Bravo Investimentos vê um avanço anual mais próximo de 2,5%, em vez dos 2,0% atualmente projetados.
A força da “normalização” das atividades do setor de serviços, que já havia puxado a economia nos três primeiros meses do ano, garantiu um desempenho melhor do que o esperado na primeira metade de 2022. Antes mesmo da divulgação dos dados do PIB do segundo trimestre, economistas já esperavam um crescimento econômico em torno de 2% neste ano fechado, bem acima das projeções de variação perto de zero, consenso em janeiro.
“A demanda reprimida da pandemia e a geração maior de empregos foram os principais fatores para o crescimento (no segundo trimestre). Ele está mais associado a uma melhora estrutural da economia do que a uma melhora cíclica por impulsos do governo”, afirma a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitoria.
A demanda ficou “reprimida” porque as famílias passaram dois anos sem poder frequentar normalmente bares e restaurantes e demais serviços que dependem de contato pessoal. Neste ano, os consumidores retomaram esses gastos com força. Com isso, pela ótica da demanda do PIB, o consumo das famílias – cerca de metade dele é direcionado para os serviços – avançou 2,6% ante o primeiro trimestre, enquanto a formação bruta de capital fixo (FBCF, a conta dos investimentos no PIB) avançou 4,8%.
Com o crescimento, o consumo das famílias atingiu no segundo trimestre o maior nível da série histórica do PIB, iniciada em 1996, mostram os dados do IBGE. Embora seja positivo, o recorde, que anteriormente fora registrado no quarto trimestre de 2014, aponta para uma economia estagnada num período de oito anos. O PIB agregado ainda está 0,3% abaixo do nível máximo, registrado no primeiro trimestre de 2014.
Para Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) e coordenadora do Boletim Macro Ibre, a alta do consumo pode ser classificada como um “mini-boom”. A economista lembrou que, desde meados do ano passado, analistas vinham ressaltando que o fim da pandemia poderia provocar tal impulso, pois as famílias, especialmente as de maior renda, seriam liberadas para gastar parte relevante de seus rendimentos em serviços, como sempre costumavam fazer.
Inicialmente, se esperava a recuperação da demanda reprimida para as festas de fim de ano de 2021, mas ela não veio. Em seguida, uma parte do movimento ocorreu no primeiro trimestre deste ano. Agora, ele parece ser vindo com força no segundo trimestre. “Neste (segundo) trimestre parece ter sido isso. As pessoas foram para festas, casamentos. Acumulou tudo”, diz Matos.
Para além dessa recuperação “cíclica”, relacionada à normalização, Vitória, do Banco Inter, cita o desempenho dos serviços administrativos e de tecnologia da informação como sinais de “melhora estrutural” da economia. “Atribuímos isso aos novos marcos regulatórios aprovados, como a Lei da Liberdade Econômica”, diz a economista.
Empregos
Além disso, como as atividades que voltaram ao normal estão entre as que mais empregam no País, a geração de vagas de trabalho também ajuda a sustentar a demanda doméstica. No segundo trimestre, a população ocupada aumentou em 3,1% na comparação com os três primeiros meses do ano, o que indica a abertura de 2,994 milhões de postos de trabalho, entre formais e informais, conforme dados já divulgados pelo IBGE.
Para a economia, o efeito é positivo, ainda que as vagas paguem salários, em média, menores e que a inflação corroa a renda. Pode não ser um ciclo virtuoso de aumento da demanda sustentada pelo mercado de trabalho, mas é mais um fator a impulsionar a demanda doméstica.
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