Terça-feira, 08 de Outubro de 2024

Home em foco Entenda como a disparada das commodities provocou um choque de inflação no mundo

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Após mais de dois anos de pandemia, uma onda inflacionária generalizada assola o mundo e testa a atuação das autoridades monetárias de todas as partes do globo. O choque provocado pela crise sanitária, porém, não foi o único responsável pelo aumento desenfreado de preços que persiste até os dias atuais. A guerra na Ucrânia, que começou no início deste ano, foi o estopim para a situação se agravar e provocar a maior inflação em anos nas grandes economias.

A alta de preços nos Estados Unidos chegou a 9,1% no acumulado dos últimos 12 meses, maior patamar em quatro décadas. Na zona do euro não foi diferente: a inflação atingiu o nível mais alto da história, de 8,6% no mesmo intervalo. No Brasil, por sua vez, o cenário é ainda pior. Já são 10 meses consecutivos em que a inflação anual fica acima de dois dígitos, período mais longo desde 2003.

Já é sabido que o mundo foi muito afetado pela pandemia e depois pela guerra devido ao choque de ofertas sem precedentes. O ponto é que, se antes do conflito o ambiente macroeconômico já estava conturbado por causa da alta generalizada de custos, ocasionada pela crise de covid, a invasão da Rússia em território ucraniano só piorou o cenário global, sobretudo pelos problemas de oferta das matérias-primas de energia e alimentos.

Como a Rússia é um importante país produtor e exportador de gás natural e petróleo e a Ucrânia tem forte representação no comércio global de grãos, os preços dos combustíveis, do gás e da comida subiram em toda parte do mundo. Consequentemente, a inflação se dissipou e acelerou em escala global.

Alexandre Espírito Santo, economista-chefe da Órama e professor do Ibmec, explica que, apesar de causar o mesmo efeito na ponta final, a pandemia forçou a alta de preços por uma razão diferente da que foi motivada pela guerra. De um lado, a covid causou uma ruptura na cadeia produtiva por causa dos lockdowns. Do outro, quando o mundo estava mais perto de sair da crise sanitária, a guerra começou e provocou um choque de logística e escassez.

A título de exemplo, na pandemia as empresas deixaram de produzir porque as pessoas não podiam ir para as fábricas para trabalhar. Da mesma maneira que o agricultor não podia colher o grão. O conflito, por sua vez, impossibilita o escoamento do petróleo e do gás nas regiões afetadas. “São situações distintas, mas que no final dão na mesma direção: preço para cima e inflação elevada”, resume o professor. “É um momento muito complexo que o mundo está passando e ainda vai viver porque a inflação alta vai levar um tempo para voltar à normalidade”, admite.

Lucas Brunetti, analista de commodities da Garde, lembra que antes da pandemia e do conflito o mercado de commodities passou por um período em que os preços ficaram relativamente baratos, o que levou os principais produtores a investirem pouco no aumento da produção. Não bastasse, com o início da crise de covid e a adoção de lockdowns, as matérias-primas, principalmente petróleo e derivados de energia, deixaram de ser consumidas e também produzidas. Posteriormente, com a reabertura gradual das economias e a retomada da atividade, os preços das commodities subiram.

“Então, em um primeiro momento, a economia parou e os preços cederam demais. Depois houve uma retomada da atividade que fez os preços se recuperarem, mas o problema da oferta atrasada acelerou ainda mais o salto das commodities”, explica Brunetti.

Culpado

Não tem como negar que a guerra na Ucrânia intensificou o cenário nada animador no mundo, mas não foi a invasão da Rússia em terras ucranianas que motivou a alta de preços das commodities e o aumento do custo de vida. Os preços passaram a subir há mais de um ano, com uma maior demanda global por matéria-prima após o período mais duro da pandemia.

Assim, as restrições de produção e a escassez de mão de obra devido a interrupções nas cadeias de suprimentos aumentaram os custos de transporte e distribuição, que resultaram na escalada de preços dos combustíveis. Pelo lado da agricultura, problemas de oferta envolvendo questões climáticas, como a seca, afetaram o preço das commodities agrícolas e, como resultado, dos alimentos.

No entanto, com o conflito na Europa, parte da produção global de grãos foi comprometida e as sanções dos países do Ocidente à Rússia afetaram a distribuição do petróleo e do gás da região. Consequentemente, o mundo foi, mais uma vez, impactado pela disparada da inflação.

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