Domingo, 26 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de março de 2022
Muita gente ainda não se deu conta de que o grande responsável pelo forte crescimento do gasto público – e, portanto, pelo problema fiscal – é a disparada dos gastos previdenciários, notadamente em Estados e municípios.
Ao fazer essa constatação, o economista Raul Velloso acrescenta o que considera um desafio histórico: a falta de investimento público. Ele constata “um viés doentio antiinvestimento público” e discorda do ministro Paulo Guedes, que sonha trazer investimentos privados externos para substituílo. Esse investimento, avisa,
“não vem para cenários de incerteza. Sem investimento público, que garanta produtividade, não há milagre”. Nesta entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Velloso – uma das grandes cabeças das contas públicas do País – lembra-se de seu irmão mais velho, o ministro João Paulo dos Reis Velloso, que tocou o planejamento estratégico no regime militar de 1969 a 1979. Havia então planejameento estratégico. Mas os governos abandonaram esse foco. E a criação, por Bolsonaro, do Ministério da Economia deixou essa tarefa de lado”.
A seguir, os principais trechos da conversa.
1) Há muita discussão e poucos avanços no debate sobre o “problema fiscal” brasileiro. Existe uma receita para sair desse atoleiro?
O grande problema fiscal do País é o forte crescimento dos “gastos obrigatórios”, notadamente nos Estados e municípios. Eles dispararam de 2006 para cá. E a questão central são os gastos com a Previdência dos servidores públicos. Veja só: nos municípios, entre 2011 e 2018, esse gasto subiu 12,5% ao ano. Nos Estados, de 2006 até 2018, foram 5,9%/ano. Nesse mesmo período o PIB cresceu 1,4% ao ano.
2) Um desequilíbrio grande…
Desse modo não há arrecadação que aguente. Outro dado de peso: o dinheiro para investimentos públicos, em relação ao PIB, caiu muito, voltamos para os níveis vigentes na década de 1940. Como chegamos a esse ponto? Aí vem o (ministro Paulo) Guedes e diz que precisamos de investimento externo, que ele pode substituir o público na tarefa de desenvolver o País.
3) É a solução mais à mão?
Isso não é verdade. Ele é arredio. O investidor privado não vai pôr dinheiro nisso sem garantia de retorno. Ele não entra num lugar sem certeza de regras claras, duradouras.
4) A reforma da Previdência federal estabeleceu prazos para Estados e municípios fazerem reformas e ajustarem suas contas.
Sim, mas isso tem evoluído de forma bastante lenta. Assim fica o temor de que, em Estados e municípios, se esgote o espaço para investimento, impedindo o crescimento e a desejada ampliação dos empregos. É visível como o investimento público em infraestrutura desabou, enquanto o privado se manteve estável.
5) Se houvesse um equilíbrio, o investimento cresceria?
Aprovadas essas reformas, se abriria o espaço para investir mais. Só que, na prática, por motivos que não cabe aqui detalhar – como a forte resistência à mudança de parte de servidores atuantes –, o processo de ajuste tem evoluído de modo muito lento.