Domingo, 28 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 28 de dezembro de 2025
2025 praticamente chega ao fim, e eu me encontro no Vale do Itajaí, mais precisamente em Blumenau. Não é apenas uma visita: é um retorno às minhas raízes. Esta cidade tem um significado profundo para mim, pois é a terra natal de meu pai. Ele nos trazia para cá quase todos os anos, e já são cinquenta anos de histórias entrelaçadas com este lugar. Houve uma década em que deixei de visitar, mas nos últimos anos tenho acompanhado meu pai, hoje com 83 anos, para visitar sua irmã, minha tia Landa, que aos 93 anos ainda nos recebe com a força e a ternura de quem carrega a memória viva da família. Além dela, muitos sobrinhos e primos permanecem espalhados pelo vale, mantendo viva essa rede de afetos.
Estar aqui sempre me desperta reflexões maiores. Blumenau foi uma das primeiras cidades do Brasil a sentir de forma dramática os efeitos dos eventos climáticos extremos. Em julho de 1983, chuvas intensas na região superior do Vale do Itajaí provocaram uma enchente sem precedentes, que devastou a cidade e marcou profundamente sua história. Fundada em 1850 por Hermann Bruno Otto Blumenau e colonos alemães, a cidade precisou se reinventar diante da força da natureza. O povo aprendeu, com dor e perdas, a se adaptar a um “novo normal”: enfrentar, de tempos em tempos, volumes de chuvas acima do esperado.
Essa adaptação, porém, não foi simples. Custou vidas, patrimônio e memórias. Eu, ainda adolescente, acompanhava pelos relatos de minhas tias e primos a resiliência que se construía a cada enchente. Blumenau não foi a única; outras cidades também sofreram nos anos 1980. Mas foi aqui, pelo meu testemunho direto, que percebi como a natureza nos cobrava atenção. O despertar da minha consciência ambiental, no entanto, demorou. Somente em 2015 comecei a virar a chave e me transformar em um ativista pela sustentabilidade e pela justa transição energética no Brasil.
É nesse ponto que quero destacar a diferença entre adaptação e mitigação. Adaptação significa aprender a conviver com os impactos inevitáveis das mudanças climáticas: construir sistemas de alerta, reforçar infraestruturas, preparar comunidades para enfrentar enchentes, secas ou tempestades. Já a mitigação vai além: é agir sobre as causas, reduzir emissões de gases de efeito estufa, mudar padrões de consumo, preservar florestas e repensar a economia para incluir a ecologia como eixo central. Em outras palavras, adaptação é sobreviver ao que já está acontecendo; mitigação é tentar evitar que o futuro seja ainda mais severo.
Não busco culpados, busco soluções. A mitigação exige corrigirmos o curso da humanidade o quanto antes, investindo em energias limpas, em formas conscientes de consumo e em um manejo mais respeitoso das terras. Precisamos preservar os recursos naturais e integrar a ecologia à economia, não como apêndice, mas como fundamento.
Nestes dias que permanecerei no Vale do Itajaí, acompanhando meu pai nas visitas aos queridos, sei que estaremos resgatando histórias, relembrando momentos afetivos e atualizando notícias da vida. O tempo é sábio e nos concede essas pausas para reconectar com nossas raízes.
E ao olhar para o futuro, sinto esperança. Precisamos despertar todas as pessoas — todas mesmo — para que entremos em 2026 preparados não apenas para nos adaptar aos eventos climáticos, mas também para mitigar suas causas. Só assim poderemos ainda reverter o aquecimento global e garantir que as próximas gerações contem histórias de resiliência, mas também de vitória sobre os desafios que nós mesmos criamos.
* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética