Terça-feira, 08 de Julho de 2025

Home Variedades Estimulação com luz e som surge como nova fronteira no tratamento de Alzheimer

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Foi em 2016 que a professora Li-Huei Tsai e seus colegas no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) publicaram na revista Nature uma pesquisa sobre como a frequência gama é capaz de reduzir a deposição de proteínas e modificar células de defesa no cérebro de camundongos. Nove anos e muitos estudos depois, o uso desse tipo de estímulo surge como um possível tratamento para a doença de Alzheimer.

Li-Huei foi uma das palestrantes no Congresso Brain 2025: Cérebro, Comportamento e Emoções, realizado entre 18 e 21 de junho, em Fortaleza, e apresentou dados promissores sobre o uso de estimulação multissensorial na faixa gama. “É uma nova estratégia muito interessante para tratar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer”, disse na ocasião.

A técnica está sendo avaliada em um estudo de fase 3 orquestrado pela Cognito, spin-off do MIT fundada por Li-Huei, e também é estudada como possibilidade de tratamento para doença de Parkinson e esclerose múltipla.

“São estudos muito sérios e a Li-Huei Tsai é provavelmente uma das pesquisadoras mais respeitadas na área”, elogia Eduardo Zimmer, professor no Departamento de Farmacologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e na Universidade McGill (Canadá), e pesquisador da doença de Alzheimer.

Surpresas

Para entender por que essa estratégia pode vir a ajudar pacientes é preciso retomar alguns pontos do funcionamento cerebral. Nosso cérebro tem cerca de 86 bilhões de neurônios, que se comunicam por meio de uma rede complexa com trilhões de sinapses. Pesquisas mostraram que essa comunicação se dá por padrões rítmicos de atividade neural, que podem ser observados em eletroencefalogramas.

Ao longo dos anos, os cientistas descobriram que existem pelo menos 10 tipos diferentes de padrões de onda (sincronias), que se diferenciam em frequência e magnitude, do ultrarrápido até o mais lento. Eles também observaram que um desses tipos, conhecido como gama (30 a 100 Hz), está associado a funções como atenção, tomada de decisão, aprendizado, memória, modulação e integração de redes. Nas palavras de Li-Huei, basicamente a computação do cérebro.

O grupo da professora começou a investigar como a sincronia gama afeta os processos moleculares e celulares no cérebro e escolheu abordar a questão a partir da doença de Alzheimer e seus traços específicos no cérebro: deposição de placas amiloides, acumulação de elementos neurofibrilares e perda de volume neuronal.

Eles notaram que, no início da doença, quando as proteínas amiloides começam a se acumular, há uma hiperatividade da rede neuronal. Por outro lado, quando a patologia está estabelecida, essa atividade diminui. Resolveram então investigar como o gama atua nesse contexto e o que aconteceria se aumentassem essa sincronia no cérebro dos camundongos em estudo.

O que aconteceu a seguir foi uma surpresa: com uma hora de ativação da sincronia de 40 Hz, houve uma redução de 50% dos amiloides.

O segundo passo foi desenvolver uma forma de aumentar as ondas gama sem recorrer a equipamentos invasivos – e então veio um segundo achado inesperado. “Nós expusemos os animais a flashes com uma frequência de 40 Hz e notamos que essa abordagem é muito poderosa na ativação de neurônios. Ela acaba treinando os neurônios para produzir suas ondas cerebrais na mesma frequência”, contou Li-Huei no congresso.

Os cientistas também chegaram à conclusão que poderiam obter efeitos similares usando estímulos auditivos e decidiram unir as duas frentes em uma estimulação multissensorial, o que potencializou os resultados. Para Zimmer, esse foi um “pulo do gato” do grupo do MIT, que hoje emprega a abordagem completamente não invasiva e testa também o efeito de estímulos táteis, com vibrações de 40 Hz.

O grupo batizou a técnica de GENUS e começou a investigar mais profundamente o que o uso prolongado da estimulação, em sessões diárias com 1 hora de duração, promovia no cérebro dos camundongos. De forma geral, os cientistas notaram: ativação da micróglia (células de defesa do cérebro); redução dos níveis de proteína amiloide;
diminuição dos níveis da proteína tau hiperfosforilada (outra característica do Alzheimer); preservação da densidade neuronal e sináptica em diferentes regiões cerebrais contra os efeitos adversos da proteína tau; melhor desempenho da memória.

Como isso é possível?

Mas como a estimulação é capaz de gerar tantos efeitos? Os cientistas desenharam uma série de experimentos para chegar a uma resposta e o que identificaram pode ser resumido em uma palavra: faxina.

As oscilações de 40 hertz aumentam o fluxo sanguíneo no cérebro e estimulam o sistema glinfático, que controla o fluxo do líquido cefalorraquidiano responsável por limpar os resíduos cerebrais. Com a estimulação, esse líquido entra mais facilmente e lava as proteínas prejudiciais.

“A estimulação multissensorial aumenta a lavagem do cérebro, um processo que vai tirando tudo que tem de tóxico. Quando aumentamos essa lavagem, começamos a remover essas proteínas que ainda estão solúveis e que se agregariam formando as placas de amiloide e os emaranhados de tau”, diz Zimmer.

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