Domingo, 07 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 6 de setembro de 2025
O governo de Javier Milei enfrentará neste domingo (7) um grande teste nas urnas antes das eleições legislativas de 26 de outubro. A província de Buenos Aires, a mais populosa do país e um tradicional bastião da oposição, realizará pela primeira vez desde 1983 um pleito em separado para escolher seus representantes locais. A votação é tratada como um referendo da aprovação do presidente libertário, que vive um momento de forte desgaste devido a um escândalo de corrupção, e de sua radical agenda econômica.
O reduto peronista, governado pelo opositor Axel Kicillof, renovará 46 representantes na Câmara e 23 no Senado – metade das cadeiras legislativas – além de vereadores e conselheiros escolares municipais. Segundo analistas, o pleito não só vai medir a capacidade de Milei de transformar sua popularidade em votos para seu partido, o La Libertad Avanza (LLA), em meio à crise, mas também a força da oposição, fragilizada pela prisão da ex-presidente Cristina Kirchner, de mobilizar o eleitorado.
As últimas pesquisas indicam um cenário de empate técnico, com leve favoritismo da oposição. Mas uma derrota ampla de Milei, uma hipótese não descartada, pode elevar o clima de desconfiança nos mercados e afetar a economia, segundo analistas, com impactos negativos sobre as eleições de outubro, quando o governo tentará ampliar sua base no Congresso.
“O resultado em Buenos Aires definirá a narrativa política rumo a outubro: uma vitória da LLA consolidaria a ideia de que o governo pode crescer em todo o país”, afirma Juan Ignacio Di Meglio, diretor de Assuntos Públicos da LLYC Argentina. “Enquanto isso, um bom desempenho do peronismo reforçaria seu papel como oposição com capacidade de recuperação no médio prazo”.
Milei obteve conquistas ao longo do ano que aumentaram sua confiança para o pleito, entre eles a redução da inflação – um problema crônico do país – e a vitória em maio nas eleições locais da Cidade Autônoma de Buenos Aires, que encerrou 18 anos de domínio do Partido PRO, do ex-presidente Mauricio Macri.
Nas últimas semanas, porém, a divulgação de áudios que expuseram um suposto esquema de propina na compra de medicamentos – envolvendo sua irmã, Karina Milei, e outros importantes funcionários do governo – desgastou a imagem de Milei na reta final da campanha, marcada por um ataque com pedradas contra um carro em que o presidente estava.
A instabilidade política já vem se refletindo na economia, com analistas apontando que a agenda de Milei perdeu a clareza que havia consolidado inicialmente. A recuperação econômica estagnou nos últimos meses, assim como a confiança dos consumidores. Indicadores privados mostram que a inflação em agosto voltou a acelerar.
No mercado de câmbio, o dólar mantém uma trajetória de alta consistente, acumulando valorização de 18,9% desde meados de junho. Para conter a volatilidade, o governo recorreu a uma ferramenta que antes criticava e começou a intervir para conter a alta da moeda americana. Já o risco-país da Argentina avançou para quase 900 pontos-base, o maior patamar desde meados de abril.
“Há três semanas o governo tinha praticamente garantida uma vitória na província de Buenos Aires e uma vitória ainda maior nas eleições nacionais de outubro”, avalia Dante Moreno, economista da consultoria EPyCA. “Depois da divulgação dos áudios, a imagem do governo, e especialmente de Milei, começou a se desgastar. Isso gerou uma mudança nas chances de vitória em Buenos Aires.”
Uma derrota governista pode abalar ainda mais os mercados, em meio ao temor de que a instabilidade financeira se prolongue caso Milei não consiga apoio suficiente para sustentar sua agenda nos próximos dois anos de mandato.
“Há uma grande expectativa por parte dos mercados, que vêm atravessando forte turbulência nos últimos dois meses”, diz o cientista politico argentino Sergio Berensztein. “Dependendo do resultado, isso pode levar a um cenário de maior calma, caso o governo tenha uma boa eleição, ou de maior volatilidade, se ocorrer o contrário”.
Segundo analistas, um triunfo do peronismo por uma diferença de apenas 2 pontos percentuais seria interpretado de forma relativamente positiva pelo mercado. Nesse cenário, Milei ainda teria margem para conquistar cadeiras adicionais nas eleições gerais de outubro, mantendo viabilidade política e uma narrativa de resiliência para os investidores.
O cenário visto como mais adverso para os mercados seria o de uma derrota expressiva do LLA, com os peronistas vencendo por uma diferença maior que 5 pontos percentuais. Isso poderia inaugurar uma nova fase de volatilidade, aumentando a incerteza no câmbio, nos títulos e nas ações.
“Se o governo perder as eleições em Buenos Aires por uma diferença significativa – mais de cinco pontos -, a situação se agrava para outubro em termos eleitorais e também se agrava para Milei em termos de governabilidade”, afirma Moreno. “Isso é visto como um problema pelos investidores, operadores financeiros internacionais e também alguns locais, que então começam a buscar uma alternativa para essa situação”.
No cenário considerado mais otimista, uma vitória robusta de Milei em Buenos Aires poderia ajudar a atenuar a pressão cambial e reduzir as tensões no mercado, fortalecendo a posição do governo às vésperas das eleições nacionais de outubro, segundo Berensztein. As informações são do jornal Valor Econômico.