Terça-feira, 18 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 18 de novembro de 2025
A prisão de Allan Gonsalves, de 30 anos, em maio deste ano no Rio de Janeiro, revelou que a receptação de celulares não tem limites. A partir de sua captura, a investigação mostrou que o acusado prestou consultoria para criminosos de 11 Estados e ainda vendeu cursos em que ensinava remotamente o debloqueio de aparelhos.
Nesta semana, em uma nova fase da Operação Rastreio, a Polícia Civil prendeu 32 pessoas suspeitas de participar do esquema no País, além de ter apreendido 2,5 mil aparelhos. Só no Estado do Rio foram roubados e furtados, em média, 200 celulares por dia este ano.
Os policiais foram às ruas para cumprir 132 mandados judiciais em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Pernambuco, Maranhão, Piauí, Pará e Rondônia, além do Rio. Segundo a Polícia Civil, esta é a maior operação já feita contra roubo, furto e receptação de celulares.
Os alvos são “alunos” e clientes de Allan. De acordo com a polícia, eles fizeram o curso on-line ou forneciam os dados de aparelhos roubados para que Allan fizesse o desbloqueio de forma remota.
Numa outra ponta do esquema, estariam os responsáveis por reinserir os dispositivos de origem ilícita no mercado. Muitos endereços onde foram cumpridos mandados de busca e apreensão são estabelecimentos comerciais, como lojas, boxes e quiosques. Durante a ação, os policiais apreenderam R$ 52 mil em espécie.
Antes da revenda dos aparelhos, o grupo tentava acessar informações sensíveis da vítima, disponíveis em aplicativos de bancos, por exemplo. Com esses dados, conseguiam fazer empréstimos fraudulentos e transferir valores das contas. O governador Cláudio Castro afirmou que o furto e o roubo de celular não são crimes que geram muitos latrocínios (mortes), mas acabam tirando a paz da população.
“Hoje as pessoas mal andam com carteira; levam tudo no celular. Então, quando ele é roubado, gera muito medo porque não é só um celular. É um crime que tira a paz e gera insegurança nas pessoas”, disse.
Este ano, 19.780 celulares foram roubados no Estado do Rio de janeiro a setembro — o número é 26% maior que em 2024. Os furtos registrados em delegacias foram ainda mais numerosos: 34.456 casos nos primeiros nove meses, 22% a mais que no mesmo período do ano passado.
O delegado Victor Tuttman, titular da Delegacia de Repressão ao Crime contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM), contou que, desde o início da Operação Rastreio, a polícia identificou algumas rotas de escoamento dos celulares roubados. Segundo ele, os aparelhos do Rio são espalhados para diversos estados.
No Rio, Allan Gonsalves atuava remotamente para desbloquear aparelhos de vários estados da federação. As investigações revelaram que o criminoso conseguia retirar as restrições ao Imei (número único de 15 dígitos que identifica cada aparelho) dos aparelhos roubados, que eram revendidos.
Segundo a polícia, ele usava programas estrangeiros da Índia e de Bangladesh para realizar o processo. Em depoimento, o acusado disse que levava somente 40 segundos para fazer o procedimento em alguns aparelhos. Além desse serviço, ele também oferecia cursos on-line para ensina a técnica por R$ 300.
A polícia descobriu que Allan retirava o Imei do aparelho roubado das blacklists das operadoras. Depois, um programa desvinculava do aparelho a conta principal, eliminando todos os dados do proprietário. Com isso, o aparelho voltava ao padrão de fábrica. Uma outra técnica era usar uma ferramenta que permite inserir no telefone o Imei de um “celular morto” e, assim, liberar o aparelho para uso novamente. O serviço de debloqueio custava de R$ 60 a R$ 400, a depender da complexidade do aparelho.