Segunda-feira, 29 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 29 de setembro de 2025
O prédio tem 10 andares e o elevador pifou de vez . Será preciso uma reforma geral. O síndico convoca uma assembléia geral extraordinária para discutir o assunto, custos, orçamentos, essas coisas…
Na reunião, um dos moradores de apartamentos do térreo pediu a palavra e argumentou em tom de voz firme: “Sou um injustiçado com as despesas de manutenção dos elevadores. Não uso elevador, aliás, nunca nem entrei e não vou entrar. Acho uma injustiça os moradores do térreo terem que pagar despesas de algo que nunca usam!”.
Os demais moradores do térreo aplaudiram com entusiasmo, deixando atônitos os demais moradores.
Um morador representando o 1° andar pediu a palavra e justificou que praticamente também não usava os elevadores, preferindo sempre utilizar as escadarias. Assim, considerava que o certo seria que os moradores do 1° andar também fossem isentos.
O rateio do conserto deveria ser entre apartamentos do 2° andar em diante e proporcional ao andar, quanto mais alto mais paga. Nesta altura, o representante dos apartamentos do 10° andar sentiu a situação nada favorável e pediu a palavra: “Os andares mais altos não usam as escadarias, porém, o condomínio tem uma grande despesa com a empresa que realiza a limpeza do prédio, sendo a metade do tempo da diarista gasto na limpeza nas escadarias. Proponho que o pessoal do 1° e 2° andar assumam este custo em separado da faxina do prédio e, por questão de justiça, os demais sejam isentos do custo de limpeza das escadas.
Pessoal do 1° e 2° andar vaiaram e todos os demais aplaudiram!
“E mais ! O IPTU deve ser pago somente pelos moradores do térreo, pois o imposto é pela ocupação do solo, ou seja, Imposto Predial Territorial Urbano é a terra, é o chão!”.
E prosseguiu: “Não é justo que nós do 10° andar, lá nas alturas, sem acesso ao chão, tenhamos que pagar por algo que nem temos! É uma mordomia dos apartamentos térreos!”.
Os moradores do térreo, vaiando, gritando e dizendo palavras de ordem que seus apartamentos é que sustentavam as estruturas do prédio e nem tinham qualquer tipo de compensação, um esforço e peso monstruoso em cima de suas residências.
Em meio à gritaria geral, uma moradora do lado Sul do prédio argumentou que não era justo que apartamento do lado sul, onde não tem o privilégio do sol do inverno, portanto, muito mais frio, deveria ter uma cota de energia elétrica gratuita, pois seus ar-condicionados ficam ligados muito mais tempo para esquentar os ambientes.
Todos moradores do lado sul aprovaram em palmas e gritos!!!
Um representante do lado norte já saiu falando: “Nós gastamos uma fortuna no verão com ar-condicionado para refrescar o ambiente! Exigimos uma cota de energia verão para nossos imóveis!”.
O pessoal do lado oeste e leste, sem argumento para ganhar cotas-energia, protestou. “Isso será uma injustiça, pois nós não teremos direito a cotas!”.
Todos gritavam e falavam todo tempo em injustiças, igualdade e privilégios. Para aumentar a confusão, um morador de apartamento de frente também alegou o prejuízo com o barulho da rua, carros, motos passando em frente a sua janela, enquanto os moradores dos fundos têm a vantagem do silêncio e paz e tranquilidade e que isso era falta de igualdade, e os moradores de frente tinham que ser recompensados por essa tamanha injustiça!
Assim está o Brasil hoje. Separados em “trocentas” minorias de injustiçados e clamando por igualdade, todos gritando palavras de ordem contra os privilégios sempre dos outros.
Muita retórica, muitas palavras que perderam o verdadeiro sentido. O “vitimismo” e fragilidades são o passaporte para programas de cotas, vales- isso e bolsas-aquilo.
Criou-se uma psico-dependência financeira do cidadão em relação ao Estado. As condições ruins, sejam de origem, eventuais ou passageiras, são todas consideradas injustiças.
Estamos perdendo a força de lutar contra as adversidades e impondo reparações para alcançar uma igualdade que é naturalmente impossível.
* Rogério Pons da Silva, jornalista e empresário
rponsdasilva@gmail.com