Terça-feira, 17 de Setembro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 9 de abril de 2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva visita a China em um momento delicado do ponto de vista geopolítico, ainda mais considerando a posição ambígua do Brasil com relação à guerra na Ucrânia.
Lula foi precedido pelos presidentes da França, Emmanuel Macron, e da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que se reuniram com Xi Jinping em Pequim na quinta-feira (5).
Assim como o presidente brasileiro, esses dois líderes europeus também têm interesse em reenergizar as relações econômicas com a China, depois de três anos de lockdown que desaceleraram a atividade chinesa e impediram os contatos presenciais. Macron viajou com 50 empresários e novos acordos comerciais foram negociados.
Mas há uma diferença fundamental em relação à atitude brasileira frente à China. A França, em particular, e a União Europeia, em geral, têm dado importante apoio político, militar, financeiro e humanitário à Ucrânia, e impuseram pesadas sanções contra a Rússia por causa da agressão não-provocada.
Macron e Von der Leyen têm exigido na ONU e em outras instâncias a retirada das forças russas.
A reaproximação com a China foi apresentada por Macron e Von der Leyen como incentivo para que o governo chinês não forneça ajuda militar à Rússia e pressione Vladimir Putin a sair da Ucrânia.
A China se absteve de votações na ONU que condenaram a invasão da Ucrânia, enquanto o Brasil votou a favor em quase todos os casos. Essa é uma diferença importante.
Entretanto, o plano de 12 pontos propostos por Xi, assim como as declarações do governo brasileiro, não exigem a retirada das forças russas da Ucrânia como precondição para uma negociação de paz.
Ao lado de Xi, depois do encontro bilateral, Macron declarou: “A agressão na Ucrânia deu um golpe à estabilidade internacional. Sei que posso contar com o senhor para reconduzir a Rússia à razão e todo o mundo à mesa de negociações.”
A França e China concordaram sobre a necessidade de excluir o uso de armas nucleares do conflito – uma ameaça reiterada de Putin.
Mesmo assim, Macron e Von der Leyen foram criticados pela visita, apenas duas semanas depois de Xi reforçar a “parceria sem limites” e assinar 14 acordos com Putin em Moscou.
Para os críticos, uma visita como essa teria de ser emoldurada por claras ameaças, ainda que no plano econômico, para a China, se mantiver ou ampliar o apoio à Rússia.
O comércio bilateral entre os dois países cresceu 30% no ano passado, chegando a US$ 190 bilhões. A China comprou US$ 50,6 bilhões em petróleo bruto da Rússia de março a dezembro, um aumento de 45% em relação ao mesmo período do ano anterior.
As importações de carvão aumentaram 54%, para US$ 10 bilhões. As compras de gás natural, incluindo gás canalizado e liquefeito, dispararam 155%, para US$ 9,6 bilhões.
Metade do petróleo vendido pela Rússia é comprado pela China – e outros 20%, pela Índia; 40% do petróleo consumido pela China é russo. A energia que a Rússia deixou de vender para a Europa foi deslocada para esses dois gigantes asiáticos, que se beneficiaram de descontos nos preços das commodities.
A Índia aumentou em astronômicos 384% suas importações da Rússia em 2022.
A China tem aceitado rublos, a moeda russa, e pagado com yuans, a moeda chinesa, ajudando assim a Rússia a driblar as sanções financeiras e sua exclusão do sistema Swift de transações financeiras.
As moedas digitais emitidas por bancos centrais, adotadas por China, Rússia e Índia, e agora também pelo Brasil, devem facilitar essas transações entre os membros dos Brics, sem passar pelo dólar, euro ou libras. Tudo isso interessa não só à Rússia mas também à China, no contexto do acirramento das disputas com os Estados Unidos.
Além disso, empresas chinesas venderam US$ 12 milhões em drones e partes de drones para a Rússia, segundo reportagem do “The New York Times”, e 1.000 fuzis, partes de drones e coletes à prova de balas, de acordo com investigação do site “Politico”.
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