Sexta-feira, 11 de Julho de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 10 de julho de 2025
Nem a ascensão da Ásia, nem as reviravoltas tarifárias americanas, nem as iniciativas russas para contornar sanções. Nada disso seria capaz de remover o dólar de sua posição hegemônica como moeda de reserva internacional, usada na grande maioria das transações comerciais e financeiras mundo afora.
Essa é a tese defendida por Paul Blustein em “King Dollar: The Past and Future of theWorld’s Dominant Currency” (Rei Dólar: o passado e o futuro da moeda dominante no mundo), livro que o jornalista Martin Wolf, do “Financial Times”, escolheu como um dos melhores de economia deste ano até agora.
Com 40 anos de carreira, Blustein foi repórter econômico dos jornais “The Wall Street Journal” e “The New York Times”. Em 1985, cobriu o “acordo do Plaza” entre os Estados Unidos, o Japão e a Alemanha Ocidental, que inspira esforços do atual governo americano para reequilibrar a seu favor o comércio mundial. Desde então, publicou livros sobre a crise argentina de 2001, a grande crise financeira de 2008 e a Organização Mundial do Comércio.
No trabalho mais recente, Blustein prevê uma grave crise se os EUA insistirem em reverter a ordem mundial baseada em regras, a ponto de os investidores exigirem prêmios de riscos muito mais altos dos títulos americanos. Mesmo se isso acontecer, no entanto, o dólar seguirá impávido: removê-lo de seu posto monárquico seria custoso, difícil e demorado.
Além disso, não há alternativas que animem os agentes do mercado. Nem o euro, com seu sistema financeiro fragmentado. Nem o iene, com a pouca liquidez de seu mercado de títulos. Nem os pequenos libra e franco suíço. E nem o renminbi, moeda da potência chinesa em ascensão: devido ao controle de capitais, os investidores evitam deter essa divisa.
A única coisa que poderia levar à substituição do dólar seriam “tropeços catastróficos”, segundo o autor do livro.
Moeda como arma
Blustein comenta o poder de usar sanções e bloqueios, fazendo do dólar uma arma. Muitos pensam que o exagero pode levar outros países a contorná-lo. Segundo ele, as sanções e a militarização do dólar são uma vantagem muito importante. “Há alguma justiça poética na ideia de que os EUA estão militarizando o dólar em excesso e merecem perder a hegemonia. Mas não acho provável. Sim, estamos dando incentivos para que países ou governos busquem contornar o dólar. Até certo ponto, estão conseguindo. Mas isso não significa que conseguirão desbancá-lo. Enquanto o dólar for dominante, os bancos não podem se dar ao luxo de perder acesso a ele. Não estou dizendo que os EUA devam se sentir complacentes e usar a militarização sempre que quiserem. Isso pode ser ruim por vários motivos, mas não porque os países vão encontrar outras moedas”.
Bancor
No futuro previsível, diz Paul Blustein, o dólar seguirá forte no aspecto mais importante: seu uso no comércio internacional, muito acima das outras moedas. “Tirá-lo desse status será custoso, difícil e levará muito tempo, em parte porque faltam alternativas e, em parte, porque o dólar é muito arraigado na economia global”.
Blustein concorda que o mundo seria melhor com o bancor como moeda de reserva internacional, apesar de não achar se tratar de algo realista. “Talvez com o fim da Guerra Fria houvesse uma oportunidade de mudar para um sistema como esse. Esperemos que, algum dia, os países tenham relações tão amigáveis que sejam capazes de cooperar assim. Talvez, se houver um ataque alienígena… Aí os países veriam que temos mais em comum do que pensamos”.
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