Segunda-feira, 18 de Agosto de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 17 de agosto de 2025
O Brasil impõe há décadas barreiras intransponíveis para o seu desenvolvimento e aumento do bem-estar da população por ser uma das economias mais fechadas do mundo. De fora das grandes cadeias produtivas globais e com participação irrisória pouco superior a 1% no comércio mundial, o isolacionismo brasileiro freia o crescimento e estrangula a produtividade e a renda.
Desde a década de 1980, o Brasil vive na chamada “armadilha do baixo crescimento”. O aumento médio do PIB, que beirou 7,5% entre 1950 e 1980, despencou para cerca de 2,5% a partir de 1981. O fator crucial para a estagnação é a baixa produtividade.
Por hora trabalhada, a produtividade cresceu em média apenas 0,5% ao ano entre 1981 e 2023. Enquanto a agropecuária registrou avanço robusto de 6% ao ano, a indústria teve desempenho negativo, com queda média de 0,3% ao ano (-0,9% na indústria de transformação).
O setor de serviços, que representa 70% das horas trabalhadas, ficou praticamente estagnado. Sem uma aceleração da produtividade, a melhoria do padrão de vida da população brasileira não ocorrerá, afirmam especialistas.
No setor de máquinas e equipamentos, em que as importações poderiam elevar a produtividade das empresas, o Brasil tem as maiores tarifas do mundo, de até 11,5%.
“Isso barra a compra de máquinas avançadas e a eficiência, inclusive para aumentar as exportações”, afirma Fernando Veloso, autor com outros economistas de livro do Centro de Debates de Políticas Públicas (CDPP), que destaca a urgência de uma nova agenda de integração comercial internacional.
Distanciamento
A tese central do trabalho (“Integração Comercial Internacional do Brasil”) é que, após ter desempenhado papel relevante na industrialização do país, a manutenção de uma economia fechada ao comércio exterior tornou-se obstáculo à produtividade e ao desenvolvimento.
Isso leva o Brasil a se distanciar cada vez mais dos níveis dos EUA. Se nos anos 1980 um trabalhador brasileiro alcançava 46% da produtividade de um norte-americano, hoje ele produz um quarto (25,6%). É o mesmo nível de sete décadas atrás, segundo dados do Conference Board. Significa que o um brasileiro leva uma hora para fazer o mesmo produto ou serviço que um americano realiza em 15 minutos.
Para os autores, o tarifaço de Donald Trump contra o Brasil mostrou a necessidade de o país diversificar e aumentar seu comércio internacional.
Apesar de uma breve liberalização na primeira metade da década de 1990, iniciada no governo Fernando Collor (1990-1992) — quando as tarifas caíram de uma média de 30,5% para 12,8% —, o país voltou a persistir na utilização da política de substituição de importações e em práticas que o afastaram do movimento internacional de liberalização.
“Enquanto a maioria dos emergentes continuou reduzindo tarifas e se inserindo em cadeias globais de valor, o Brasil ficou parado, distanciando-se novamente de seus pares”, afirma Veloso.
Barreiras
As barreiras no Brasil permanecem elevadas, e a tarifa média para produtos industriais gira em torno de 12%, o dobro das mexicanas e quase o triplo das cobradas na União Europeia. Em 2021, o Brasil tinha a 13ª média tarifária mais elevada em um ranking de 191 economias, atrás apenas de alguns países da África ou de pequenas ilhas do Caribe.
Além disso, o país é um dos que mais utiliza barreiras não tarifárias, aplicando-as em 86% do valor de suas importações, contra uma média de 72% de 75 países. Esses entraves —regulamentos técnicos, normas de segurança e procedimentos alfandegários complexos— podem aumentar os preços dos produtos importados em até 2,4 vezes, um impacto mais elevado que o das próprias tarifas.
Protecionismo
Eles incluem regimes setoriais, ex-tarifários (em que há permissão burocrática para importar máquinas que não tenham similares nacionais), a Zona Franca de Manaus e o drawback (autorização de importar com tarifa menor desde que para exportar depois), resultando em um regime muito fragmentado.
O protecionismo impõe obstáculos que impedem a absorção de tecnologia de ponta e desincentivam ganhos de competitividade. Um exemplo eloquente é o custo do iPhone no Brasil, o segundo mais caro em uma comparação de 37 países, atrás apenas da Turquia.
Essa realidade se estende a diversos produtos, como veículos elétricos e painéis fotovoltaicos, cujas tarifas de importação foram elevadas, na contramão dos objetivos de descarbonização. As informações são da Folha de S. Paulo
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