Segunda-feira, 19 de Maio de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 18 de maio de 2025
Para aqueles que, como este jornal, acreditam que nossas lideranças estão cada vez mais distantes da realidade do País, as viagens internacionais do presidente Lula da Silva têm oferecido argumentos suficientes para reforçar tal percepção – literalmente. Como se viu nas últimas agendas, a política externa lulopetista parece ter instituído um novo tipo de diplomacia, que baliza seu sucesso com base nos superlativos das comitivas presidenciais e, de preferência, na taxa de presença das maiores autoridades da República. Enquanto em solo doméstico os problemas se avolumam, Lula tem tirado do País, com frequência preocupante, um número excessivo de integrantes do primeiro escalão do governo, mas não apenas: incluem-se nos bondes governamentais uma dezena de parlamentares, os presidentes da Câmara e do Senado e, em alguns casos, até ministros do Supremo Tribunal Federal.
Há poucos dias, Lula desembarcou em Pequim com a primeira-dama e uma comitiva de cerca de 30 autoridades, incluindo 11 ministros, o chanceler paralelo, Celso Amorim, e integrantes da cúpula do Congresso, como o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o 2.º vice-presidente da Câmara, Elmar Nascimento. Para a viagem ao Japão, em março, a comitiva presidencial contava com inacreditáveis 220 pessoas, e Lula tratou de levar não só os recém-empossados presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, como também os antecessores Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Ao Vaticano, no funeral do papa Francisco, foram 20 autoridades, entre ministros, deputados e senadores.
Tem menor peso o debate sobre os gastos exorbitantes, ainda que, em tempos de dificuldades econômicas, o ideal seria um comportamento mais cauteloso do governo em relação a milionárias despesas com deslocamentos, hospedagens e diárias de viagens de integrantes que estão longe de serem essenciais. Afinal, viagens costumam ser estratégicas na busca pela diversificação de negócios, no impulso a setores prioritários, na abertura de mercados e no fortalecimento das relações internacionais. Embora a ida à Rússia tenha se resumido a um infame beija-mão a um déspota que lidera o massacre de inocentes na Ucrânia, a ampliação de parcerias comerciais deu o tom da visita à Ásia, por exemplo. Mas nos últimos anos o País assistiu a dois tipos de extremos: em encontros no exterior, o ex-presidente Jair Bolsonaro só conseguia conversar com os garçons; já Lula vive da ambição de ser festejado como vedete terceiro-mundista.
O problema aqui é de outra ordem. Que viagens dessa natureza são relevantes poucos duvidam. Mas é o caso de perguntar se exigem tanta gente. É realmente necessário levar, com tanta frequência, quase toda a cúpula da República? Há agenda suficiente capaz de explicar a presença do centro nevrálgico do Estado, deixando-o tantos dias longe dos problemas mais imediatos que atingem o País e clamam por tratamento? Tais perguntas seriam dispensáveis se o Brasil se mostrasse uma prioridade de todos os embarcados nas viagens lulopetistas; se as autoridades estivessem, de fato, discutindo os rumos do País em meio às turbulências globais do momento ou diante dos problemas incontornáveis que afligem a população; se os brasileiros não se deparassem, ao contrário, com um contínuo descasamento entre o poder instituído e suas reais necessidades; e se, por fim, Lula e seus ministros exibissem um plano de voo claro e consistente para o País, com direção e ideias adequadas aos desafios do nosso tempo.
Nada disso ocorre, infelizmente. Com o governo nas cordas, o presidente da República parece ter descoberto que as viagens internacionais podem ser úteis para deixar a cúpula do Congresso fora do País e adiar discussões sobre temas que não lhe interessam. Ou, ainda, servir para gestos simbólicos em favor de supostos aliados, como Davi Alcolumbre, e de contenção de potenciais adversários, como Hugo Motta, que, como um bom quadro do Centrão, age de maneira pendular entre o governo e a oposição. E assim Lula afaga egos que pensam em tudo, menos no Brasil. As informações são do portal Estadão.
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