Quinta-feira, 12 de Dezembro de 2024

Home Economia Especialistas dizem que o Brasil não tem espaço para novas refinarias

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A perspectiva de crescimento no consumo de combustíveis no Brasil nos próximos anos e a transição energética abrem espaço para novos investimentos no refino de petróleo, tanto no aumento da capacidade quanto na produção de biocombustíveis. Entretanto, especialistas dizem que é improvável a construção de novas refinarias do zero no País mesmo no novo governo do Partido dos Trabalhadores (PT), que tem defendido a redução das importações de derivados.

Hoje, as refinarias nacionais conseguem produzir volume suficiente para atender 70% da demanda doméstica. Os outros 30% dependem de importação. As compras externas de produto suprem sobretudo os mercados do Norte e Nordeste uma vez que as maiores plantas nacionais concentram-se no Sul e Sudeste.

As dificuldades para novos projetos de refino se relacionam, segundo os
especialistas, ao longo tempo para amortização dos investimentos e à mudança para uma economia de baixo carbono, que tende a reduzir a vida útil dos ativos de combustíveis fósseis. Analistas indicam, porém, a possibilidade de que novos modelos de investimento no refino surjam no País, em especial os relacionados a produtos menos poluentes. Os investimentos, portanto, devem se concentrar na expansão, conversão e modernização das unidades existentes, dizem os técnicos.

A partir de janeiro, o novo governo e a administração da Petrobras também terão pela frente obras de refino inacabadas e que foram alvo de investigações da Operação Lava-Jato, caso da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e do Polo GasLub Itaboraí, o antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A Petrobras informou que aprovou o projeto de engenharia para implantar unidades para produção de combustíveis e lubrificantes no Polo GasLub.

Um eventual aumento da capacidade de refino no País poderia se justificar uma vez que o consumo de combustíveis líquidos, em especial o diesel, ainda segue crescente no Brasil. O sócio da consultoria Leggio, Marcus D’Elia, afirma que a demanda por gasolina deve crescer até atingir o pico em 2038, enquanto a queda do consumo de diesel deve começar apenas na década de 2040. “Temos dois problemas: um é como financiar uma refinaria que vai produzir combustível fóssil. Não é um financiamento barato e toda a visão de financiamento de projetos está voltada para a transição energética. O segundo ponto é o horizonte. Em alguns casos, o retorno do novo projeto não ultrapassa o horizonte que se espera de crescimento da demanda de combustíveis fósseis”, diz.

Outro ponto que dificulta o avanço de novos projetos de refino no Brasil é a
indefinição quanto ao papel da Petrobras no segmento. A estatal é o principal ator do setor, mas tem acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a venda de oito refinarias, que correspondem a cerca de metade da capacidade de processamento. Até agora, entretanto, apenas três unidades tiveram a venda concluída: a antiga Rlam (atual Refinaria de Mataripe) na Bahia, a Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas, e a SIX, no Paraná. Há incertezas sobre a continuidade dos demais processos de venda, dado que o presidente eleito afirma ser contra as privatizações.

A diretora de downstream (abastecimento) do Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP), Valéria Lima, diz que a venda de ativos da Petrobras e a entrada de novos agentes no país facilita a atração de investimentos, tanto na expansão das refinarias existentes, como em refinarias menores, para o processamento de produtos específicos.

Ela vê espaço para a construção de plantas dedicadas ao “diesel verde”, produto coprocessado com óleos vegetais, menos poluente: “Existem novos agentes querendo entrar no Brasil para fazer biorrefino. A questão é o quão aberto estará o país para atrair esse investimento. Num mercado com múltiplos agentes, existem empresas com estratégias diferentes. Nesse ambiente aberto, vejo espaço para ‘microrrefinarias’, voltadas para um tipo de produto. Mas não vejo uma grande refinaria saindo do zero”, avalia Lima.

O biorrefino, inclusive, foi um dos pleitos levados pelo IBP à equipe de transição do governo eleito, segundo o presidente de entidade, Roberto Ardenguy. “O Brasil tem uma tendência de liderança neste segmento e o novo governo está focado em temas como descarbonização e sustentabilidade”, afirmou o executivo. Antes mesmo da mudança de governo havia indícios de que o refino voltaria a receber mais investimentos da Petrobras. Em outubro, antes do segundo turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) cogitou a possibilidade de construir refinarias de petróleo no Brasil. “Estamos buscando solução para isso: ou nós construímos, ou iniciativa privada, se achar que é lucrativo, constrói”, disse o presidente.

O plano de negócios da Petrobras para os anos de 2023 a 2027, elaborado ao longo do último ano e apresentado em novembro, prevê o aporte de US$ 9,2 bilhões nesse segmento. Desde o ano passado, a estatal já havia confirmado a intenção de finalizar o segundo trem de refino da Rnest.

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Hoje, as refinarias nacionais conseguem produzir volume suficiente para atender 70% da demanda doméstica. Os outros 30% dependem de importação. As compras externas de produto suprem sobretudo os mercados do Norte e Nordeste uma vez que as maiores plantas nacionais concentram-se no Sul e Sudeste.

As dificuldades para novos projetos de refino se relacionam, segundo os
especialistas, ao longo tempo para amortização dos investimentos e à mudança para uma economia de baixo carbono, que tende a reduzir a vida útil dos ativos de combustíveis fósseis. Analistas indicam, porém, a possibilidade de que novos modelos de investimento no refino surjam no País, em especial os relacionados a produtos menos poluentes. Os investimentos, portanto, devem se concentrar na expansão, conversão e modernização das unidades existentes, dizem os técnicos.

A partir de janeiro, o novo governo e a administração da Petrobras também terão pela frente obras de refino inacabadas e que foram alvo de investigações da Operação Lava-Jato, caso da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e do Polo GasLub Itaboraí, o antigo Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). A Petrobras informou que aprovou o projeto de engenharia para implantar unidades para produção de combustíveis e lubrificantes no Polo GasLub.

Um eventual aumento da capacidade de refino no País poderia se justificar uma vez que o consumo de combustíveis líquidos, em especial o diesel, ainda segue crescente no Brasil. O sócio da consultoria Leggio, Marcus D’Elia, afirma que a demanda por gasolina deve crescer até atingir o pico em 2038, enquanto a queda do consumo de diesel deve começar apenas na década de 2040. “Temos dois problemas: um é como financiar uma refinaria que vai produzir combustível fóssil. Não é um financiamento barato e toda a visão de financiamento de projetos está voltada para a transição energética. O segundo ponto é o horizonte. Em alguns casos, o retorno do novo projeto não ultrapassa o horizonte que se espera de crescimento da demanda de combustíveis fósseis”, diz.

Outro ponto que dificulta o avanço de novos projetos de refino no Brasil é a
indefinição quanto ao papel da Petrobras no segmento. A estatal é o principal ator do setor, mas tem acordo com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para a venda de oito refinarias, que correspondem a cerca de metade da capacidade de processamento. Até agora, entretanto, apenas três unidades tiveram a venda concluída: a antiga Rlam (atual Refinaria de Mataripe) na Bahia, a Isaac Sabbá (Reman), no Amazonas, e a SIX, no Paraná. Há incertezas sobre a continuidade dos demais processos de venda, dado que o presidente eleito afirma ser contra as privatizações.

A diretora de downstream (abastecimento) do Instituto Brasileiro do Petróleo e do Gás (IBP), Valéria Lima, diz que a venda de ativos da Petrobras e a entrada de novos agentes no país facilita a atração de investimentos, tanto na expansão das refinarias existentes, como em refinarias menores, para o processamento de produtos específicos.

Ela vê espaço para a construção de plantas dedicadas ao “diesel verde”, produto coprocessado com óleos vegetais, menos poluente: “Existem novos agentes querendo entrar no Brasil para fazer biorrefino. A questão é o quão aberto estará o país para atrair esse investimento. Num mercado com múltiplos agentes, existem empresas com estratégias diferentes. Nesse ambiente aberto, vejo espaço para ‘microrrefinarias’, voltadas para um tipo de produto. Mas não vejo uma grande refinaria saindo do zero”, avalia Lima.

O biorrefino, inclusive, foi um dos pleitos levados pelo IBP à equipe de transição do governo eleito, segundo o presidente de entidade, Roberto Ardenguy. “O Brasil tem uma tendência de liderança neste segmento e o novo governo está focado em temas como descarbonização e sustentabilidade”, afirmou o executivo. Antes mesmo da mudança de governo havia indícios de que o refino voltaria a receber mais investimentos da Petrobras. Em outubro, antes do segundo turno das eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) cogitou a possibilidade de construir refinarias de petróleo no Brasil. “Estamos buscando solução para isso: ou nós construímos, ou iniciativa privada, se achar que é lucrativo, constrói”, disse o presidente.

O plano de negócios da Petrobras para os anos de 2023 a 2027, elaborado ao longo do último ano e apresentado em novembro, prevê o aporte de US$ 9,2 bilhões nesse segmento. Desde o ano passado, a estatal já havia confirmado a intenção de finalizar o segundo trem de refino da Rnest.

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