Domingo, 09 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 8 de novembro de 2025
Um levantamento realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) revelou um dado alarmante: em apenas um mês (janeiro deste ano), R$ 3,7 bilhões saíram de contas de beneficiários do programa social Bolsa Família diretamente para empresas de apostas on-line. O valor equivale a 27% do montante de R$ 13,7 bilhões pagos no mesmo período pela iniciativa do governo federal.
Na base do cálculo está o cruzamento dos CPFs de apostadores com o banco de dados do programa, levando à constatação de que 4,4 milhões de famílias – cerca de 22% das beneficiárias – realizaram algum tipo de transação envolvedo as chamadas “bets”. A Corte de contas também já sabe que boa parte desses núclos residenciais enfrenta níveis preocupantes de endividamento.
O TCU também constatou uma forte concentração das movimentações: 20% das famílias apostadoras foram responsáveis por cerca de 80% do valor total transferido, o que acendeu o alerta para possíveis fraudes, incluindo o uso irregular de CPF. Há registros de transferências incompatíveis com a renda declarada: em um dos casos, a família enviou R$ 2,1 milhões a plataformas de apostas em apenas um mês.
“Valores como esse estão muito acima da realidade dos beneficiários do Bolsa Família, bem como da maioria dos brasileiros. Isso reforça a hipótese de uso indevido de cadastros da pessoa física para movimentações ilegais”, aponta o relatório do Tribunal.
Dentre os casos mapeados, quase 890 mil famílias concentraram R$ 2,9 bilhões em apostas, o equivalente a 78% do total gasto. Outras 3,2 milhões transferiram até R$ 600, enquanto 820 mil enviaram mais de R$ 1 mil a sites de jogos. A investigação identificou, ainda, ao menos 2,8 mil famílias em situação crítica de endividamento e quase 775 mil com comprometimento das necessidades básicas.
O levantamento considerou apenas casas de apostas autorizadas. Mas o TCU ressalta que plataformas ilegais continuam em operação, mesmo diante de esforços do governo para combatê-las, o que pode indicar um cenário ainda mais crítico.
Reação
No início de outubro, o governo federal publicou uma regra para impedir a realização de apostas por meio de contas utilizadas por beneficiários de programas sociais. A proibição envolve contas utilizadas por beneficiários de Bolsa Família e do Benefício de Prestação Continuada (BPC).
A mesma medida obriga as “bets” a realizarem consultas em um sistema público, tanto no momento de abertura de cadastro quanto na realização do primeiro login do dia. O prazo para implementar os procedimentos foi estipulado em até 30 dias, ou seja, já deve estar valendo. Ao menos em tese.
Além disso, até 15 de novembro as empresas de apostas online devem fazer consultas no sistema do governo de todos os CPFs cadastrados em seus sistemas de apostas. Caso um usuário seja identificado como beneficiário de programas sociais, a empresa terá de encerrar a conta em até três dias. As medidas cumprem determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir que recursos de programas assistenciais sejam usados em apostas. (com informações de O Globo e Tribunal de Contas da União)