Segunda-feira, 08 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 7 de dezembro de 2025
Um vídeo de bastidor da viagem de Luciano Huck ao Parque Indígena do Xingu, realizada em agosto, voltou à tona na última semana e colocou o apresentador no centro de uma nova polêmica.
As imagens, que circulam nas redes sociais, mostram Huck orientando integrantes da equipe e indígenas sobre como deveriam aparecer diante das câmeras – incluindo pedidos para que evitassem celulares e retirassem peças de roupa consideradas “não tradicionais”.
Com pouco mais de um minuto, o vídeo registra o momento em que alguém alerta o apresentador de que um indígena usando uma camiseta amarela estava sendo filmado. Huck, que estava ao lado da cantora Anitta, então solicita que a pessoa seja retirada do enquadramento.
“Tira a roupa”, ele diz. Logo depois, agradece e completa: “É, limpa a cultura de vocês aí”. A fala repercutiu imediatamente entre internautas, que acusaram o comunicador de tentar interferir na representação visual dos povos originários.
Em agosto, Huck compartilhou um carrossel com 12 fotos da visita ao Xingu, destacando encontros com lideranças como o cacique Raoni Metuktire. Nas imagens, apenas Raoni aparece usando camisa. Os demais indígenas surgem sem o traje, reforçando ainda mais as críticas de que a produção teria buscado “padronizar” a estética do local.
O vídeo também mostra Huck conversando ao pé do ouvido com um dos líderes da aldeia enquanto avisa a presença de diversas câmeras no entorno. Em seguida, ele pede que o recado seja repassado: celulares não deveriam sair nas imagens registradas pela equipe de gravação. “Quanto mais celulares de vocês aparecem, eu acho que menos é a cultura de vocês”, afirma. “Quando aparece vocês de celular, mexe na cultura original.”
A repercussão negativa tomou conta das redes sociais assim que o bastidor foi divulgado. No Instagram, seguidores passaram a comentar de forma crítica.
Huck se pronunciou sobre o assunto. Em nota, o apresentador afirmou:
“Minha relação com as comunidades indígenas no Brasil atravessa décadas. Sou, e sempre serei, defensor dos povos originários, de sua cultura, de sua territorialidade e de sua preservação. Dos Zo’é aos Yanomami, estive pessoalmente em dezenas de terras indígenas ao longo da minha trajetória. Eu conheço de perto essa realidade; não foi alguém que me contou.
Sempre defendi que as escolhas sobre modos de vida, tradições e caminhos futuros pertencem única e exclusivamente aos próprios povos indígenas.
Sobre a imagem em questão, registrada nos bastidores de uma gravação, é importante esclarecer: não se tratou de impor qualquer tipo de limitação cultural ou de consumo. Foi apenas uma decisão de direção de arte, um ajuste pontual dentro do contexto de um set de filmagem, nada além disso.”
Também em nota, a Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) afirma que o apresentador da Globo foi infeliz em sua fala.
“Ao dizer ‘limpa a cultura de vocês aí’, sugerindo que a presença de celulares diminuiria a ‘autenticidade’ da imagem, reforça-se uma visão equivocada e perigosa sobre os povos indígenas. As culturas indígenas não precisam ser ‘limpas’. São diversas, vivas, dinâmicas e múltiplas”, diz trecho.
Em outro, afirma que cada indígena carrega com ele a cultura de seu povo, na língua, no corpo, na memória e nas práticas.
“Isso não deve ser apagado ou moldado ao olhar do outro. A Coiab espera que esse episódio sirva como reflexão e conscientização para toda a sociedade a respeito da diversidade cultural e do direito dos povos indígenas à autodeterminação. Com ou sem celular na mão”. (Com informações da Folha de S.Paulo)