Quarta-feira, 17 de Setembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 17 de setembro de 2025
Com medo de perder uma valorização semelhante à da Argentina, investidores estão despejando recursos no Brasil, apostando que um candidato pró-mercado vencerá as eleições do próximo ano.
“Uma coisa é ser gestor de um fundo internacional que perdeu a alta da Argentina. Mas não o Brasil. O Brasil é enorme, e um gestor de fundo de mercados emergentes que perde uma alta do Brasil está fora”, disse Ronaldo Patah, estrategista de investimentos para o Brasil no UBS Global Wealth Management.
O UBS Wealth já havia elevado sua recomendação para o mercado acionário brasileiro em junho, citando as avaliações descontadas e o esperado ciclo de afrouxamento do banco central. Desde então, o índice acionário brasileiro, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, a B3, subiu 5%, ampliando os ganhos no ano para 19% e alcançando máximas históricas.
Os estrangeiros, em particular, gastaram R$ 1,2 bilhão (US$ 226 milhões) comprando ações no Brasil em agosto, enquanto os investidores locais retiraram esse mesmo valor. Esse foi o sexto mês deste ano, até agora, em que eles aplicaram recursos líquidos no Brasil, em comparação com apenas três meses de entradas maiores que saídas em 2024.
Embora essa tendência tenha se invertido nos últimos dias, Patah afirmou que o fato de o Ibovespa estar batendo recordes geralmente leva a alguma realização de lucros. As expectativas de afrouxamento monetário, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, também estão ajudando a impulsionar os ativos de mercados emergentes.
Pode faltar mais de um ano para os brasileiros irem às urnas, mas os investidores não querem perder a chance de uma oportunidade que pode se desenrolar como a da Argentina.
A 18 meses antes da eleição, operadores apostavam que os argentinos deixariam de lado candidatos peronistas de esquerda em favor de alguém mais amigável ao mercado. Isso aconteceu antes mesmo de o atual presidente Javier Milei ser um sério concorrente na disputa.
O índice Merval, principal índice acionário do país, registrou uma disparada de 142% em 2022, e o rali se intensificou durante o ano eleitoral, com um ganho impressionante de 360% em 2023.
Assim, operadores movidos pelo FoMO (“Fear of Missing Out”) – expressão que significa o medo de estar perdendo uma oportunidade – estão observando de perto à medida que o Brasil entra em seu próprio ciclo eleitoral.
Pesquisas recentes mostrando a queda da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviram como impulso para os ativos, enquanto as expectativas de que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, possa entrar na disputa funcionaram como gatilho positivo para os mercados.
“As pessoas estão procurando a próxima Argentina. Se tanto a política quanto a política monetária avançarem na direção certa, poderemos ver um rali único na vida no Brasil”, disse Malcolm Dorson, gestor sênior de portfólio da Global X Management. “Mas esses ainda são dois grandes ‘se’.”
Embora Lula tenha ganhado fôlego com a ameaça de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump, uma pesquisa recente da AtlasIntel, publicada em 28 de agosto, mostrou sua aprovação caindo para 48%, dois pontos abaixo de julho. O levantamento também mostrou Lula atrás de Freitas por 48,4% a 46,6% em um eventual segundo turno.
Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro – líder do movimento de direita no Brasil – foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal na última quinta-feira por tentativa de golpe em 2022. Seu clã político foi lançado ao caos e ele não tem um sucessor definido. Freitas, até agora, tem insistido que não será candidato.
“É impossível dizer que já há algo definido sobre as eleições, porque todos sabem que será uma disputa muito acirrada e que ainda falta muito tempo”, disse Patah.
Mas as oscilações recentes na popularidade de Lula “criaram uma certa ansiedade no mercado”, acrescentou o estrategista de investimentos para o Brasil do UBS. As informações são da agência de notícias Bloomberg.