Sábado, 15 de Novembro de 2025

Home Educação Feira do Livro do Sistema Prisional é uma ponte para a liberdade

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A literatura voltou a atravessar os muros das penitenciárias gaúchas com a realização da 5ª Feira do Livro do Sistema Prisional: Diálogos para a Liberdade, evento transmitido on-line e acompanhado por apenados de 53 unidades prisionais em todas as regiões do Rio Grande do Sul. A iniciativa, organizada pela Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), pela Polícia Penal e pela Câmara Rio-Grandense do Livro, ocorreu em paralelo à 71ª Feira do Livro de Porto Alegre, reforçando que a cultura e a educação também são instrumentos de ressocialização.

Em 2024, a ação havia alcançado 42 estabelecimentos prisionais. Neste ano, o número cresceu para 53, demonstrando a expansão e a relevância da proposta. O convidado especial foi o escritor, poeta e educador Bruno Negrão, pioneiro do slam (batalha de poesia falada) no Estado. Negrão compartilhou suas experiências e destacou como a arte pode questionar estruturas sociais e dar voz a grupos marginalizados. “Eu acredito mais no livro do que na grade: a grade limita, o livro transforma”, afirmou.

Cultura como ferramenta de ressocialização

A abertura contou com a presença do secretário de Sistemas Penal e Socioeducativo, Jorge Pozzobom, das diretoras Bruna Caldasso Becker (Políticas Penais) e Rita Leonardi (Tratamento Penal), além do presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, Maximiliano Ledur. Em sua fala, Pozzobom ressaltou que a leitura é essencial para que pessoas privadas de liberdade retornem ao convívio social com dignidade. “Uma ressocialização efetiva depende das oportunidades oferecidas dentro dos muros. Cultura, educação e capacitação profissional são pilares dessa transformação”, disse.

Já Rita Leonardi destacou que muitos apenados já participam do programa de remição pela leitura, que permite a redução da pena mediante a leitura de livros e produção de resenhas. A feira, segundo ela, complementa esse processo, ampliando horizontes e incentivando novos hábitos.

Histórias de transformação

Os relatos dos próprios apenados reforçam o impacto da iniciativa. Na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas (PMEC), Carlos contou que encontrou na leitura um caminho para resgatar sua essência. “Vivi o crime, estou preso, mas gosto muito de ler. Estava perdendo a essência e a leitura me resgatou. O projeto da remição pela leitura me abriu portas dentro da prisão. Agora estou trabalhando aqui e tudo partiu dos livros”, relatou.

Na Penitenciária Modulada Estadual de Uruguaiana (PMEU), Sandro revelou que não tinha o hábito de ler antes da prisão, mas que o incentivo recebido mudou sua perspectiva. “Um dos livros mais importantes para mim foi Se Jesus fosse preto, porque fala de raça e gênero. A leitura me fez refletir sobre minha própria história”, disse.

Esses depoimentos mostram que a literatura não apenas ocupa o tempo dentro dos presídios, mas também abre espaço para reflexão, autoconhecimento e reconstrução de trajetórias.

A importância da programação paralela

Ao integrar-se à programação da Feira do Livro de Porto Alegre, o evento reafirma que a cultura não deve ser restrita a espaços tradicionais. A transmissão on-line permite que centenas de apenados participem de debates e palestras, aproximando-os de escritores e intelectuais. Essa conexão simboliza que o acesso à leitura é um direito universal e que a educação pode ser um caminho para reduzir desigualdades e promover cidadania.

Além disso, iniciativas como a Feira do Livro do Sistema Prisional fortalecem políticas públicas voltadas à reintegração social. Ao estimular o hábito da leitura, o Estado contribui para diminuir índices de reincidência criminal e ampliar oportunidades de reinserção no mercado de trabalho.

Literatura como ponte para o futuro

O impacto da feira vai além do momento da transmissão. Ao incentivar a leitura, cria-se um ciclo virtuoso: apenados que descobrem o prazer de ler tornam-se multiplicadores dentro das unidades, influenciando colegas e fortalecendo projetos educativos. A literatura, nesse contexto, funciona como ponte entre o passado e o futuro, entre a privação de liberdade e a possibilidade de reconstrução.

Com a Feira do Livro do Sistema Prisional, o Rio Grande do Sul reafirma que cultura e educação são ferramentas poderosas de transformação. Dentro dos muros, os livros se tornam chaves que abrem portas para novas perspectivas, mostrando que a liberdade pode começar nas páginas de uma obra. (por Gisele Flores)

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