Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2025
Por Redação Rádio Pampa | 16 de dezembro de 2025
A Farsul apresentou o balanço do setor agropecuário de 2025 e as projeções para 2026, em uma coletiva marcada por diagnósticos firmes e pela defesa de mudanças estruturais no ambiente econômico do país. O encontro, que também marcou a despedida de Gedeão Pereira da presidência da entidade, reforçou a percepção de que o Rio Grande do Sul atravessa uma das fases mais desafiadoras de sua história recente.
Os dados apresentados mostram que o produtor gaúcho enfrenta simultaneamente os efeitos de uma estiagem prolongada, o aumento do endividamento e a perda de competitividade. As perdas climáticas acumuladas entre 2020 e 2025 foram estimadas em R$ 126,3 bilhões, refletindo diretamente na renda das famílias e na circulação de riqueza no Estado.
Transição histórica e alerta político
Ao abrir a coletiva, Gedeão Pereira destacou que, pela primeira vez em 29 anos, haverá transmissão formal do cargo na Farsul. Ele encerra o mandato no fim de dezembro e assume, no plano nacional, a vice-presidência da CNA — o mais alto posto já alcançado por um gaúcho na confederação.
Para Gedeão, 2026 será um ano decisivo para o agronegócio, especialmente por causa das eleições. Ele afirmou que o país vive um momento de indefinição econômica e política, com sinais de desaceleração e risco fiscal. Segundo o dirigente, a instabilidade jurídica e o desequilíbrio das contas públicas têm dificultado a retomada do crescimento.
O presidente também reforçou o impacto da crise climática no Estado. Nos últimos cinco anos, o Rio Grande do Sul deixou de colher 48,6 milhões de toneladas de grãos, o que reduziu drasticamente a circulação de recursos na economia gaúcha. “Quando a agricultura falha, a riqueza deixa de circular entre todo nosso povo”, afirmou.
Nova gestão e aproximação com o público urbano
O presidente eleito, Domingos Velho Lopes, que assume em janeiro de 2026, afirmou que sua gestão manterá o rigor técnico da Farsul, mas ampliará o diálogo com a sociedade. Ele destacou que o Brasil é o maior exportador líquido de alimentos do mundo e que essa informação precisa ser melhor comunicada ao público urbano, muitas vezes distante da realidade do campo.
Domingos defende que o setor precisa reposicionar sua imagem, reforçando a importância econômica, social e ambiental da produção rural.
Balanço econômico: cinco safras de perdas e risco de desaceleração
O economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, apresentou um diagnóstico contundente: o Rio Grande do Sul chega à quinta safra consecutiva com perdas. A estimativa é de queda de 6% na produção de grãos em relação a 2024, que já havia sido um ano ruim.
Da Luz também destacou que, nos últimos 20 anos, o Brasil perdeu 24% de crescimento do PIB quando comparado a outros países. Para ele, o país se encaminha para uma desaceleração mais forte em 2026 caso não haja mudanças no modelo de investimento e no equilíbrio fiscal.
No cenário estadual, o economista lembrou que o Rio Grande do Sul ocupa a 26ª posição no ranking nacional de crescimento desde 2019, acumulando perda de 11 pontos percentuais em relação à média brasileira. A estiagem, segundo ele, não é apenas um problema do produtor, mas um fenômeno que afeta a economia e até a demografia. Entre 2010 e 2022, o RS cresceu apenas 1,8% em população, enquanto Santa Catarina avançou 22% e o Paraná, 9,6%.
Endividamento persistente e risco estrutural
Da Luz foi categórico ao afirmar que o endividamento do produtor rural continuará mesmo com uma eventual boa safra. A combinação de juros altos, inflação e desequilíbrio fiscal tem reduzido a capacidade de investimento e pressionado o campo. “Nosso Estado está ficando para trás — e isso traz consequências para toda a população, não só para o produtor”, afirmou.
Setor resiliente diante de um cenário adverso
A coletiva reforçou um diagnóstico claro: o agro gaúcho enfrenta uma crise profunda, marcada por perdas climáticas, endividamento crescente e estagnação econômica. Ao mesmo tempo, a transição de comando na Farsul e o foco em comunicação e articulação política indicam que o setor se prepara para um 2026 de disputas, decisões estratégicas e necessidade de reconstrução. (por Gisele Flores)