Segunda-feira, 27 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 26 de outubro de 2025
Antes fechada ao mundo, a China superou os Estados Unidos no comércio global em duas décadas, tornando-se principal rival do país. Se há 20 anos eram 148 países fazendo mais negócios com o mercado norte-americano que com o do “gigante asiático”, em 2024 há situação já era outra: 141 nações priorizam o gigante asiático e 82 a terra do “Tio Sam”.
A comparação considera os valores de importações e exportações a partir de dados da Organizaçao das Nações Unidas (ONU) sobre o comércio de bens de 2000 a 2024. Também são levados em conta estatísticas da Organização Mundial do Comércio (OMC) refereites a serviços no período de 2005 a 2023, no que se refere a importações e exporetações.
A arrancada se deu pelo Hemisfério Sul, começando pela Oceania e avançando pela África ao longo dos anos. No Brasil, a China tem demonstrado dua força desde 2010. Já em 2005, a maioria da Oceania se voltou para os chineses na pauta de negócios. Na África, onde apenas 12 países priorizavam a China em 2000, houve forte incremento nessa relação desde 2006 – dois depois, os Estados Unidos já não detinham a primazia na maior parte do continente.
Uma consequência desse cenário é a dependência de produtos chineses, evidenciada na crise dos chips que ameaça parar fábricas pelo mundo. Em duas décadas, o mercado global passou por uma das mais dramáticas transformações da história econômica moderna, em um movimento que ajuda a explicar o recente tarifaço americano: a ascensão da China como potência e grande rival dos Estados Unidos no comércio mundial.
O cenário foi parecido na parte oriental do globo, com maior presença chinesa no Leste Europeu, na Ásia e no Oriente Médio desde 2007. No ano passado, apenas seis países da Ásia mantiveram a prioridade aos norte-americanos — incluindo-se parceiros tradicionais do Oriente Médio, como Israel e Jordânia.
Europa Ocidental e América Latina também têm se aproximado da China, mas começaram esse movimento um pouco mais tarde, por volta do ano de 2010. Entre 2015 e 2017, a China dominou o comércio com a maioria das nações da Europa Ocidental, com recuperação dos Estados Unidos em alguns países nos anos seguintes.
Já no continente americano, os americanos predominam nas relações comerciais com parceiros tradicionais, como Canadá, México, Colômbia e a maior parte do Caribe. Na América do Sul, houve alternância, com primazia absoluta chinesa entre 2015 e 2022 e aumento da presença americana em 2023 e 2024. No Brasil, a China segue mais forte desde 2010.
Estratégia de longo prazo
A virada chinesa é resultado de uma estratégia econômica de longuíssimo prazo. O motor inicial para a ascensão está na política de “reforma e abertura”, do final dos anos 1970, idealizada pelo líder nacional Deng Xiaoping, que incentivou a adoção da chamada economia de mercado socialista.
Tal mudança permitiu que, em 1999, o país desse o primeiro passo para a abertura de mercado ao assinar um acordo comercial inédito com os Estados Unidos. Tal avanço colocou a China às portas da OMC.
O documento previa que as empresas estrangeiras de telecomunicações poderiam possuir até 50% das companhias chinesas, que as alíquotas de importação para carros fabricados no exterior cairiam de 100% para 25% e que os bancos estrangeiros passariam a operar com yuans em território chinês.
A China concordou, ainda, em limitar sua exportação de produtos têxteis, com o estabelecimento de cotas, e se comprometeu a adotar medidas antidumping, combatendo o comércio desleal. Em dezembro de 2001, após 15 anos de longas negociações, houve a inclusão formal da China na OMC.
O gigante asiático se comprometeu a liberalizar as importações, eliminar cotas e reduzir drasticamente as tarifas alfandegárias. Em troca, obteve acesso aos vastos mercados dos membros da OMC.
A adesão deu segurança jurídica aos investidores estrangeiros, e grandes corporações americanas, japonesas e europeias realocaram fábricas para a China, atraídas pela mão de obra barata, infraestrutura de exportação e incentivos governamentais. A China também fechou acordos de importação de tecnologia que lhe permitiram escalar a capacidade industrial rapidamente.
Com a OMC garantindo a estabilidade e o livre fluxo de mercadorias, a China concentrou-se em se tornar a “fábrica do mundo”, focando produtos manufaturados de alto volume e baixo custo, como têxteis e eletrônicos.
Nos últimos anos, a indústria do país reforçou o compromisso com a inovação, em parte para responder à concorrência acirrada no mercado doméstico. Isso também tem impacto global —que o diga o sucesso da indústria automotiva chinesa. (com informações da Folha de S.Paulo)