Quarta-feira, 15 de Outubro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 8 de agosto de 2022
Um pedido do Exército brasileiro para comprar mísseis antitanque Javelin dos Estados Unidos no valor de cerca de 100 milhões de dólares está parado em Washington há meses devido a preocupações de parlamentares norte-americanos sobre o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), incluindo os ataques dele ao sistema eleitoral brasileiro.
A proposta do Brasil para adquirir cerca de 220 mísseis Javelin foi feita inicialmente quando o ex-presidente Donald Trump, aliado de Bolsonaro, estava na Casa Branca. O Departamento de Estado aprovou a proposta no final do ano passado, apesar de objeções por parte de algumas autoridades norte-americanas de baixo escalão.
Mas o acordo sigiloso, que não havia sido divulgado anteriormente, está desde então emperrado em um limbo processual em meio à crescente preocupação entre os parlamentares democratas dos EUA a respeito dos questionamentos que Bolsonaro tem feito sobre a integridade das urnas eletrônicas e da segurança da eleição de outubro no Brasil, disseram as fontes.
O pedido do Brasil pelos mísseis de alta tecnologia fabricados nos EUA, que ganharam fama por seu uso efetivo pelas forças ucranianas contra blindados russos, acabou travado devido a um esforço liderado pelos democratas para enviar uma mensagem a Bolsonaro e às Forças Armadas brasileiras.
O impasse reforça o impacto que os ataques de Bolsonaro ao sistema eleitoral têm causado, e também indica como o Brasil pode se tornar mais isolado internacionalmente se Bolsonaro seguir o exemplo de Trump e se recusar a aceitar uma eventual derrota na eleição de outubro. Atualmente, ele aparece atrás do ex-presidente Lula (PT) nas pesquisas de intenção de voto.
O governo do presidente dos EUA, Joe Biden, ainda assombrado pela invasão do Capitólio por parte de apoiadores de Trump em 6 de janeiro de 2021, tem se mostrado cada vez mais aflito com os comentários autoritários de Bolsonaro, chegando a enviar delegações a Brasília para pedir cautela.
O secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, trouxe ao Brasil uma mensagem de respeito à democracia em uma reunião de ministros de Defesa da região em julho. A declaração ocorreu após uma visita no ano passado do diretor da CIA, William Burns, na qual ele disse a importantes assessores de Bolsonaro que o presidente deveria parar de minar a confiança no processo eleitoral do País.
Bolsonaro tem ignorado os apelos. Em vez disso, continua questionando a credibilidade do sistema de votação eletrônica do Brasil e alegou fraude em eleições recentes, sem fornecer provas.
O papel pós-eleições das Forças Armadas, que comandaram uma ditadura militar por duas décadas após o golpe de 1964, é uma questão em aberto. Bolsonaro pediu que o Exército realize sua própria contagem paralela de votos, dizendo que as Forças Armadas estão do seu lado.
Os EUA também estão preocupados com o retrocesso ambiental sob Bolsonaro, bem como seu relacionamento amigável com o presidente russo, Vladimir Putin, cuja invasão da Ucrânia ele se recusou a condenar.
Fabricado pelos gigantes da área de defesa Lockheed Martin Corp e Raytheon Technologies Corp, o Javelin tornou-se uma das armas mais conhecidas do mundo devido ao seu sucesso contra tanques russos na guerra da Ucrânia.
O Brasil não enfrenta ameaças semelhantes, suscitando perguntas sobre por que o país precisaria de tal poder de fogo, disseram fontes. As Forças Armadas brasileiras se concentram principalmente em proteger suas fronteiras, que estão entre as maiores do mundo, e em realizar missões internacionais de paz.
“O Brasil não precisa deles”, disse um ex-assessor do Congresso norte-americano que tem familiaridade com a questão das armas.
Outra fonte disse que o apoio do Departamento de Estado à venda dos mísseis mostrou que os EUA queriam satisfazer o Brasil para ajudar a melhorar as relações com um dos mais importantes aliados militares de Washington na região.
O pedido de compra dos mísseis aconteceu em 2020 em um momento de aquecimento dos laços entre os Estados Unidos e o Brasil sob Trump e Bolsonaro. Em 2019, Trump designou o Brasil como um aliado de primeiro nível dos EUA fora da Otan, permitindo maior acesso ao armamento fabricado por empresas norte-americanas.
O acordo atravessou a burocracia da era Trump e foi herdado por Biden, um democrata menos amigável com Bolsonaro do que seu antecessor republicano.