Domingo, 23 de Novembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 25 de junho de 2023
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpria compromissos na Itália quando telefonou para o Brasil em busca de informações sobre a sabatina no Senado de Cristiano Zanin, seu indicado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Do outro lado do Oceano Atlântico, ouviu do senador Davi Alcolumbre (União-AP) que não havia motivos para se preocupar. Como presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o parlamentar conduziu uma aprovação célere e sem sobressaltos ao advogado de Lula naquele mesmo dia.
A boa vontade, contudo, tem um custo alto para Lula, na avaliação de aliados do Palácio do Planalto. A relação com o senador tem sido marcada por altos e baixos, com cobranças do parlamentar por uma maior influência em decisões do governo. Entre elas, a escolha para a próxima vaga que será aberta no Supremo em outubro, com a aposentadoria da ministra Rosa Weber.
Senadores governistas veem interesse de Alcolumbre em emplacar o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na Corte. Além disso, pressiona o Palácio do Planalto para que viabilize a exploração de petróleo na foz do Amazonas, próxima ao litoral do Amapá, seu estado.
No caso da vaga no Supremo, o cálculo político de Alcolumbre em trabalhar pelo nome de Pacheco, segundo aliados, passa pelo desejo de voltar a comandar o Senado. Pelo regimento da Casa, em caso de vacância no cargo de presidente até seis meses antes do fim do mandato, uma nova eleição interna deve ser convocada. Assim, o senador poderia concorrer e, na avaliação de parlamentares, seria um dos favoritos na disputa.
Influência
O senador do União foi o responsável por fazer de Pacheco seu sucessor na presidência da Casa Legislativa e um dos principais articuladores da sua reeleição, no início do ano. Alcolumbre costuma enaltecer em conversas reservadas a influência que tem sobre o aliado, a quem diz aconselhar com frequência.
A influência sobre Pacheco e em parte dos senadores é citada por interlocutores de Alcolumbre como seu trunfo nas negociações com o governo. Nos bastidores, o parlamentar costuma se gabar que controla ao menos 30 votos no Senado. Além disso, preside a CCJ, a comissão mais importante da Casa, com o poder de acelerar ou atrasar a tramitação de propostas de interesse do Palácio do Planalto. O recado que costuma repetir é o de que Lula precisa mais dele do que ele de Lula.
Foi assim que conseguiu emplacar o ex-governador do Amapá Waldez Góes como ministro da Integração Nacional, uma das pastas mais cobiçadas pelo Centrão, em uma vaga que seria destinada ao União. As negociações, feitas diretamente com Lula, incomodaram a bancada do partido na Câmara, que agora cobra revisão na distribuição dos ministérios da sigla.
Críticos de Alcolumbre, por sua vez, dizem que o parlamentar vende ao governo uma influência maior que tem e que ele não consegue sequer segurar senadores no União. Desde o início do ano, o partido perdeu Rodrigo Cunha (AL), para o Podemos, e Chico Rodrigues (RR), para o PSB. Citam ainda que o senador não tem controle sobre a sigla, que apesar de possuir três ministérios, não entrega votos ao governo na Câmara.
Perspectivas
Três episódios recentes, contudo, mostram o potencial de dor cabeça que Alcolumbre pode dar ao Planalto. Um deles foi o apoio ao nome de Arthur Maia (União-BA), deputado próximo do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e não alinhado ao governo, comandasse a CPI dos Ataques Extremistas.
Outro, também relacionado à CPI, é que Alcolumbre se ausentou das primeiras sessões, abrindo margem para o senador Sergio Moro (União-PR), que é suplente, votar contra o governo. Em outra situação, Alcolumbre presidiu a comissão mista da MP dos Ministérios, impondo derrotas a Lula ao esvaziar funções de pastas como Meio Ambiente e da Casa Civil.
O esvaziamento do ministério de Marina Silva foi visto como retaliação à oposição da ministra na exploração de petróleo na foz do Amazonas. Alcolumbre chegou a afirmar que a decisão do Ibama em vetar os estudos na região era “desrespeito ao povo amapaense”. Um novo embate entre eles acontecerá nos próximos meses, quando o governo terá que decidir sobre a renovação da licença de Belo Monte. A construção da hidrelétrica, no governo anterior de Lula, motivou o pedido de demissão da ministra em sua primeira passagem pela pasta.