Segunda-feira, 06 de Maio de 2024

Home em foco Entenda por que só a Rússia manteve armas nucleares após a queda da União Soviética

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O colapso da União Soviética, em 1991, levou a diversos problemas: queda da economia, renascimento da máfia, pirâmides financeiras. Mas o resto do mundo estava mais preocupado ainda era com o futuro das armas nucleares soviéticas após o fim da superpotência mundial.

Todas as ogivas nucleares da ex-URSS se mantiveram em quatro países independentes: Rússia, Belarus, Cazaquistão e Ucrânia. Inicialmente, o então presidente russo Boris Yeltsin declarou que a Rússia não teria controle individual sobre todo o arsenal nuclear da URSS.

Em 21 de dezembro de 1991, todos os quatro países que herdaram as armas nucleares da União Soviética assinaram um tratado de controle conjunto na capital do Cazaquistão.

Nove dias depois, os representantes dos quatro países reuniram-se novamente, desta vez, em Minsk. Ali, eles assinaram outro tratado, sobre a criação de um comando conjunto de “Forças Estratégicas”. Em 25 de dezembro, entre as duas reuniões, Mikhail Gorbachev, que tinha deixado o cargo de líder da URSS, entregou a pasta nuclear com o controle das armas nucleares a Boris Yeltsin.

Segundo o acordo, qualquer decisão de lançar as armas nucleares deveria ser tomada pela Rússia obrigatoriamente em coordenação com os líderes de Ucrânia, Cazaquistão e Belarus e com a permissão dos outros estados-membros da CEI (Comunidade de Estados Independentes).

No entanto, segundo Vilen Timoschuk, coronel da 43º divisão de mísseis, uma das unidades mais poderosas no setor, “nem o presidente da Ucrânia, ou qualquer outro país podia influir sobre os lançamentos de mísseis [nucleares], porque os códigos de lançamento eram emitidos apenas a partir do posto de comando central, localizado na Rússia”.

Os países ocidentais e a própria Rússia não estavam satisfeitos com a situação. O então Secretário de Estado dos EUA, James Baker, relembrou a situação em entrevista à revista Forbes Rússia: “Yeltsin, com uma honestidade sem precedentes, me explicava que como o programa nuclear e de armas nucleares se desenvolveria dentro da Comunidade de Estados Independentes”.

“Ele explicou quem teria o botão de lançamento e quem não o teria, o que os líderes de Ucrânia, Belarus e Cazaquistão pensavam sobre o assunto, e contou eles acreditavam que teriam armas nucleares, quando, na realidade, isso nunca aconteceria”, disse Baker.

Os Estados Unidos foram os principais mediadores para a resolução da crise nuclear, sugerindo uma resolução diferente: todo o arsenal nuclear deveria permanecer apenas na Rússia. “Realmente, queríamos lidar com apenas um país, não com os quatro. Não queríamos acabar com mais quatro países com armas nucleares”, disse Baker.

Herança

O problema era que o tempo de vida de muitas das ogivas nucleares armazenadas nas repúblicas soviéticas venceria em 1997. As instalações de armazenamento estavam, na época, lotadas e sua manutenção e desmantelamento seguro exigiam recursos financeiros e tecnológicos significativos. Nenhum país da CEI tinha recursos para tanto.

O presidente da Rússia teria declarado então que Moscou não aceitaria “ogivas perigosas” depois de 1997, de acordo com seu homólogo ucraniano no período, Leonid Kravtchuk. Isso significava que Moscou dava sinal verde para o recebimento e armazenamento de todas as ogivas, mas apenas imediatamente.

O Cazaquistão, que herdou o segundo maior local de testes nucleares do planeta, Semipalatinsk, repassou seu arsenal sem fazer barulho, em 1992. Segundo o presidente Nursultan Nazarbáeiv, que ficou no poder de 1990 até março de 2019, o país o fez com vistas à segurança de toda a humanidade. Em troca, porém, recebeu equipamentos militares e investimentos.

A Belarus assinou um acordo sobre a retirada do arsenal nuclear em 1994, em troca de garantias de sua segurança. A Ucrânia não quis entregar suas armas.

“Foi um erro. Era um produto muito caro, que deveria, afinal ter sido vendido por um preço decente”, disse mais tarde o também “eterno” presidente Alexander Lukashenko – que está no cargo desde 1994.

No entanto, após referendo realizado em em Belarus em 2022, durante as ações militares na Ucrânia, o país aprovou uma nova Constituição que elimina seu status de “não nuclear”.

Com a nova Constituição, armas nucleares poderiam ficar estacionadas em solo de Belarus pela primeira vez desde que o país abdicou das ogivas.

Lukashenko afirmou que poderia pedir à Rússia que devolva armas nucleares a Belarus. “Se vocês (países ocidentais) transferirem armas nucleares à Polônia ou à Lituânia, para as nossas fronteiras, vou dizer a Putin para devolver as armas nucleares que dei sem nenhuma condição”, disse.

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