Segunda-feira, 24 de Novembro de 2025

Home Colunistas Este artigo reflete minhas impressões pós-COP30: entre a rotina retomada, o impacto das notícias climáticas e a consciência renovada sobre o papel da informação e da ciência

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A segunda-feira que inaugurou a semana após a COP30, realizada em Belém, foi diferente. Mantive a regularidade dos horários, mas os assuntos pendentes ocuparam boa parte do tempo. Ainda assim, despertei com uma notícia que me abalou: um evento extremo no norte do Rio Grande do Sul.

Em Erechim, uma tempestade de granizo deixou a cidade irreconhecível. Mais de 25 mil pessoas foram afetadas, cerca de 150 ficaram feridas e milhares de casas tiveram telhados destruídos. Escolas suspenderam aulas, hospitais ficaram sobrecarregados e famílias foram acolhidas em abrigos improvisados.

O cenário de carros amassados e bairros inteiros cobertos por gelo parecia uma metáfora cruel da fragilidade humana diante da força da natureza.

Esse episódio reforçou uma reflexão inevitável: os cientistas vêm alertando há décadas que o aquecimento global intensificaria eventos extremos. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostra que a temperatura média global já aumentou 1,1°C desde a era pré-industrial, e que, sem cortes drásticos nas emissões, poderemos ultrapassar 1,5°C ainda nesta década.

Esse limiar não é apenas simbólico: significa maior frequência de secas, enchentes, ondas de calor e, sim, tempestades de granizo mais violentas. O que aconteceu em Erechim não é um acidente isolado, mas parte de uma tendência global.

Após organizar minha agenda, fui resolvendo tarefas por ordem de prioridade. Mas à tarde, acabei entrando em uma discussão num grupo de WhatsApp. Um participante afirmava que a COP30 foi um fiasco, que tudo não passa de farsa e que o homem não tem responsabilidade sobre as mudanças climáticas. Percebi rapidamente que esse tipo de embate degrada o nível da conversa, transformando-a em um bate-papo estéril, sem argumentos sólidos, quase como uma conversa de bar — só que sem álcool e sem voz alterada. O desgaste é grande e pouco se constrói.

Essa polarização, no entanto, não é inocente. A divisão da opinião pública sempre favorece grupos de interesse: governos que evitam medidas impopulares, corporações que lucram com a manutenção do status quo, famílias ricas que dominam setores estratégicos. Não sigo teorias conspiratórias, mas busco fundamentos na ciência, na filosofia, na ética e na compreensão da natureza humana. É nesse terreno que encontro sentido: esclarecer, informar e contribuir para que a sociedade não se perca em narrativas sem base.

Vivemos tempos de excesso de informação e manipulação difusa. Antes, uma única mídia podia controlar narrativas; hoje, a multiplicidade de canais nos aprisiona em bolhas digitais, onde cada grupo consome apenas aquilo que confirma suas crenças. É como se estivéssemos em um cativeiro invisível: livres para escolher, mas presos em algoritmos que moldam nossa visão de mundo.

A desinformação se espalha com velocidade, e na COP30 vimos como lobistas da indústria do petróleo atuaram junto às delegações para proteger seus mercados, dificultando que a transição energética encontre um verdadeiro “mapa do caminho”.

Diante dessa resistência, um grupo de 24 países liderados pela Colômbia e apoiados por nações como Holanda e Brasil anunciou uma nova conferência em Santa Marta, Colômbia, em março de 2026. O objetivo é discutir a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.

Mais de 30 países já se comprometeram com a iniciativa, que pode marcar o nascimento de um novo bloco diplomático voltado para acelerar a transição energética. Trata-se de uma tentativa de criar uma frente mais ousada, paralela às negociações oficiais da ONU, para enfrentar diretamente o poder das indústrias fósseis.

Encerrando este relato, retomo minhas atividades cotidianas com uma sensação diferente. Os dias em Belém me trouxeram um novo nível de consciência: a certeza de que estou no caminho certo ao buscar esclarecer e informar. Espero que minhas reflexões possam despertar em mais pessoas a consciência de que cuidar do planeta não é uma opção, mas uma necessidade urgente. A rotina segue, mas o propósito se fortalece: contribuir para que a verdade científica prevaleça sobre a desinformação e para que possamos construir um futuro mais justo e sustentável.

* Renato Zimmermann é desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética

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