Sábado, 22 de Novembro de 2025

Home Economia Entenda por que só parte dos produtos brasileiros ficou livre do tarifaço de Trump

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A decisão dos Estados Unidos de reduzir tarifas sobre parte das exportações brasileiras combina fatores internos da economia americana com o andamento das negociações entre os dois países, marcando o primeiro movimento de flexibilização desde o tarifaço anunciado em julho.

Para Abrão Neto, presidente da Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil), a pressão inflacionária foi o ponto central da mudança. “Com a alta de preços pesando sobre o consumidor americano, especialmente nos alimentos, o governo buscou formas de conter custos internos.”

Não por acaso, os 238 produtos liberados da tarifa de 40% têm forte relação com a cadeia agroindustrial americana, incluindo itens como carnes bovinas e suínas, café, cacau, frutas tropicais, sucos, castanhas, alguns fertilizantes e insumos nos quais o Brasil é um fornecedor difícil de substituir.

Com o governo americano paralisado, a divulgação de indicadores oficiais – como os dados de inflação – ficou suspensa nos últimos meses.

Mesmo assim, uma pesquisa do instituto Ipsos indica que 59% dos americanos atribuem a Donald Trump a responsabilidade pela alta dos preços dos alimentos ao longo do ano.

Nas contas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), os itens contemplados na ordem executiva respondem por cerca de 37% das exportações do Brasil aos EUA. Assim, a maior parte dos embarques – especialmente os industriais – permanece sujeita às tarifas.

Frederico Lamego, diretor de relações internacionais da CNI, lembra que setores como máquinas e equipamentos, móveis, couro, calçados, aviação, óleos e minerais seguem arcando com o adicional de 40% imposto em julho. Para ele, a continuidade dessas cobranças reforça a necessidade de avanço nas tratativas.

“Existe a questão da pressão inflacionária, mas também a urgência de um processo dinâmico de negociação para resolver o problema o quanto antes. É uma situação delicada para a indústria”, afirma.

Avanço diplomático

Além da motivação econômica, a decisão dos EUA também carrega um componente diplomático. Lamego reforça que a ordem executiva faz referência – pela primeira vez desde julho – ao processo de negociação com o Brasil, o que sinaliza mudança no clima político entre os dois países.

“Foi um gesto de boa vontade de Washington para o avanço das negociações comerciais com o Brasil.”

Abrão Neto, da Amcham Brasil, ainda acrescenta que a medida não surgiu de forma espontânea: ela responde a uma proposta apresentada pelo governo brasileiro e marca a retomada de conversas que estavam paralisadas.

Para ele, o ambiente político recente ajudou a destravar esse movimento.

Apesar do avanço, a maior parte das exportações brasileiras continua fora da lista de isenção e permanece sujeita às tarifas ampliadas. A avaliação é que esses setores foram mantidos de fora porque os Estados Unidos aguardam uma proposta mais consistente do governo brasileiro.

Segundo João Henrique Gasparino, diretor executivo da NimbusTax, o alívio tarifário anunciado pelos EUA não alcança todas as exportações brasileiras, já que a isenção se aplica apenas aos produtos listados na nova ordem executiva.

“Todos os demais itens brasileiros, que não aparecem no anexo, seguem sujeitos ao adicional de 40%, especialmente aqueles com forte pressão de produtores americanos ou usados como moeda de troca nas negociações com o governo brasileiro”, afirma.

Ele ressalta que, mesmo entre os produtos contemplados, o benefício é limitado, pois só elimina a sobretaxa de 40%. “Permanecem as tarifas de base, medidas antidumping e barreiras sanitárias, o que mantém custos relevantes para parte das exportações”, reforça o especialista.

Gasparino também observa que a medida tem efeito retroativo a 13 de novembro, o que permite solicitar o reembolso do valor pago desde essa data.

Setores

Mesmo com o alívio tarifário concedido a parte das exportações brasileiras, setores importantes da indústria continuam totalmente expostos à sobretaxa aplicada pelos Estados Unidos. Entre eles estão os fabricantes de calçados e de móveis, que não foram incluídos na lista de produtos beneficiados.

A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) recebeu a medida com cautela, ainda que veja algum avanço no diálogo entre os dois países.

Embora o setor tenha ficado de fora da retirada da tarifa extra, o presidente-executivo Haroldo Ferreira afirma que a iniciativa abre uma porta para negociações mais amplas. “A decisão traz esperança de uma resolução para o imbróglio que vem prejudicando as exportações de calçados desde agosto”, diz.

Entre as indústrias moveleiras, representadas pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o entendimento é ainda mais crítico. Para a entidade, a ordem executiva praticamente não altera o quadro atual.

“O setor segue lidando com revisão de pedidos, renegociação de contratos e redirecionamento de exportações, enquanto tenta mitigar as perdas”, afirma a associação.

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