Sexta-feira, 14 de Novembro de 2025

Home Economia “Estou Louco para a ata do Banco Central dizer que faço esforço fiscal relevante, mas vai chegar meu dia”, diz o ministro da Fazenda

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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar o atual patamar da taxa básica de juros e afirmou que não vê relação direta entre a política fiscal do governo e a manutenção da Selic em 15% ao ano. Para ele, há um descolamento entre as condições fiscais do País e a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que manteve o juro inalterado na semana passada.

Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Haddad disse que gostaria de ver na ata do Copom o mesmo reconhecimento que recebeu do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo o ministro, o organismo classificou o ajuste fiscal brasileiro como o terceiro mais ousado do mundo. “Estou louco para ver uma ata do Banco Central dizendo que faço esforço fiscal relevante, como fez o FMI. Mas vai chegar meu dia”, afirmou.

Haddad considera que não há justificativa técnica para os juros permanecerem no patamar atual. Ele relatou ter rodado dois modelos econométricos amplamente utilizados no mercado. Em um cenário com Selic a 12% ao ano, e não a 15%, a diferença projetada de inflação seria de apenas 0,2 ponto porcentual. O ministro ponderou, porém, que decisões monetárias envolvem variáveis políticas e avaliações humanas.

Ao comentar a resistência do Congresso em avançar sobre despesas obrigatórias — tema que considera central para o futuro do arcabouço fiscal — Haddad afirmou que houve pouca disposição dos parlamentares em 2023 para revisar regras sensíveis. Tentativas de alterar critérios do BPC, do seguro-defeso e a indexação de fundos constitucionais não prosperaram. Ele citou que até propostas mais moderadas, como trazer essas indexações para o IPCA, foram rejeitadas.

O ministro defendeu que o governo tem se empenhado na agenda fiscal, apesar da percepção de parte do Congresso. Lembrou que reformas estruturais foram aprovadas, incluindo a tributária, além de mudanças no sistema de crédito e no seguro. Disse também que é possível crescer com equilíbrio e responsabilidade, evitando estímulos excessivos. “A gente governa com chave de fenda, não com serra elétrica”, afirmou.

Sobre os precatórios, Haddad disse que o passivo se expandiu a um ritmo inesperado e que o governo precisa de mais tempo para reorganizar a trajetória. Ele elogiou o trabalho da Advocacia-Geral da União no esforço para reduzir esse volume.

Haddad rejeita a interpretação de que os juros reais elevados são consequência direta da trajetória da dívida pública. Segundo ele, projeções de endividamento variam e dependem das premissas adotadas. Relatou, ainda, que grandes bancos com os quais se reuniu recentemente defendem que a Selic já poderia estar caindo.

Na avaliação do ministro, o debate público sobre juros deve ser naturalizado. Ele afirmou que não critica o Banco Central, mas considera legítimo discutir argumentos técnicos, como ocorre em outros países. “Eu sou ministro da Fazenda. Não posso falar do assunto quando 300 pessoas da Faria Lima falam?”, questionou.

Haddad também comentou o impacto do tarifaço imposto pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros. Disse que o Brasil expôs ao governo americano os riscos da medida e que o próprio Senado dos EUA demonstrou resistência ao pacote. Segundo ele, os efeitos sobre a economia brasileira foram menores do que o previsto inicialmente, embora setores específicos tenham sentido o impacto.

O ministro concluiu reiterando que há colaboração entre Fazenda e Banco Central e que o reconhecimento mútuo existe. Ainda assim, voltou a aguardar um aceno explícito da autoridade monetária. “Eu e o Banco Central nos agradecemos. Estou louco para ver uma ata reconhecendo o esforço fiscal. Vai chegar meu dia”, declarou.

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