Segunda-feira, 14 de Outubro de 2024
Por Redação Rádio Pampa | 14 de outubro de 2023
Estudantes do ensino médio que frequentam escolas de tempo integral (com jornada média de sete horas por dia) tendem a abandonar menos as aulas. A taxa de evasão escolar desse grupo é 32% menor na comparação com as instituições do ensino médio regular, que desde 2022 aumentaram de quatro para cinco horas a jornada diária.
Além disso, a taxa de aprovação dos alunos é 7% maior no modelo integral, mostra levantamento do Instituto Sonho Grande, com base nos dados mais recentes do Censo Escolar divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep).
Conforme a diretora-executiva do Instituto Sonho Grande, Ana Paula Pereira, o dado reflete a característica mais vocacional das escolas que oferecem o ensino médio integral. Ao ter mais tempo com os alunos, os professores conseguem ajudá-los melhor a entender o que querem para o futuro e o que precisam fazer para conectar os ensinamentos com seus objetivos.
“Muito do que tem se discutido sobre as causas do abandono escolar no ensino médio gira em torno de desinteresse dos estudantes, que já são jovens quase adultos. Eles já têm outras vontades e alguns saem para trabalhar porque acham que a escola não oferece o tipo de formação que estão precisando”, explica Pereira.
Ele acrescenta: “E o ensino médio integral tem como base o projeto de vida do estudante. Ajuda a refletir sobre quem ela ou ele é, quais são os interesses e suas características fortes e, a partir disso, incentiva a reflexão sobre o que fará no futuro. E conecta o conhecimento da escola com o projeto de vida deles.”
De acordo com a diretora do Instituto Sonho Grande, essa característica, que envolve as disciplinas eletivas, nas quais os alunos escolhem itinerários de ensino dentro do novo ensino médio de acordo com os seus interesses, contribui para essa evasão escolar mais baixa em comparação às escolas que lecionam no modelo regular:
“Aprofundam os interesses e dão suporte para que entendam melhor que o que estão estudando em linguagem, matemática ou biologia ajudará a buscar o que querem no futuro. Daí a escola é mais atrativa e faz mais sentido”.
Pereira acredita que a consulta aberta pelo Ministério da Educação para uma possível revisão da reforma do ensino médio terminará apenas com retoques a fim de melhorar o modelo, embora reconheça que o resultado ainda é imprevisível.
O MEC já apresentou uma proposta com mudanças, mas o assunto ainda está sob avaliação de especialistas antes de ser submetido ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e definitivamente ao Congresso para que a reforma do ensino médio seja aprovada por lei, e não decreto como foi em 2017.
Plano de fortalecimento
Mesmo que esse contexto mais amplo ainda esteja em debate, os sinais dados pela gestão atual do MEC, comandado pelo ministro Camilo Santana, indicam que o fortalecimento do ensino médio integral faz parte do plano.
Em julho, o governo federal aprovou lei que cria o programa Escola em Tempo Integral, cujo objetivo é investir R$ 4 bilhões para ampliar o número de matrículas de tempo integral. Até 2026, a proposta é que Estados, municípios e o Distrito Federal alcancem 3,2 milhões de matrículas em toda a educação básica (ensino infantil, fundamental e médio).
O ensino médio é o período da formação escolar no qual o modelo integral mais tem acelerado – subiu de 10,5% do total de matrículas para 20,4% nos últimos cinco anos, segundo o Censo Escolar de 2022. No ensino fundamental, a taxa está estacionada em 14,4%. A meta do MEC é elevar a proporção de matrículas em escolas integrais para 25% até o ano que vem.
Os dados atuais dos Estados indicam que alguns governos, como Paraíba, Pernambuco e Ceará, estão mais determinados a expandir o modelo no ensino médio, enquanto outros como Paraná, Rio Grande do Sul e Pará, além do Distrito Federal, ainda engatinham. A diretora do Instituto Sonho Grande pondera:
“É interessante porque costumam nos perguntar como se chamam as escolas integrais fora do Brasil e elas apenas são chamadas de escola. Só no Brasil que estudamos meio período. Não temos uma base de dados robusta que mostre quantas horas os estudantes passam na escola em outros países, pois cada um compõe as formações de maneira diferente. Mas, anedoticamente, sabemos que, no exterior, é muito mais comum estudantes ficarem na escola do início da manhã até o meio da tarde, e não como ainda fazemos aqui na grande maioria das instituições”.
No Ar: Pampa Na Tarde